segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PROVISÃO DE DEUS QUANDO TUDO PARECE IMPOSSÍVEL

Texto Bíblico: 1 Reis 17.1-24

INTRODUÇÃO

• A instabilidade que mexe com a estrutura brasileira se dá pela falta de uma performance estruturada na Palavra de Deus. Não só no Brasil, mas todo o contexto mundial está sob tensão.

• As atenções estão voltadas para a Economia; para as bolsas de todo o mundo; para os gastos públicos; para a desvalorização da moeda.

• Um certo candidato à presidência da república afirmou que a melhora se dará mediante a reforma tributária. Mas, até que ponto isso é verdadeiro? Basta observar os diversos planos seguidos de decadência.

• A nossa atenção neste momento deve estar voltada para o ensino da Sagrada Escritura, que tem o melhor parâmetro para a vida humana.

EXPLICAÇÃO DO TEXTO

• A narrativa bíblica veterotestamentária focaliza o povo de Israel sob uma aguda crise. Uma seca, ausência de chuva sobre a terra. O País estava dividido em todos os aspectos. Está escrito: “...nem orvalho nem chuva haverá nestes anos...”

• O temor a Deus fora substituído, dando-se lugar à idolatria. O povo estava corrompido. Este é o maior problema do homem. O próprio Rei de Israel, Acabe, reinou sobre Israel vinte e dois anos. Fez o que era mal perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele (1 Reis 16.29-31). Serviu a Baal e o adorou. Assim, corrompeu o povo.

• As guerras eram constantes pela ânsia do poder político. Os reis só pensavam no auto benefício, por isso, havia uma série de carnificinas. Havia conspiração e muita confusão.

• As pessoas não buscavam o auxílio do Deus vivo e verdadeiro. No período do reinado de Acabe, o Senhor falou por meio do profeta Elias, sobre a grande seca. Deus não podia estar alegre face à dureza de coração existente (1Reis 16.20-33).

• Naquele contexto o Senhor envia o profeta a um lugar chamado Sarepta, e ordena a uma mulher viúva que o sustente. Isto significa que o Senhor, em meio à dificuldade, exerce a sua proteção e providencia o sustento dos que o temem.

• Deus realiza o milagre. Deus devolve a vida. Usando o profeta como instrumento, faz reviver o filho da viúva. Tudo isso, para mostrar a sua misericórdia. Assim, se pode observar que, diante das adversidades não estamos sozinhos; que a providência do Senhor não falha, ainda que sejamos duros para entender o amor divino. O Senhor age por amor do seu nome.

Como entender que Deus é o Senhor da providência nos momentos mais adversos da existência humana?

1 – QUANDO AS DIFICULDADES SE TORNAM IMPOSSIBILIDADES, O SENHOR PROVIDENCIA O SUSTENTO

A) “...Nenhum bem sonega aos que andam retamente...” (Salmo 84.11; 1 Reis 17.14);

B) Tudo aquilo que obstaculiza a vida nada significa, diante da bondade e da misericórdia do Senhor (Salmo 115.12-15);

C) As pessoas que estão preocupadas, por causa dos seus muitos problemas, devem agir sempre, confiando no Senhor (Salmo 37.5);

D) Assim diz o Senhor: “A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará...” (1 Reis 17.14).


2 – QUANDO O MEDO DESPONTA PARA AMORTECER A VIDA, O SENHOR DÁ A CORAGEM

A) Deus disse a Josué: “Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes” (Josué 1.9);

B) A coragem que Deus dá implica na vitória em todas as áreas da existência, porque o Senhor age de forma integral. Deus não abençoa pela metade. A sua bênção é completa e definitiva;

C) Precisamos tomar posse da coragem que Deus nos dá (v.13);

D) O amor de Deus lança fora o medo (1 João 4.18). Assim, somos aperfeiçoados no amor de Deus.


3 – QUANDO OS RECURSOS HUMANOS FALHAM, O SENHOR OPERA O MILAGRE

A) O conceito de milagre hoje é somente através do serviço profissional. As pessoas vivem sempre em dois extremos: o misticismo ou o racionalismo. Vivem doentes;

B) Mas, quando os profissionais falham, querendo o Senhor, a vida volta a existir; a água volta a jorrar; o deserto a verdejar...

C) O Filho da viúva reviveu (1 Reis 17.21-23). O Senhor é o Deus da vida e não da morte. Jesus morreu, mas ressuscitou;

D) A Palavra de Deus na boca do profeta era a verdade pura, verdadeira (1 Reis 17.24). Deus não pode mentir ou contradizer-se. Ele opera maravilhas no meio de seu povo.

CONCLUSÃO

Rev. Nelson Célio de Mesquita Rocha

sábado, 14 de agosto de 2010

Apologética Cristã, por Nelson Célio de Mesquita Rocha - AGBOOK

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CRISTOLOGIA, por Nelson Célio de Mesquita Rocha - AGBOOK

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O abraço divino, por Nelson Célio de Mesquita Rocha - AGBOOK

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A MISSÃO DA IGREJA É A MISSÃO DE JESUS


A Igreja não pode deixar de compreender que, se ela não encarnar na história a prática de Jesus contida nos evangelhos, não passará simplesmente de uma mera instituição na face da terra.
Como se desenvolve essa missão? Onde se podem obter informações básicas acerca daquilo que o próprio Deus estabeleceu quando declarou ser o Seu povo a Sua propriedade peculiar?
Temos que recorrer às Escrituras, do Antigo Testamento e do Novo Testamento, onde está a base para se compreender o povo de Deus e a sua missão. Vejamos os pontos a seguir, os quais servirão para nortear essa argumentação, no que concerne à grande responsabilidade dada pelo Senhor:
1. Consciência acerca da missão no Evangelho, conforme Lucas 4.14-21. O próprio Jesus agia no poder do Espírito Santo, consciente da sua missão que o Pai lhe confiara. Ele foi ungido pelo Espírito Santo. Recebeu o batismo de João Batista, que tem um significado profundo, e que também significa o batismo da pessoa cristã: o compromisso com a causa do Reino de Deus. Verifica-se também a vocação dos apóstolos (Lucas 6.12-15). Eles foram capacitados pelo próprio Jesus para a missão tão nobre na face da terra, formando a Igreja. A e assim temos também a vida da Igreja, que é o povo separado por Deus para ser uma bênção (Lucas 10.1-12).
2. A missão da Igreja e os dons espirituais, segundo 1a  Coríntios 12.12-31a). A vida orgânica da Igreja está intrinsecamente relacionada aos dons espirituais outorgados para o crescimento do corpo de Cristo, constituído de todas as pessoas salvas pelo Senhor Jesus Cristo. Todos os membros têm as suas funções, pois estão ligados à cabeça, que é o próprio Cristo. Esse corpo não é uniforme, mas congrega em si uma unidade na diversidade.
3. Missão que proclama a Palavra vida de Deus, de acordo com o Salmo 19. A experIência da Palavra de Deus proclamada e vivida pela Igreja é a evidência da ação do Espírito, que a faz cumprir sua missão. A Palavra tem uma relação profunda com a Missão. Não há missão sem a proclamação da mensagem de boa nova de justiça e paz para todas as pessoas. A Palavra tem relação com a Igreja. A Igreja tem de ser obediente à Palavra. O Espírito de Deus age por meio da Palavra, que chega aos corações para torná-los conformados com os valores do Reino de Deus, através da conversão para uma nova vida segundo o Espírito. Essa vida nova tem duas janelas: uma para Deus e outra para a realidade que a cerca.
Que sejamos mensageiros da Palavra que transforma vidas. Cada um com o seu dom, e juntos na missão, construiremos uma nova sociedade.

Nelson Célio de Mesquita Rocha

Teologia e Alteridade

Cursos e Conferências Teológicas - Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha
21-9188-2282
E-mail: prof.nelsoncelio@oi.com.br

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Fórum de Teologia - Problemas Cristológicos

Fórum Teológico - Questões de Cristologia
Local: Igreja Presbiteriana do Jardim das Oliveiras - Piabetá. Rua Garany, 593.
Dara; 21 de agosto de 2010, às 09h00.

Dr. Nelson Célio de Mesquita Rocha

1. Por que uma Cristologia?

Por que uma Cristologia? Uma Cristologia é necessária, porque pode apresentar a pessoa e a obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez carne e habitou entre os homens e as mulheres, a fim de ensiná-los a fazer a vontade do Pai. Toda a base da Teologia está fundamentada na Cristologia, pois se não houver uma boa Cristologia, não poderá haver uma boa Teologia.

Um mundo plurireligioso e uma modernidade em crise
Na presente exposição consta uma visão panorâmica da atual situação em que se encontra o nosso mundo, que é um mundo plurireligioso, com uma experiência de modernidade em crise com suas diversas propostas e paradigmas.
A experiência da humanidade está marcada pela tensão que flui da correria exacerbada por um sentido que possa garantir vida através do ter em detrimento do ser. A crise tem a sua base na estrutura que implicou numa preocupação pelo que a pessoa tem, esquecendo-se do mais importante, que é o que se deve ser de fato, pessoa, gente, ser humano. Parece que ser humano hoje não tem mais sentido. Pessoas só se aproximam de outras interessadas no que se tem como posse material de suprema importância. O que se tem, ou o que se poderá ter virou objeto de idolatria, a ponto de haver um atropelamento, um passar por cima de todos os valores verdadeiramente considerados humanos do ponto de vista que a Palavra de Deus aponta. Parece que a felicidade está bem distante de todos nós; parece que não há mais saída. O que é certo se torna errado, e o que é errado torna-se certo. É uma sociedade invertida. Dizem os céticos: não tem mais jeito.
Os valores que estruturam a vida humana estão marcados pela exaltação do fator econômico, pela busca de bem-estar, pelo anseio de sucesso a todo custo, pelo culto à privacidade e a dedicação à família. Nesse contexto, parece que a Igreja não encontra meios para pregar e viver a sua mensagem fundamentada no Evangelho. Se a Igreja está presente no mundo, por que tantas evidências negativas? Não é ela a comunicadora da mensagem de Deus aos povos? Algumas questões são fundamentais: o viver numa sociedade pluralista e secularizada, o sentir o influxo do individualismo, o exótico fenômeno da volta ao sagrado e o ser rodeado por uma diversidade de religiões oferecendo a sua salvação.
Um mundo plural. Em tudo se constata uma pluralidade. Há pluralidade nos partidos políticos, nas ideologias, nas diversas estruturas da família, na economia, na justiça, na religião... A globalização motivada pelo poder econômico (um deus) veio influenciar todos os segmentos da existência humana a ponto de tudo o que se faz torna-se dependente desse poder. O impacto atinge todas as classes sociais, e chega em níveis dramáticos. Essa nova realidade veio para ficar e se impor, pois não se pode mais excluir os que têm correntes ideológicas diferentes dos cristãos.
No campo religioso, todos os países estão experimentando esse impacto. No Brasil, por exemplo, nesses últimos tempos têm surgido muitas seitas novas, bem como grupos denominados cristãos, e assim, parece haver uma dificuldade para a pregação evangélica. O Brasil possui em seu bojo o cruzamento de três tradições: a européia, a africana e a indígena; formando, portanto, o Brasil de hoje, sobretudo o Brasil católico e protestante histórico. Daí a pluralidade que decorre também dessas tradições.
Essa pluralidade geral traz consequências que traçam um perfil de individualidade, a ponto de cada pessoa formar os seus conceitos acerca do mundo e de Deus, respectivamente. Cada um tem o seu modo de vida, e também a sua salvação. Agindo-se desta maneira, concomitantemente, constrói-se um modo autônomo e individual, determinado por uma forma de existir, estabilizando-se a maneira de não haver uma preocupação com outras visões de outras pessoas ou grupos. Não só através dos meios de comunicação, mas também há religiões que promovem o individualismo, onde cada uma tem seus projetos de salvação pelo “segure-se quem puder”.
Portanto, numa sociedade pluralista cabe ao indivíduo construir, diante daquilo que lhe é oferecido, a sua própria identidade social. Constrói-se uma personalidade deformada e desprovida de firmeza. Pessoas por não terem uma boa estrutura, ficam titubeantes em todos os ângulos da existência, sem saber onde encontrar refúgio. Formam-se várias personalidades: opressores, oprimidos, viciados, dependentes de diversos meios, assassinos, pornográficos, pornofônicos, promíscuos, prepotentes, impotentes... É o produto da confusão reinante e que parece não ter mais fim. Um mundo plural e uma modernidade em crise.
Uma modernidade em crise. A modernidade tem em si características principais como, por exemplo, pensar não mais mítica, mas historicamente; regendo-se não mais pelos parâmetros religiosos, mas por uma nova visão que não conhece absolutos. Nesse contexto o cristianismo não aparece mais como o que possui a única palavra salvífica. O conceito de eternidade não tem mais o seu lugar, e o tempo vivido é apenas restrito ao que é em si, e desprovido de esperança por um mundo melhor. Quando se fala em mundo melhor, por meio da mídia, geralmente sai da boca de pessoas que têm compromissos somente consigo mesmas, seja em nível político ou religioso. Dá a impressão de não existir mais aquela esperança militante que ensina a Bíblia.
O homem moderno caminha para frente confiando apenas nas suas energias, quer dominar o mundo com as suas idéias pela ciência e pela técnica. É o homem querendo se afirmar como Deus, como ser supremo, no qual acredita ser ele. Com isso, vai se esquecendo de cuidar do semelhante e da criação; esquece de ser dom de Deus; da responsabilidade que lhe confiou o Criador: cuidado em relação à criação. Com isso vai se tornando um solitário. Isso é visivelmente demonstrado pela vida dos condomínios fechados, onde se experimenta a prisão, o encastelamento. Basta verificar quantas pessoas vivem em seus apartamentos, longe de tudo e de todos. As fobias tomam conta do indivíduo. Enquanto isso, o medo vai imperando, e ninguém sai mais de casa a qualquer hora do dia ou da noite por causa da violência criada pelo próprio homem em sua ganância. Os grupos humanos encontram-se acorrentados e escravizados ao mais prepotente e terrível opressor: eles mesmos.
Diante de tanto progresso o ser humano não encontra resposta para as questões mais cruciais de sua existência. Percebem-se tantas religiões e grupos que levantam algumas bandeiras, mas sem sucesso. Há até uma certa percepção que acentua uma vida espiritual tentando se afirmar por alguns pressupostos, mas ao mesmo tempo em que o homem é extremamente religioso é também materialista, pois se observam hoje os propósitos religiosos-individualistas: o homem quer o seu bem próprio, esquecendo-se do seu semelhante. “Salve-se quem puder!”
O que fazer diante de tanta negatividade? Que resposta tem o cristianismo, a Igreja para as questões que preocupam o homem moderno? Esse campo plural e diversificado apresenta grandes desafios à proposta do cristianismo, que tenta mostrar os contornos do rosto de Deus que lhes foram revelados ao longo da história e da experiência de sua tradição.

Implicações do evento Cristo
O Evento Cristo, conforme nos garantem os relatos evangélicos nos possibilitam ter um perfil que produz uma nova sensibilidade, uma percepção verdadeira do que se entende a respeito de Deus, do ser humano e da salvação. Esse evento, em sua origem, apresenta o perfil para o resgate da verdadeira maneira de existir na história, ainda que transtornada pelo pecado, sinônimo do afastamento de Deus e do próximo.

O evento Cristo nos possibilita ter de forma marcante:

1. Uma verdadeira concepção de Deus (Teologia)
O que as pessoas venham a pensar de modo correto acerca de Deus se constitui um desafio para que a Teologia se posicione, não somente por um ângulo de transcendência, mas pelo de se incumbir e de formar uma consciência de práxis histórica. A Teologia no que concerne à sua própria definição tem a pretensão de ser palavra organizada, reflexão sobre Deus, que se constitui a questão fundamental da fé e da própria existência humana.
Não se pode olvidar que o centro do fenômeno religioso em todas as religiões é Deus. Deus faz parte das tradições religiosas de todo o mundo, ainda que a modernidade tenha tentado aniquilar todo o horizonte de compreensão acerca da divindade. O espaço da existência humana por muito tempo foi preenchido e marcado pela concepção que levou a uma crise, e que jogou para longe o conceito de Deus. Daí, a pós-modernidade caminha sob vários pontos cambaleantes, que tentam desestruturar o que sobre Deus verdadeiramente se pode pensar e experimentar na trajetória da existência humana.
Os tempos pós-modernos no fundo, preconizam a desaparição mesma de Deus e de qualquer rastro de sua existência. Passou-se a viver numa estrutura fragmentada por ideologias e práticas desprovidas de segurança que não são evocadas pela Palavra de Deus. Ao mesmo tempo em que o homem tenta se afirmar como um ser religioso, buscando parâmetros para a sua vida pelo exercício de uma fé em Deus, se mistura no emaranhado de ideologias, chegando também a certas conclusões providas de ambiguidades.
Conceber o que se deve pensar sobre Deus não pode partir de premissas elaboradas simplesmente pela imaginação humana desapercebida de uma teologia que viabilize pensar na história e não acima dela. O que se pode denominar de uma boa teologia é a que não está aquém do processo histórico, mas em seu conteúdo inserida, tomando parte em todos os acontecimentos que se sucedem.
O Evento Cristo, verdadeiramente se constitui a premissa mais forte para essa concepção. A divindade de Cristo e sua existência encontram base na ressurreição, logo, a fé na ressurreição de Jesus, desde que foi proclamada no dia de Pentecostes e depois deste, não vai simplesmente garantir consistência no que se crer dele, mas crer nele e esperar algo dele. O que se pode esperar é a salvação. A fé na ressurreição de Jesus é fundamental para a existência da comunidade de fé. Jesus, segundo os relatos evangélicos, vai delinear tudo o que se pode refletir para se conceber acerca de Deus; destarte, tudo o que se crê de Jesus é depositado na fé.
Jesus, através dos relatos do Novo Testamento, principalmente nos evangelhos, revela quem é de fato Deus. Deus é um Deus de amor, de pura misericórdia, não distante das pessoas, mas penetrando na existência humana a ponto de permitir que o seu próprio Filho se entregasse por nós. Segundo as Escrituras Jesus morreu pelos nossos pecados. Esse acontecimento é revelador da novidade de Deus, de seu ser trinitário. Jesus foi vítima de expiação pelos nossos pecados. O que significa essa afirmação? Tem o seu significado no sentido de que Deus não quis que seu Filho morresse, não existiu nenhum propósito predeterminado a fim de que Jesus viesse ao mundo para morrer, mas foi a sua fidelidade ao Pai, a compreensão que passou a ter do que constava nas Escrituras, à semelhança dos profetas, entendeu que tinha de ir às últimas consequências no sentido garantir a nossa salvação. Jesus é o Deus que veio para servir. Deus é um Deus de serviço, porque ama profundamente e se interessa por suas criaturas, e deseja ensinar isso a elas, ainda que sejam rebeldes para com as benesses do Criador.
Apesar de toda a rebeldia do povo, conforme se entende esse perfil no Antigo Testamento e repetindo-se também na história posterior, Deus executa a sua paciência e amor. As vias da salvação implicam uma certa intuição de Deus, conforme a que se encontra nos profetas: Deus é tardio na sua cólera e cheio de misericórdia, é Deus de paciência e amor. Diante disso, constata-se que a morte de Jesus tem uma intenção salvífica, e Deus se vinga ressuscitando a Jesus dentre os mortos em benefício de todos. Logo, Jesus em sua trajetória dava a seus sofrimentos um sentido salvífico; sua morte convertida em ressurreição é obra do Deus de amor, que não contemplou a miséria humana desinteressadamente, antes exercitou o seu amor de modo integral.
Utiliza-se a palavra resgate no Novo Testamento não em outro sentido, senão no que tange ao se fazer servo da classe social mais baixa. Jesus não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Isso significa que ele veio dar a sua vida. Não através da expiação, mas de serviço à humanidade. Este pensamento teológico é importante para que se possa compreender quem é Deus segundo tudo o que Jesus realizou para a nossa salvação. Em João 13.12-17 consta o relato simbólico de lavar os pés, assim como o de compartilhar a Ceia Eucarística, expressa Jesus o sentido de sua vida e de sua morte, que enuncia a continuação das palavras que têm valor de testamento, portanto, salvífico e não expiatório. Nessa passagem o Deus que mostra Jesus não é outro senão o Deus de serviço à humanidade.
A palavra do Pai é a missão, o mandamento confirmado a seu Filho. Jesus se entrega voluntariamente, por amor aos homens tanto quanto a seu Pai. Esse é o ato de se dar, de se entregar sem barreiras. Verificar os textos bíblicos: Rm 8.21-32; Gl 2.20-21; Ef 4.32-5.2; 5.25.
Jesus conquistou para nós o direito de chamar Deus de Pai. Por trás dessa paternidade está tudo o que nos garante a vida plena. Não está Ele distante da nossa história, antes caminha conosco, nos possibilitando vencer todas as adversidades.
Mas também Jesus nos ensina a ter uma concepção de Deus como o totalmente outro; aquele que veio em nosso favor. Logo, somos colocados diante da verdade de que devemos amar uns aos outros, assim como Deus nos amou (Jo 13.34). O próximo é também um absoluto, pois está na mira do ensino de Jesus. Respeitar o semelhante é respeitar a Deus e respeitar a Deus é respeitar o próximo. Pensar assim nos leva a refletir numa antropologia equilibrada e resgatar o verdadeiro sentido de se conceber Deus na história, determinando parâmetros dimensionadores do relacionamento que encontra o seu êxito no comportamento ético comprometido com as bases do Reino de Deus que é o serviço.
O conceito que os fariseus do tempo de Jesus tinham acerca de Deus era o que eles mesmos achavam de si, quando exerciam o monopólio religioso no sentido de oprimir as classes mais baixas da sociedade. Mas, vem Jesus andando e comendo com os pecadores, mostrando uma nova identidade de Deus. Surge, portanto, um conflito entre o que se pensava acerca do Deus dos pais, tal como foi formado nas mentalidades e nas instituições religiosas do passado, e o que veio a existir historicamente através de Jesus de Nazaré. Era preciso crer em Jesus e reconhecê-lo como o revelador da novidade de Deus. Deus é um Deus que existe para os homens, que não os deixa sozinhos em suas misérias, e que trabalha a fim de que sejam mais humanos, unindo-os num laço de amor fraterno. Um Deus que quer fazer novas todas as coisas e se relacionar com os homens.
Deus foi revelado em Jesus. Ele é o próprio Deus. Um Deus próximo. Um Deus de amor. Era preciso reconhecer Jesus como o enviado do Pai. Verificar Jo 8. 18-19; 14.5-10, onde está escrito que, quem conhece a Jesus também conhece o Pai. Através de Jesus pode-se compreender quem é Deus. O Deus de Jesus é seu Pai. A palavra de Deus se converteu na palavra de Jesus, que interpela os homens a darem uma resposta de compromisso, de serviço ao próximo, e de poderem chamar Deus de Pai, tendo como fundamento a projeção de Deus em Jesus com a mesma verdade que Jesus tinha no Pai. A paternidade de Deus é o dom da vida, e a garantia de que não estamos sozinhos à mercê do mal.
Diante dessa concepção de Deus a partir do evento marcante da pessoa e obra de Jesus, basta que se busque viver essa realidade, que tem sua fonte nos relatos da Palavra de Deus, e muito mais, na certeza de que o Deus de Jesus é o nosso Pai. Sabendo de fato quem é Deus, pode-se ter a percepção exata do ser humano, que é tratado no ponto seguinte.

2. Um conceito correto de ser humano (Antropologia)
Encontramos no Evento Cristo o verdadeiro resgate do humano, que precisa ser repensado em termos de valor, de feitura do Criador, bem como sua imagem. Somente se resgata esse ser a partir da reflexão e da práxis evangélica, observando todo o contexto vivido intensamente por Jesus de Nazaré, que deu a sua vida a fim de fazer feliz a raça humana - objeto do amor da Trindade.
O ser humano é valor em si mesmo, ainda que esteja no mais profundo do abismo, no vale da sombra da morte. Isso é o valor que se dá à vida quando se investiga a experiência de Jesus junto ao Pai, no sentido de não ser pusilânime ao defender a causa de quem estava sendo oprimido e injustiçado, antes estando na linha de frente do combate em favor da vida. Ele mesmo disse: “Eu vim para que tenham vida...” (Jo 10.10). Não somente investigar a vida do Filho de Deus, mas viver sua experiência, que é a conversão do mal para o bem, do pecado para a graça, das trevas para a luz.
A única via para se compreender e se desenvolver uma antropologia de qualidade é a do relato evangélico, para recorrer se e não desembocar numa rua sem saída, antes permitir alcançar o ser de Jesus, efetuando passo a passo a história de sua pessoa. Como Filho de Deus, que é base da pregação da Igreja, Jesus sempre procurou fazer a vontade do Pai, vivendo uma relação de amor, sendo obediente e pagando o preço pela obediência. Essa relação de amor ensina ao homem que este deve também viver nessa condição, pois o princípio estabelecido através desse relacionamento singular caracterizou o que os homens devem realizar entre si na história. Jesus viveu uma existência totalmente entregue a Deus. Em sua experiência marcante também deixou o legado de que o Criador chama o ser à existência, convocando-o a ser pessoa, e esta não se constitui a si mesma completamente sozinha, em solidão e clausura, mas na comunhão de uns com os outros em amor. Logo, o verdadeiro conceito de pessoa e de ser humano se entende em Jesus de Nazaré. Como Jesus construiu a sua pessoa se compreende na perspectiva de que a sua atividade e liberdade de consciência acontecem a todo indivíduo. Construiu-se como pessoa de Filho de Deus, através da obediência radical a Deus, identificando-se como puro Deus entre os homens e as mulheres.
Todas essas atividades referentes à vida de Jesus de Nazaré concorreram para formar a sua pessoa, o ser-sujeito. Um duplo movimento acontecia, pois, Jesus saía de si mesmo em direção ao outro que estava em aflição, tornando possível uma reconciliação com Deus e consigo mesmo. Isto é amor. Amor que é movimento em direção outro. A própria morte de Jesus é traduzida em amor.
Não existe maior prova de amor do que esta: de alguém dar a sua própria vida em favor de outrem (Jo 15.13). Ao penetrar na história Jesus assumiu a condição de servo por amor sem as marcas do pecado, em plena condição humana, negando o igualar-se a Deus, ou mesmo pretendendo elevar-se por cima de nós outros, antes ocupando o último lugar (Fp 2.6-8). Cristo como acontecimento absoluto de autocomunicação de Deus aos homens, fez-se homem de Deus e o caso único da consumação essencial da realidade humana, que consiste em que o homem exista perdendo-se no secreto absoluto que nós chamamos Deus. A existência histórica de Jesus como Filho de Deus e Filho do Homem deu garantia à humanidade, de poder ser reconhecida a partir do valor que é em si mesma como criação de Deus. Cristo é o Filho de Deus enquanto é este homem, posto que sua pessoa de Filho é a consumação, nele e por ele, da vocação de todo o homem para chegar a ser filho de Deus.
O resgate antropológico, resgate do ser humano, encontra na pessoa de Deus revelada em Cristo, um Deus que tem existência histórica; que faz história com os homens.

Três pressupostos de Deus no evento Cristo agindo na história:

1. A manifestação de Deus na história pertence a seu ser, é da ordem dele ser manifestado;
2. A exteriorização de Deus se converte em autor da nossa salvação;
3. A exteriorização de Deus no acontecimento de Jesus morto e ressuscitado é um ato de kenosis.

Assim, encontra-se na história um Deus que dialoga com o homem, que se revela por meio da linguagem. Destarte, entende-se que é uma história de criação e de salvação. Encontramos no Antigo Testamento Yahveh dizendo EU SOU.

Não se pode olvidar que foi na história que o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1.14). Nascido de uma mulher para se constituir o caminho que conduz o homem a Deus chamando-o de Pai. A tradição de Israel, em seu bojo, esperava a vinda do Servo de Yahveh, de uma intervenção expressa de Deus na história, de uma ação de geração, de um nascimento (Is 49.1-6). Jesus, sendo Filho de Maria por obra e graça do Espírito Santo, significa que pertence à raça humana e sua história.
Jesus foi concebido pelo Espírito Santo. Quem é o Espírito Santo? É a força divina, força de vida, fonte da palavra; tem Ele um poder fecundante e ao mesmo tempo, santificante. Estes atributos do Espírito conferidos em Jesus mostram que no ser humano existem também todas as possibilidades vitais, que o impulsionam a viver e fazer história, à semelhança de Jesus de Nazaré. O Verbo em pessoa é o princípio que põe a história em movimento, dá-lhe sentido. Isto para a antropologia é algo extremamente importante e resgatador de valores esquecidos por uma sociedade que encontra nos seus deuses falsos (ideologias perversoras) o deslocamento de tudo o que pode tornar a vida sadia.
Ao observar nos relatos neotestamentários a vida de Jesus, agindo no poder do Espírito Santo em favor dos que sofrem, se interessando pelos mais diversificados problemas latentes dentro e fora de cada pessoa, nos desafia a um resgate de tudo o que implica em vida abundante. Se Jesus manteve um relacionamento íntimo com o Pai, quis reivindicar que todo o homem e o homem todo precisa encontrar sentido para viver a sua vida a partir desse relacionamento, através de uma abertura de coração e serviço que culmina em adoração. Jesus é o paradigma da pessoa humana; é a síntese entre o humano e o divino.
Deus, por outro lado, se manifesta em Jesus tal como é em si mesmo, existe em Jesus como em si mesmo, numa comunhão de existência, como Pai que lhe dá toda a sua razão de ser. O Deus de Israel é o Deus de Jesus Cristo, e se revela na história aos seres humanos não falando unilateralmente, mas em intercâmbios de palavras que vão pontuando a história, dialogando com os homens, de sorte que esta história se torne a sua.
Deus restabelece o relacionamento pessoal com o homem. O homem responde pessoalmente à proposta de Deus, obedecendo à sua vontade que implica realização da justiça e do amor efetivo. Essa decisão e o diálogo de Deus com o homem são vivenciados na história. O Deus do diálogo, da eleição e da aliança não aniquila a história humana. O ser humano é imagem de Deus pela sua estrutura dialógica e pela sua capacidade de ser responsável. O ser humano foi criado por Deus para ser seu cooperador. O homem não é o dono do mundo, mas é seu administrador. Logo, para resgatar o verdadeiro lugar de ser humano na história, com consequências antropológicas profundas, deve-se observar e colocar em prática tudo o que se refere à práxis histórica de Jesus de Nazaré. A partir desse resgate pode o homem assumir a sua verdadeira mordomia em relação a todos os elementos constitutivos em nível ecológico, passando a zelar pela paz do planeta, onde parece que tudo vai perecer se não assumirmos a postura de Jesus, a Palavra de Deus encarnada na história.
E, tendo a verdadeira concepção de Deus e do ser humano, segundo o ensino evangélico, ficaria incompleto o ensino sem a verdadeira concepção de salvação, a qual Deus providenciou de forma maravilhosa.

3. Uma real visão da salvação (Soteriologia)
As implicações do Evento Cristo na história dos humanos puderam modelar todos os ângulos desprovidos de egoísmo e individualidade, sendo estes frutos da mente cauterizada pelo mau uso do desejo, que se tornou idolátrico, causando sofrimento no semelhante. Que implicações de salvação? Que salvação?
Jesus Cristo revelador e realizador único da salvação. Deus se revela ao vir ao nosso encontro para nos salvar, e assim o faz, em Jesus Cristo. O discurso soteriológico não pode deixar de prescindir da salvação que se concretizou no Filho de Deus feito Filho do Homem. A obra da salvação se define a partir da pessoa e dos atos todos de Jesus de Nazaré. Ele se entregou por “nós”, segundo o que está nos textos neotestamentários: 1 Co 15.3; 2 Co 5.14; Rm 8.32; Gl 1.4; 2.20; etc. A expressão “hyper”, em grego, apresenta um significado profundo para a humanidade, em dimensões salvíficas profundas: por causa de nós, por nós e em nosso lugar.
O texto de Romanos 3.23-24 não é apenas um relato ou a simples informação da transgressão do homem como pecador, mas envolve aspectos teológicos e doutrinários, no sentido de que, como Palavra de Deus, o seu ensino molda e aperfeiçoa o caráter. “Todos pecaram”, significa o pecado definido como “transgressão da lei”. É a falta de conformidade com a Glória de Deus. É o afastamento de Deus, e consequentemente o afastamento também dos outros seres humanos. O pecado aborrece a santidade de Deus e obscurece a vida humana. Até mesmo a natureza geme por causa do pecado. Diante disso, lemos em Paulo que “Não há um justo sobre a face da terra”. Destarte, somente a justificação mediante a entrega de Jesus Cristo por nós, nos assegura a redenção. “Justificados”, significa “declarados justos diante de Deus”, isto é, livres da condenação. “Justificar” era um termo legal que significava assegurar um veredicto favorável, absorver, vindicar, declarar justo, utilizado nos antigos tribunais romanos. Nas Escrituras é um ato de Deus, que é oferecido pela salvação em Jesus Cristo, segundo o Novo Testamento.
A salvação em Jesus Cristo é vista mediante três pontos fundamentais:

1. Foi processada fora de nós (extra). É exclusivamente pela graça (xáriti dià). Não teve a participação do homem, por estar morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1-10). Só Jesus Cristo, sem pecado, pode realizar essa obra maravilhosa.
2. Foi providenciada para nós. Em favor da humanidade, pois, é da vontade de Deus que todos sejam salvos (Rm 3.29; Jo 3.16). “Deus amou o mundo de tal maneira”, esta é a mais profunda afirmação da história da salvação.
3. Foi realizada em nós (intra). Essa salvação é aplicada dentro do homem, gerando nele uma consciência alicerçada pela dimensão do Espírito Santo, que nos faz compreender a suficiência da obra do Filho de Deus. Jesus Cristo é o “Emanuel”, o Deus em nós.

A intimidade de Jesus com Deus, que Ele chamava de Pai, seja pela sua obediência (Jo 5.30), seja pela atividade comum (Jo 5.19; 10.30), seja pelas suas palavras que são as do Pai (Jo 12.49), demonstra ser este o amor de Deus pela humanidade. Daí ser Jesus Cristo a manifestação da bondade de Deus e de seu amor pelos homens (Tt 3.4; 1 Jo 4.9). Amor realmente vivido no interior da história, de modo perfeito e definitivamente incondicionado pelo ser humano.
É preciso observar que se trata de uma salvação da história. O pensamento escatológico garante a espera de uma salvação para todos, não extra-histórica, mas intra-histórica como resposta positiva diante de todos os males que fazem a humanidade sofrer. A salvação tem um sentido todo especial a ponto de encorajar o ser humano a viver diante de todas as realidades, onde se pode recuperar o que somos e aquilo que somos capazes de reconhecer como a causa de significado para nós mesmos e para os outros. Essa salvação é prometida ao homem como uma vida inteiramente nova. Logo, pode-se pensar no Reino de Deus antevisto como o reinado dos valores de justiça, paz, liberdade e fraternidade, que dão significado pleno à existência humana. Jesus Cristo é justamente o que aparece claramente como a figura de destaque da esperança de seu povo. E, nesse contexto, não existe nenhuma barreira que possa estancar o reinado de Deus e a história, que têm o seu seguimento na intenção de construir um futuro melhor pela realização do evento Cristo já no aqui e agora da caminhada.
Os dois pontos principais dessa realização são a liberdade e o amor fraterno. O cristianismo sozinho conhece e ensina a salvação, que é sua verdade central que considera Jesus como Senhor e Salvador, pleiteando sua expiação pela morte, e se entrando na Igreja como a comunidade dos redimidos, pela abundância dos frutos do Espírito (Gl 5. 22-23). Na parábola das ovelhas e dos bodes o critério de julgamento divino é simples se nós tivermos alimentado o faminto, acolhido o estranho, vestido o nu, e visitado o enfermo e o preso (Mt 25.31-46). Isso é considerado o fruto do Espírito, o que define a salvação em Jesus como o caminho concreto, a transformação do ser humano gerando uma ação transformadora. Eles não são primariamente filosofias ou teologias, mas caminhos de salvação/libertação, como fruto da ação do Espírito Santo, que desconhece limites de espaço e tempo, de etnias, culturas e religiões.
Que salvação anunciar na situação presente da humanidade? Este problema condiciona o acesso através da fé. Não se trata de um outro problema: não se pode proclamar que Jesus é chefe e salvador, libertador da humanidade, sem dizer que perigos livra, e sem saber que salvação propõe. Essa salvação é a coragem para encarar o futuro, quando a pessoa reconhece ser ela mesma ainda que viva num mundo de ambigüidades; mesmo diante da morte que rodeia o homem. Aí sucede o que ensina a Bíblia como Palavra de Deus, em que o clamor do povo no exílio é o lamento de um povo que tem Deus como auxílio, encontrando-o na misericórdia, que é traduzida em libertação da escravidão. Esta salvação é a esperança militante que determina a atuação do homem na história, numa vida sempre por vir a ser, considerando que essa esperança não depende de nós mesmos, mas da fé em Deus. A coragem de existir só se dá na experiência do encontro com Deus, não imediatamente a fé em haver encontrado Deus, mas em ser surpreendido por Ele. A coragem de existir se fundamenta no Deus que aparece quando há a angústia e até mesmo a dúvida.
É importante saber que o homem não pode voltar à vida sem o ato de fé, sem crer que Jesus é o Salvador. Através de Jesus, Deus começa uma nova história, assumindo um compromisso de vida, possibilitando ao homem uma vida plena de sentido histórico. Essa iniciativa sendo divina é realizada no humano, como sendo a gratuidade que transcende a todos os pontos negativos da desumanidade.
Retomando-se o texto de Mateus 25.31-46, considerando fruto do Espírito o acolhimento, percebe-se claramente que, por outro lado, o salvo é o que se abre para Deus e para o próximo. Os que são declarados benditos não o são somente por haver feito o bem em seu nome, por motivos de fé, senão simplesmente por compaixão com os que sofrem; os outros, são malditos pela falta de coração; tiveram a oportunidade de aderir ao projeto de Jesus, que é a causa humana, e não se importaram, uma vez que o sabiam, entretanto não a realizaram. Destarte, Jesus é o salvador que tem uma salvação universal; salva da morte aquele que se entrega a ele.
Jesus é o único mediador e definitivo autor da salvação, dando cumprimento a todas as suas possibilidades, libertando os homens do jugo do pecado e abrindo um acesso direto a Deus em si mesmo. O Filho de Deus se entregou por nossa salvação, o Deus presente na cruz, reconciliando consigo o mundo (2Co 5.19), era Ele quem obrava essa reconciliação indo às últimas consequências. Logo, podemos pensar na salvação como obra de vida, e que contrasta com todas as tradições religiosas dos escribas e fariseus opressores daqueles que não podiam se defender.
Como mediador Jesus faz o seu convite magistral (Mt 11,25-30). Depois da retumbante oração e grande louvor ao Pai, caracteristicamente descritivo do espírito fervoroso de Jesus, ele que possuía total e completa percepção do conhecimento de Deus, elabora um convite imemorável. “Vinde a Mim”- o convite é lançado a qualquer pecador que perceba a sua condição pecaminosa e que possa reconhecer a necessidade de servir a Deus. “EU”- é enfático: Jesus Cristo pode mostrar ao cansado o descanso de que tanto precisa, bem como dar-lhe confiança para com Deus. “Jugo”- contrasta com o jugo da Lei. Jesus oferece um jugo que se deriva do próprio conhecimento de Deus. É o verdadeiro caminho para Deus através da pessoa do Messias. O Seu jugo é suave. Plenifica a vida humana. Contrasta com os jugos dos romanos, que impunham ao povo altas taxas, impostos caros; e dos fariseus, que impunham meticulosa observação da lei. O grande convite de Jesus põe fim a todo tipo de escravidão, porque é o convite para a salvação.
A vitória sobre o pecado e a morte, a plenitude do que a fé cristã entende como salvação é a realização definitiva e perfeita do ser humano, em todas as suas dimensões, em Deus, sob a ação do Espírito Santo. Ainda que nosso conhecimento seja fragmentado e imperfeito, contextualizado e limitado, podemos testemunhar ao mundo a vitória de Jesus sobre a morte, que é a sua ressurreição, da qual fazemos parte, sendo essa a nossa proclamação em fé.
A implicação do evento Cristo no campo soteriológico elucida o fato de que Deus se importa com a sua criação, de que podemos viver plenamente no caminho que foi aberto por Jesus Cristo, o único mediador da vida, para que possamos existir não somente para nós mesmos, mas também para o próximo em todas as suas dimensões.

2. Que lugar ocupa a Cristologia no pensamento teológico da Igreja? Quem é Jesus Cristo?

As discussões cristológicas posteriores se relacionam todas à pessoa de Cristo, à sua natureza. A sua NATUREZA DIVINA e a sua NATUREZA HUMANA. A helenização da fé surgiu para difundir as doutrinas gnósticas, assim como o Arianismo, o Nestorianismo, por exemplo. Por isso a Igreja se viu obrigada a se posicionar e elaborar uma resposta concreta sobre Jesus Cristo.
O Novo Testamento não se ocupa de falar da pessoa de Cristo sem falar também de sua obra. A pessoa de Cristo e sua obra têm ligação profunda.
O Novo Testamento elabora as seguintes perguntas: QUEM É CRISTO? QUAL É A SUA FUNÇÃO?
Há uma diferença entre a maneira em que os primeiros cristãos por sua parte, e a Igreja antiga por outra, de abordarem o problema cristológico. Houve um conflito que existiu de se encontrar uma solução provisória no Concílio de Calcedônia, onde Atanásio e outros defensores da Ortodoxia trataram da natureza de Cristo para destacar seu alcance soteriológico; a maneira de se falar sobre a salvação.
Diante da necessidade de combater os hereges, os Pais da Igreja subordinaram a concepção da pessoa e da obra de Cristo e a questão das duas “naturezas”. Era, na realidade, um problema grego e não um problema judaico e bíblico.
Para responder à pergunta: “QUEM É JESUS?” Os primeiros cristãos podiam recorrer a certas idéias correntes do judaísmo e em particular à escatologia judaica.
Qual era a base para ser Jesus o Messias, o aguardado pela esperança judaica?
O PROBLEMA CRISTOLÓGICO foi formulado classicamente por Jesus mesmo em Mc 8.27ss Quem vocês dizem que sou?” Eles responderam de maneira diversificada:

O problema existia nos mais variados grupos, tanto para os outros, quanto para os discípulos que compartilharam da vida de Jesus.
Esses títulos conhecidos se relacionavam a certas funções, e uma obra a realizar. As respostas tinham algo em comum: que não se limitavam a colocar Jesus em certa categoria humana, mas buscar somente explicar o que existe de único nele. Por exemplo, quando se diz que Jesus é Mestre, médico, parece estar a classificá-lo dentro de uma categoria humana. E as respostas colocavam Jesus fora dessa realidade.
Jesus é designado no Novo Testamento de tantos modos, com vários títulos, entretanto, não podendo abarcar a totalidade de sua pessoa e obra, por si somente, num aspecto particular de sua pessoa.
Todos os títulos encontram sua unidade na pessoa de Jesus. Mas, um só pode compreender: CRISTO-MESSIAS.
Estudar os títulos de Jesus é melhor do que iniciar um estudo abordando a discussão sobre as suas duas naturezas, que na realidade é um problema muito mais grego. Assim, é necessário estudar a sua vida terrena, indo até à pré-existência para depois se fazer o retorno. Desta maneira haverá uma melhor compreensão da vida e da obra de Jesus Cristo.

1. Os que caracterizam a obra terrena de Cristo: Profeta, Servo sofredor e Sumo Sacerdote;
2. Os que tratam da Obra escatológica de Cristo: Messias, Filho do Homem;
3. Os que colocam acento no presente: O Senhor (), Salvador;
4. Os que caracterizam a pré-existência de Jesus: , Filho de Deus e Deus.

3. A morte de Cristo foi querida por Deus-Pai ou foi uma consequência de sua missão?

Com o título Ebed Yahvé chegamos ao centro mesmo da Cristologia do Novo Testamento. É essencial observar que a idéia principal que apresenta em sua base - a da substituição - constitui o princípio mesmo da luz que qual o Novo Testamento desenvolve em toda a história da salvação. Essa idéia da substituição encontra sua concretização na pessoa do Servo Sofredor de Deus. Servo de Deus é um dos títulos mais antigos relacionados à pessoa e à obra de Jesus.
O “Ebed Yahvé” no judaísmo - É uma figura essencialmente judaica. Os textos do Antigo Testamento onde se concentra essa figura: Is 42.1-4; 49.1-7; 50.4-11; 52.13-53.12:
Estes textos são importantes para se compreender o significado do batismo de Jesus, e também porque o Evangelho de Mateus contém citações de Isaias (Mt 12.18ss).
As expressões de que se serve o profeta para descrever o Ebed, são precisas e misteriosas. Sabemos exatamente em que consiste a sua obra, mas não sabemos os detalhes da sua morte; e, ainda mais: não se sabe quem é esse “Servo do Senhor”. O profeta não diz quando e em quê circunstâncias aparece.
E. LOHMEYER estabeleceu uma relação entre o título de Ebed e o “Filho de Davi”, enquanto que, A. BENTZEN trata de compreender essa figura pelas crenças relativas à sorte do profeta, e mais particularmente ao “Moisés redivivo”.
O texto dos Atos 8.34, a propósito de Isaias 53, segue o que foi entendido hoje pelos exegetas do Antigo Testamento. As perguntas a seguir são de extrema importância. “De quem fala o profeta? É dele mesmo ou de algum outro?”
Podemos reduzir o problema a esta questão: o “Servo do Senhor” é um indivíduo ou uma coletividade? Não é fácil responder a esta pergunta, pois há cânticos dedicados ao Ebed Yahvé em passagens que parece identificar-se com Israel (Is 49.3). Para o pensamento semita a assimilação de uma coletividade e seus representantes individuais é coisa corrente.
A história da salvação se desenvolve do começo ao fim segundo o princípio da substituição, segundo a forma de uma redução progressiva: da criação total, se passa à humanidade; da humanidade ao povo de Israel; do Povo de Israel ao resto; do remanescente a um só homem, Jesus.

PRINCÍPIO DA REDUÇÃO PROGRESSIVA

Esse desenvolvimento da história da salvação é prefigurado pelo Ebed Yahvé, que é por sua vez: “resto” e “indivíduo”.
O Ebed Yahvé é o Servo de Deus que sofre. Pelo seu sofrimento se substitui a um grande número de homens que deveriam sofrer em seu lugar. Assim, a Aliança concluída por Deus com seu povo é restabelecida, graças à obra substitutiva do Ebed. Ele é o mediador desta aliança.
No judaísmo tardio o problema principal do Ebed é aquele da relação entre esta figura e a do Messias. Ele restabelece as relações rotas entre Yahvé e seu povo, bem como voltar à vocação pela eleição divina. O Servo do Senhor deve ser o “ungido” do Espírito.
No judaísmo do tempo de Jesus o Ebed Yahvé não tinha nenhuma identificação com o Messias, porque a missão do Ebed era o sofrimento substitutivo. A idéia de um Messias sofrer era puramente estranha.
Havia diferentes concepções no judaísmo para caracterizar a missão de um enviado especial de Deus que havia se influenciado reciprocamente. É possível que essa idéia de um Messias sofredor tenha surgido no seio mesmo do judaísmo. Nos salmos também se observa o sofrimento, onde desempenha um papel muito importante. Assim, em Israel, todo sofrimento tem um caráter substitutivo. O sofrimento do Profeta é conseqüente da sua pregação; já o do Ebed Yahvé é conseqüente de sua missão.
O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas... (Jo 10.8,12,18). Os “ladrões” e “roubadores”, os líderes dos zelotas, não têm cuidado com as ovelhas, mas Jesus é o verdadeiro Pastor. Assim, a idéia de um Messias sofredor era estranha no judaísmo. Por isso não aceitaram a Jesus como o Messias.

Jesus e o “Ebed Yahvé”
Que lugar tem o sofrimento e a morte na mensagem de Jesus? Jesus considerou seu sofrimento e sua morte como partes integrantes da missão que devia desempenhar na execução do plano divino da salvação?
Jesus se sentia chamado a viver sua obra mais do que ensinar sobre ela. É por isso que não se limitou a pregar o perdão de pecados por Deus, mas também a curar os enfermos, e respectivamente, outorgar seu perdão. A sua palavra era: “teus pecados estão perdoados”.
Como Jesus podia atribuir a si mesmo esses poderes plenos ( Ele foi enviado ao mundo para realizar precisamente essa missão. A afirmação de Jesus de que seria elevado pela morte supõe que, para ele essa morte há de ser parte integrante de sua missão messiânica. Ele, de sua parte, sabia que devia morrer (Mc 2.18ss). Em Lucas 13.31ss, Jesus se coloca a si mesmo na categoria humana dos profetas: “não convém que o profeta morra fora de Jerusalém”. Ainda em Lc 12.50, a palavra “batismo” se aplica à sua morte, assim como em Mc 10.38: “podeis ser batizados com o batismo que devo ser batizado?” Aqui, a morte não aparece somente como o epílogo, e sim como parte integrante da obra de Jesus.
O sinal do profeta Jonas: “não será dada a esta geração pecadora e adúltera outro sinal, senão o do profeta Jonas”.
Há três passagens em que Jesus prediz a sua própria morte: Mc 8.31; 9.31 e 10.33. Outros textos que têm a ver com estes: Mc 12.7; 14.8. São parábolas que ilustram o sofrimento e a morte de Jesus.
Uma só vez encontra-se em uma palavra de Jesus a citação direta de Isaias 53: Lc 22.37. Verificar também as palavras da Instituição da Ceia do Senhor: Mc 14.24; Mt 26.28; Lc 22.20; 1 Co 11.24. São textos que concordam sobre o ponto mais importante: o momento no qual Jesus distribuiu o pão e o vinho, anunciando que derramará seu sangue por muitos homens.
As expressões são comuns nos quatro relatos (salvo o manuscrito de Lucas). Todos contêm também a palavra que é aliança, aspecto da obra de Jesus, segundo o Antigo Testamento, que o Ebed Yahvé deve realizar.
No momento em que Jesus tomava sua última ceia com seus discípulos, anunciava pois, o que ele realizaria no dia seguinte, na cruz.
O título Ebed Yahvé aplicado a Jesus não estava em uso na Igreja primitiva quando os evangelhos sinóticos foram redigidos. Os cristãos deram preferência a outros títulos, em particular ao de CRISTO ().
Quando Jesus adquiriu a certeza de que ele realizaria a missão do Servo de Yahvé? No seu batismo, no Jordão (Mc 1.11). É justo que no batismo Jesus adquiriu a convicção de ser quem devia assumir o papel do Ebed. Jesus foi batizado em vista de sua morte, e que ao morrer levaria seu povo inteiro através de um batismo. Carregar sobre si todos os pecados era sua missão. No instante do batismo, recebe Jesus ao mesmo tempo o “programa” do papel que deve desempenhar na história da salvação.
Jesus não batizou as pessoas à semelhança de João Batista, porque para ele só havia um batismo: a sua morte (Mc 10.38; Lc 12.50).
Para o autor do Quarto Evangelho, está fora de dúvida que a voz do Ebed era um chamado dirigido a Jesus para assumir a misssão de Ebed Yahvé (Jo 1.29, 36).

Jesus: o “Ebed Yahvé” no cristianismo primitivo
Encontramos poucas passagens em que os autores dos Sinóticos estabelecem uma relação direta entre Jesus e a figura do servo de Deus.

Escritos neotestamentários do cristianismo primitivo

Mateus
Em Mt 8.16ss - sobre as curas operadas por Jesus, se trata, sem dificuldade, de uma reflexão feita pelo próprio evangelista, que cita a passagem de Is 53.4. O que interessa segundo o evangelista, não é precisamente o pensamento central do capítulo de Isaias, o sofrimento substitutivo. Não é a morte de Jesus, mas suas curas, que são consideradas como o cumprimento da profecia. As curas de Jesus representam, em certo sentido, uma antecipação de sua morte definitiva, que há de consumar-se por sua morte.

Marcos
No evangelho de Marcos, não encontramos nenhuma alusão do autor ao Ebed Yahvé, e nem aos cânticos do Servo.

João
No evangelho de João se concentra uma maior importância ao Ebede Yahvé? Verificar João 2.19ss; 3.14,16. Há outros testemunhos mais diretos que provam que o autor do Quarto Evangelho não relegou a segundo plano a idéia da morte expiatória de Cristo (Jo 10.11,17). “O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, confirma a implicação profunda da missão de Jesus como o Ebed Yahvé, que recebeu no seu batismo. A expressão “Cordeiro de Deus” ( Jo 1.29) não se emprega corretamente no Antigo Testamento para designar o Cordeiro Pascal, entretanto, é provável que o autor haja pensado em Jesus como o Ebed Yahvé. A noção de Ebed Yahvé supõe também a idéia de sacrifício, e está dominada pela idéia de uma substituição voluntária. O autor do Quarto Evangelho reconhecia a idéia do Cordeiro Pascal.

Atos dos Apóstolos
Podemos afirmar que em Atos temos a solução mais antiga do problema cristológico (At 8.26). Prova que Jesus havia sido explicitamente identificado como o Ebed Yahvé no Sec. I, e que o próprio Jesus havia compreendido a sua missão.
Nada se sabe de preciso a respeito desta doutrina cristológica, ou mais exatamente da “PAIDOLOGIA”. O contexto no qual os Atos dos Apóstolos colocam este antigo título nos permite deduzir em quê meios da comunidade primitiva seu emprego pôde ser mais generalizado.

1 Pedro 2.21ss
Com insistência, cita as palavras do Livro de Isaias. A Cristologia do apóstolo Pedro estava, provavelmente, dominada pela idéia do Ebed Yahvé.

As liturgias antigas que tratam do “Ebed Yahvé”
1 Clemente 59.3-61; Didaquê (Ver Cullmann, p. 94).

Os escritos do Apóstolo Paulo
Qual a atitude de Paulo diante da figura do Ebed Yahvé e a sua identificação com Jesus? Paulo designa Jesus como a “Páscoa” (1 Co 5.7). Os textos de Isaias 52 citados em Romanos 10.16 e 15.21, se relacionam com a pregação missionária e propriamente com a obra do Servo de Deus.
A aplicação da idéia do Ebed Yahvé não era desconhecida para o apóstolo Paulo. Ele cita confissões de Fé bem antigas: 1 Co 15.3; Fp 2.7; Rm 5.12ss. A cristologia do Ebed Yahvé remonta os tempos mais antigos da Igreja e que não foi Paulo quem criou a doutrina da morte expiatória de Cristo. Ele tomou como base escritos e tradições antigas. Cita em Fp 2.6-11 um antigo Salmo da comunidade. Paulo utiliza elementos da Tradição Primitiva. Em Rm 5.12ss, o Apóstolo não reproduz ali uma confissão já existente, senão que formula de maneira pessoal sua cristologia. Em Fp 2.6ss, as idéias cristológicas essenciais que remontam a Jesus mesmo, da idéia do “Filho do Homem” e de “Servo de Deus” se encontram reunidas. O versículo 19 mostra claramente que o Apóstolo pensou no “Servo” do Livro de Isaias: “pela obediência de um só, muitos serão feitos justos”. Em alusão a Isaias 53.11.
A cristologia paulina se interessa muito mais pela obra que Cristo realizou, e elevado à destra de Deus, realizou na qualidade de  Paulo contempla a Cristo à luz da ressurreição. Mas é importante observar que a cruz não é um momento infeliz de uma teologia gloriosa. A ressurreição é um segmento da mensagem da cruz e não a cruz o simples capítulo de uma dogmática da ressurreição. A cruz e a ressurreição estão justapostas, e sendo desta forma, a palavra evangélica consiste em identificar o Senhor com o homem Jesus, crucificado. A cruz não é o fim, ela é também começo. A teologia da cruz é finalmente inseparável do primado acordado da Cristologia e da estrutura que ela ordena.
Quando se pode refletir sobre Jesus como servo, tem na teologia paulina uma importância profunda, pois o serviço é testemunho da verdade. Tem a implicação do lugar da vocação cristã. O serviço é a única atitude legítima do Evangelho. Isso quer dizer que a fé é ação, uma vez que o serviço é a figura concreta encarnada que prende a reivindicação de Deus sobre o mundo. Os dons do Espírito são inseridos como possibilidade de serviço, porque o Espírito de Deus coloca o cristão literalmente no serviço terreno e corporal.
Os cristãos têm de servir a Deus na profanidade do cotidiano. Essa forma de refletir tem em Jesus o qualificativo para o serviço. Relacionada ao serviço está a obediência irredutível em sua singularidade, porque a vida cristã tem um destino específico. Na obediência, o cristão é o espelho de Jesus Cristo. O Cristo foi o primeiro a ler o primeiro mandamento como uma promessa e de manifestar sua singularidade e sua significação carregada de obediência.
O tema da obediência é a determinação singular do cristão. Assim, a fé é contemplada pela teologia como obediência, e isto a define como práxis. Logo, se a fé é obediência, ela remete a um protótipo. Jesus é por excelência o “obediente”. Assim, a noção de obediência é função da Cristologia. Mais ainda, a inauguração de uma nova criação, se dá através da obediência, porque é uma nova maneira de organizar a terra. Essa base nasceu de Jesus Cristo o Servo de Deus.

A doutrina do “Ebed Yahvé” como solução do problema cristológico
A noção do Ebed Yahvé permite captar o acontecimento cristológico central de uma maneira perfeitamente adequada ao testemunho do Novo Testamento inteiro. Não é um título produzido pela opinião popular (como no caso do profeta), mas o próprio Jesus entendeu desta maneira em sua obra terrena.
A morte expiatória de Jesus não é só o ato central de toda a história da salvação, mas desde a criação aconteceria a nova criação no final dos tempos. Deste ponto de vista, a Cristologia do “Servo” deve ser considerada como uma solução capital do problema cristológico neotestamentário: Jesus aparece como aquele que realizou o momento decisivo, a obra determinante do desígnio de Deus para a salvação do mundo.
A noção do Ebed Yahvé caracteriza a obra e a pessoa do Jesus histórico de uma maneira perfeitamente concorde ao testemunho cristológico do Novo Testamento.
A obra do Ebed Yahvé, por si mesma, basta como obra terrena, que anuncia em virtude de seu caráter decisivo as conseqüências que têm mais a ver com a obra terrenal de Jesus. Pode, perfeitamente, aliar-se às noções que fazem ressaltar a obra do Cristo presente, futuro e pré-existente.
A fé nas conseqüências desta obra, a fé no elevado à destra de Deus e reinando sobre a Igreja e o mundo, se constituiu para a vida cotidiana dos cristãos e da Igreja uma importância maior nesta obra que em si mesma todas as pessoas podem encontrar a razão para viver de fato e de verdade.
Mas, a obra do Ebed Yahvé, tampouco é fundamental para abarcar toda a obra de Jesus, pois Ele não veio apenas para nos substituir na cruz. É fundamental se proceder a um estudo também sobre os outros títulos cristológicos, para uma melhor compreensão da pessoa e obra de Jesus de Nazaré, no mundo marcado pelo pecado. Segue-se, portanto, o título, Jesus o Sumo Sacerdote.

4. Como enfrentar as mais diversificadas tendências em relação à pessoa de Jesus Cristo?

Os debates acerca da pessoa e obra de Jesus Cristo estiveram aprofundando a Teologia a fim de se encontrar uma postura determinante em relação ao problema cristológico. A situação da Cristologia presente jamais poderia ter surgido antes do movimento sobre o “Jesus da História”, e nem depois dela. O “Jesus da História” destaca-se pela reconstrução histórica da pessoa humana de Jesus de Nazaré.
Seguem-se algumas tendências ou posturas acerca de Jesus Cristo surgidas na nossa história. Mas, também é imprescindível concluir com o que se tornou mais concreto, objetivando a compreensão da Cristologia.

Os Ebionitas
O termo grego EBIONAIOI é a transliteração do vocábulo hebraico EBIONIM, que significa “pobres”. Esse termo era usado para indicar uma seita judaico-cristã que existiu no começo do Cristianismo. Tertuliano achava que o temo era originado de um dos líderes da comunidade, chamado Ebion.
Os ebionitas se opunham à interpretação paulina da fé cristã. Eles se consideravam os ortodoxos, enquanto os paulinos eram os liberais, porque ensinavam algo novo. Eles observavam a lei mosaica achando que a salvação seria decorrente da observância dessa lei, incluindo a circuncisão.
Os ebionitas aceitavam o caráter messiânico de Jesus, mas não aceitavam que ele tivesse sido o Filho de Deus em qualquer sentido especial. Rejeitavam a sua divindade, conforme as inclinações do judaísmo monoteísta. Em seu meio disputavam a questão do nascimento virginal de Jesus Cristo, alguns contra e outros a favor. Eram legalistas, pois observavam a lei mosaica.
Suas escrituras sagradas eram o Antigo Testamento. Repudiavam os escritos de Paulo. Usavam o Evangelho dos Hebreus.
Os ebionitas não eram unificados. Havia divisão entre eles. Três seitas ebionitas:

a) Os Nazarenos, que aceitavam o nascimento virginal de Cristo;
b) Os Ebionitas Fariseus, que aceitavam a messianidade de Jesus, mas negavam o seu nascimento virginal e odiavam as Epístolas de Paulo;
c) Os Ebionitas Gnósticos ou Essênios misturavam elementos cristãos, judaicos e gnósticos.

A tendência geral do ebionismo era a influência do judaísmo sobre o Cristianismo e a negação da divindade de Jesus Cristo, mas não do seu caráter messiânico.

O docetismo
Docetismo foi uma seita que surgiu dentre o gnosticismo. Essa palavra vem do termo grego DOKÉO, que significa “parecer”. A referência primária é ao suposto corpo utilizado pelo AEON (poder angelical), ou segundo os gnósticos, pelo LOGOS. Esse corpo é definido como uma sombra ou um fantasma, uma representação teatral, mas não um verdadeiro corpo humano. Negava a humanidade de Jesus Cristo. A matéria era o próprio pecado, e nenhum ser elevado, divino se envolveria com a matéria. Cristo parecia estar envolvido na matéria, mas não estava.
O docetismo foi atacado por Inácio e por Irineu. Tertuliano escreveu cinco tratados contra Márcion. A Primeira Epístola de João atacou os falsos mestres gnósticos de maneira direta. Segundo os docetistas, Cristo nunca se encarnara, mas tão-somente se apossara do corpo do homem Jesus de Nazaré, por ocasião de seu batismo, para abandoná-lo por ocasião de sua crucificação. Cristo seria um AEON inferior, e não o LOGOS controlador. A morte de Jesus não teria valor expiatório.
A partir dos evangelhos, pode-se observar a plena humanidade de Jesus Cristo, sendo ele divino-humano, graças à luta de concílios que envidaram esforços pela afirmação da completa humanidade e divindade de Jesus Cristo. As mais grosseiras formas de docetismo foram logo abandonadas, porém, nas expressões mais sutis, o perigo continuou em diversos graus, a seguir os passos da Teologia, através dos séculos, até hoje.
Entretanto, os limites humanos do conhecimento de nosso Senhor foram levados em conta. Ele foi um de nós. O caráter humano dos milagres de Jesus foi realizado pela onipotência de Deus, em resposta à fé humana. Eram as obras do Messias e também do Reino de Deus. Esses milagres são tidos como “sinais” do Reino. O caráter humano da vida moral e religiosa de nosso Senhor é o resultado de sua dedicação ao Pai, pois a vida do Messias foi uma vida de fé e sua vitória foi a vitória da fé.

O Arianismo
É o conjunto de ensinos de Ário (265-356 d.C.). Ele e seus seguidores negavam a divindade de Jesus Cristo. Ário se fundamentou no gnosticismo. Essa atividade racionalista teve início em Alexandria e Antioquia, sobretudo no século IV d.C.
Vejamos as suas doutrinas: 1) Deus é ímpar e não-gerado (agennetos); 2) O Logos (Cristo) é um ser intermediário entre Deus e o homem. Ele começou antes do tempo, mas não seria eterno; 3) O Cristo foi criado por Deus, por adoção; 4) O Cristo é inferior a Deus.
As formas de arianismo: 1) Arianismo intransigente, que afirmava ser o Filho diferente do Pai; 2) O segundo grupo proclamou em um Sínodo de Ancira (358) que o Filho é semelhante em substância (homoiousia). Estes são os semi-arianos; 3) O terceiro grupo repelia os termos homoousia (da mesma substância) e homoiousia (de substância similar), como também ousia (ser, substância, essência), simplesmente declarando que o Filho era como o Pai.

A Teoria de Apolinário
Apolinário era bispo de Laodicéia da Síria, nos fins do século IV d.C. (310?-390?). A sua doutrina ensinava que em Jesus, o Logos (uma perfeita natureza divina) assumiu o corpo físico, passando a exercer as funções ordinariamente realizadas pela mente humana. Apolinário opunha-se ao arianismo e à união das duas naturezas divina e humana, em Jesus Cristo. Afirmava que na encarnação, o Logos tornou-se carne, tomando o lugar da alma humana racional na pessoa de Cristo. Ele negava, portanto, que Cristo tivesse espírito humano; ensinava que o Logos manipulava um corpo humano. Isso nega a humanidade essencial de Cristo.

A Teoria de Nestor ou Nestório
Nestor foi patriarca de Constantinopla entre 428 e 431 d.C. Seu propósito era banir as heresias da área de seu controle. Mas, ele mesmo achou-se em dificuldades para desenvolver a Cristologia. Ele objetava os excessos surgidos com base na expressão grega THÉOTOKOS, mãe de Deus, aplicada à virgem Maria. Ele procurou modificar a Cristologia hispostática da escola de Alexandria. Em lugar de Mãe de Deus, ele preferia Mãe de Cristo (CHRISTOKOKOS). Isso ofendeu a piedade de seu tempo. Ao invés de usar união hipostática das naturezas divina e humana na pessoa de Jesus Cristo, ele propôs uma nova expressão, união prosópica, que se deriva do grego PRÓSOPON (face). A humanidade estava na face da deidade, e, a deidade na face da humanidade. Isso sugeria que não indicava uma autêntica unidade da natureza divina com a humana, na pessoa de Cristo.
Nestor foi atacado por Cirilo, patriarca de Alexandria, o qual o acusou de ensinar uma dupla personalidade em Cristo. A doutrina de Nestor foi condenada no Terceiro Concílio de Éfeso em 431. Nestor foi deposto e expulso da Igreja.

A Teoria de Eutiques ou Eutíquio
Era ele um chefe de um ou mais mosteiros em Constantinopla, na primeira metade do século V d.C. Era discípulo de Cirilo de Alexandria. Tornou-se conhecido por seu apoio às idéias chamadas de eutiquianismo. Trata-se da doutrina cristológica de que, por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi absorvida pela natureza divina. Ele introduziu essa idéia, entre 448 e 451 d.C. Ele se manifestou contra o nestorianismo. O conceito teve apoio temporário do Sínodo dos Ladrões, em Éfeso. A posição negava as duas naturezas de Cristo, como a sua devida humanidade. A idéia foi considerada heresia no Concílio de Calcedônia (451 d.C.), e Eutíquio foi desligado de suas funções.

Um novo radicalismo histórico
Um fator que influenciou na mudança da situação cristológica foi o novo radicalismo histórico aplicado ao estudo histórico dos evangelhos, associado à expressão alemã FORMGESCHICHTE ou Crítica da Forma. É um movimento que estuda os evangelhos historicamente, não pela análise dos vários documentos originais, mas distinguindo as diversas “formas”, os inúmeros tipos de episódios, parábolas, máximas, histórias maravilhosas, reminiscências homiléticas a respeito de Jesus, utilizadas na pregação da Igreja Primitiva e que resultaram na tradição dos evangelhos. A finalidade é avaliar a época e o significado dos fragmentos que passaram a constituir os evangelhos.
A Crítica da Forma lança luz sobre a pergunta:
• “Como eram a pregação e a mensagem (kerygma) cristã da Igreja Primitiva?” Uma pergunta que envolvia tudo, com o objetivo de descobrir o verdadeiro sentido do Jesus Histórico.

A Cristologia sem encruzilhada
As muitas idéias surgidas no período pré-crítico e considerando também o período da Crítica da Forma, não podem deixar a Cristologia numa encruzilhada. É preciso considerar o verdadeiro sentido da encarnação e da divindade de Jesus Cristo, a partir dos evangelhos e da sua história. Hoje, mais do que nunca, precisa-se compreender a pessoa de Jesus e a sua obra entre os homens, operando os sinais concretos do Reino de Deus, em fé.
O estudante de Teologia não pode titubear em relação à Cristologia, que necessita estar bem solidificada nas mentes e corações.

O “logos” no judaísmo
Há no Novo Testamento toda uma série de passagens em que a “Palavra de Deus”, não está personificada, e ao menos considerada como uma entidade independente; e que passa a ser objeto de reflexão teológica, em razão da potência enorme de sua ação.
Essa reflexão se orienta primeiramente à história da criação, na qual tudo se realiza por ordem da Palavra pronunciada por Deus: “Haja luz e houve luz”. Toda a ação criadora de Deus se efetua por meio da Palavra; e esta Palavra é Deus, em se comunicar ao mundo.
A Palavra do Senhor faz surgir a vida do nada. DEBAR YAHVÉ.

A idéia do “Logos” aplicada a Jesus
A atribuição de Jesus ao título de LOGOS é fruto de uma reflexão teológica. Reflexão que, por outra parte, pressupõe também a experiência litúrgica da soberania de Cristo.
O pensamento joanino é fundamental em afirmar: Jesus aporta não só a revelação, senão que Ele é a REVELAÇÃO. Assim, o LOGOS joanino é o LOGOS que se encarna em Jesus. JESUS É O LOGOS. DEUS SE FEZ CARNE.
Verdade é que o termo LOGOS, ao falar de Deus em Seu Filho, está associado com a criação do mundo e ligado a uma definição da relação eterna entre o Filho de Deus e o Pai.
O evangelista, no prólogo, permanece fiel à promessa do pensamento do Antigo Testamento, quando fala da Palavra de Deus.
As afirmações joaninas relativas ao LOGOS são frutos de uma reflexão profunda sobre a vida de Jesus, considerada como a Revelação Central de Deus.
A essência do LOGOS é AÇÃO. Deus se encarnando, revela-se a si mesmo. É o profundo movimento revelacional, que elucida a dinâmica do Criador, que na sua misericórdia, age em favor do ser humano e de toda a sua criação. Portanto, Deus é o Deus que age. Jesus é a plenitude da glória Divina, que, com a sua vida, mostrou ao mundo e aos homens a verdadeira essência de Deus, sendo ele o próprio Deus, segundo a Sagrada Escritura.

JESUS O FILHO DE DEUS
O título FILHO DE DEUS se caracteriza mais especialmente, e na forma única, a relação entre o Pai e o Filho. Com justa razão, então, os teólogos da Igreja antiga também se valeram deste título em suas discussões cristológicas.
Qual era o significado de FILHO DE DEUS na época do Novo Testamento para judeus e pagãos?

O Filho de Deus no Oriente e no Helenismo
Os reis eram considerados como gerados pelos deuses. Essa crença se estendia também ao Egito, de onde os faraós passavam a ser filhos do deus solar Rá.
Na época do Novo Testamento, também os imperadores romanos tinham esse título.
No helenismo, esse título era monopólio somente de monarcas. Mas, gentes de toda classe a quem se atribuíam forças divinas, eram chamadas de Filho de Deus.

O “Filho de Deus” no judaísmo
No Antigo Testamento essa expressão é empregada de três maneiras diferentes:

 Ao povo de Israel inteiro é chamado “Filho de Deus”;
 O rei leva este título;
 Certos mensageiros especiais de Deus, como os anjos, e também o Messias, são chamados assim.

Em todos os textos do Antigo Testamento, “Filho de Deus” expressa a idéia de haver Deus eleito a esse povo em vista de uma missão particular, e a de dever esse povo obediência absoluta. De ter que obedecer estritamente ao chamado de Deus.

Jesus e o título “Filho de Deus”
Não significa para Jesus um poder sobrenatural, mas a obediência absoluta no cumprimento de sua missão divina.
Na tentação, Jesus estava sendo seduzido a não cumprir a sua missão de Ebed Yahvé. O diabo queria que Jesus fosse um fazedor de milagres: “Se és Filho de Deus...”
“Filho de Deus” é uma confissão de fé que os primeiros cristãos puderam expressar a fé em Jesus, o Filho de Deus. No evangelho de João e na epístola aos Hebreus, Filho de Deus, é uma das concepções cristológicas fundamentais.
A versão de Mateus une a confissão de Pedro em que o Messias é o Filho de Deus (Mt 16.16). JESUS: VERDADEIRO DEUS E VERDADEIRO HOMEM.

A fé do Cristianismo Primitivo em Jesus o Filho de Deus

 1 João 4.15  Confessar que Jesus é o Filho de Deus.
 Hebreus 4.14  Permanecer firmes na confissão.
 Todo o NT apresenta essa afirmação de fé em Jesus, que é a base estrutural da Igreja.

JESUS CHAMADO DEUS
Deus, enfim, é aquele que se revela desde o começo (Logos); Deus é aquele que, cuja vontade e ação são perfeitamente congruentes com as do Pai, tanto naquele que vem dele, quanto ao qual o Pai faz vir (Filho de Deus).Jesus se apresenta como a única e verdadeira “imagem de Deus”, nos escritos joaninos, na epístola aos Hebreus e nas cartas de Paulo, mais especificamente.Jesus leva o nome de Kyrios, isto é, o nome de Deus, por aqueles que o chamavam diretamente DEUS.
A grande discussão da Antiguidade era saber se Jesus era Deus. Nos sinóticos, Jesus não se designou Deus, e nem os evangelistas quiseram fazê-lo. Os testemunhos mais claros e menos equívocos da aplicação a Jesus do nome de Deus se evidenciam no Evangelho de João e na epístola aos Hebreus.
A confissão de Tomé é coroação de todas as confissões Jo 20.28).

Embora o apóstolo Paulo designe a Jesus como , não o faz tão abertamente como o Quarto Evangelho e a epístola aos Hebreus Também, em Cl 2.9 está escrito: “Habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.”

Graça gratificada ou graça gratuita?

Próximos dias 30 e 31 de agosto de 2010. Av Vicente de Carvalho, 1083 - Vila da Penha - FAECAD - 19h00.

Introdução

Qual é o significado de púlpito hoje nas igrejas cristãs do Brasil e do mundo? O que a Sagrada Palavra ensina sobre a pregação? Quem pode pregar a Palavra de Deus? É correto cobrar numerário em troca de pregação?
Estas perguntas precisam ser respondidas no contexto de nossa existência, pois a pregação da mensagem divina está comprometida por algumas formas estranhas à Palavra de Deus. É bem verdade que existe uma boa parte de vocacionados por Deus, que não se entregaram e nem se entregam às facetas de um desdobramento pernicioso que circunda e pulula no meio protestante atual. Existe gente comprometida com Deus e com o seu reino, mas é necessário falar sobre esse lado vergonhoso que vamos relatar neste simpósio de Teologia na FAECAD – Faculdade Evangélica das Assembléias de Deus no Brasil, da CGADB.
Este simpósio de teologia nasceu no coração reflexivo da turma do segundo período da manhã, com aprovação do Diretor e também do Coordenador do Curso de Bacharel em Teologia reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura do Brasil. Entende-se que é fruto do ensino sério do corpo docente que a Instituição possui e de estudantes que não querem mais ver nenhum laivo de miséria espiritual e intelectual neste País chamado Brasil, a nossa pátria querida.
Vamos, então, sem delongas, ao primeiro ponto em relação ao tema - “Púlpito: um local de comércio?” – Graça gratificada ou graça gratuita?

1. A questão da pregação somente pela remuneração pré-estabelecida

Antes de qualquer coisa relacionada à pregação, é necessário refletirmos sobre alguns pontos que têm relação direta com o discurso salvífico e edificador. Discurso este, que vem do coração de Deus para o coração das pessoas. Assim, é preciso que se tenha um conceito correto do que é a igreja, a pregação e a graça de Deus.

1.1. A natureza e o propósito da Igreja
A Igreja é o Povo de Deus através da experiência de gratuidade; de ser o povo eleito; de viver a comunhão com o próprio Deus, com a humanidade e com o cosmos.
Compreende-se melhor a Igreja quando se pode examinar a origem do termo igreja, bem como a sua própria natureza.
A Bíblia, em tempo algum, faz uso da palavra igreja relacionada a um prédio, denominação, ou ainda a influência cristã na sociedade. O termo grego para igreja no Novo Testamento é ekklesia, é usado para designar o novo povo de Deus. No grego secular a palavra ekklesia não tem sentido religioso. Na LXX é considerado um termo técnico para significar no hebraico o QAHAL YHWH, a “Congregação do Senhor”. Este termo, tirado do mundo, é muito significativo, pois indica um chamamento dos cidadãos, em Cristo, de dentro do mundo, para se reunirem diante do Senhor. As expressões EKKLESIA TOU THEOU (Igreja de Deus) ou EKKLESIA TOU CHRISTOU (Igreja de Cristo), revela o significado da verdadeira Igreja.
EKKLESIA é constituída da raiz do verbo KALÉO (chamar). Logo, a Igreja é mais do que uma agregação de pessoas, porém uma congregação. É mais do que uma organização, uma denominação, é o povo de Deus.
Há outra palavra no Novo Testamento, derivada da LXX que é SYNAGOGE, que se origina de SYN + AGO, que significa “chegarem juntos” ou “estar reunidos juntos”. Esta palavra é exclusiva para denotar as reuniões dos judeus no aspecto religioso (sinagoga). O povo de Deus é aquele que está junto, e que caminha junto, numa mesma direção.
Quem fundou a Igreja? Esta é uma pergunta feita pela exegese bíblica. É considerada uma problemática para alguns estudiosos. Mas, em que sentido se fala em fundação da Igreja? Em que sentido Jesus Cristo fundou a Igreja?
Através da origem se manifesta a essência da Igreja. Pode-se considerar que a Igreja foi pensada a partir de uma caminhada histórica. É o mais importante projeto de comunidade desenvolvido pelos seguidores de Jesus Cristo.
Jesus se encontrava com as pessoas e estabelecia uma relação com elas. Depois, com a morte do Senhor há uma ruptura nessa relação, mas é restabelecida na ressurreição. Os discípulos dão testemunho a respeito do Senhor ressurreto (Atos 2.24,32).
A Igreja é o verdadeiro modelo da ordem de Deus neste mundo. A comunidade petrina entendeu o verdadeiro sentido da Igreja:

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1 Pedro 2.9-10).

Vejamos os significados de alguns termos importantes para compreensão da eclesiologia petrina, retirados do texto neotestamentário:
“Raça Eleita” - significa que Deus elegeu um povo para proclamar a Sua graça. Essa eleição foi a decisão divina numa perspectiva eterna. Foi a experiência da gratuidade divina. Deus salva por graça e não por méritos de alguém. Os méritos são os de Cristo Jesus, o Filho Unigênito de Deus.
“Sacerdócio Real” - A Igreja é sacerdotal, porque Cristo é o Sumo Sacerdote. É a tarefa do antigo Israel no Sinai, de ser uma nação sacerdotal aos gentios (Êxodo 19.6). A Igreja é o sacerdócio instituído pelo próprio Deus, a fim de que a humanidade tenha acesso ao Seu Reino e possa oferecer-lhe dádivas aceitáveis. A Igreja é sacerdotal quando aponta à humanidade o propósito de Deus em Cristo Jesus, que é o melhor projeto de vida já elaborado.
“Nação Santa” - Santa, quer dizer “separada”. A Igreja é de Deus. Santa, não quer dizer isolada do mundo, mas que deve viver a articulação: Igreja, Reino de Deus e Mundo. Santa, porque é de Deus e não de homens (possessão). A Igreja foi tirada do mundo para proclamar a Palavra de Deus aos homens e as mulheres.
A Igreja é a Comunidade dos santos; daqueles que crêem e que são santificados em Cristo, e que estão unidos com Ele, numa dimensão relacional com o Ressurreto que se desdobra na fraternidade tão exigida pela Sagrada Escritura, principalmente o Novo Testamento, a partir das próprias palavras do Messias em João 17.
Na perspectiva de Lucas a Igreja é definida como a comunidade que crê e cujo coração é um (Atos 4.32). Em Efésios, consta “um só corpo, um só espírito, assim como foram chamados em uma só esperança” (Efésios 4.4).
A Igreja na Patrística apresentava duas faces: mistérica e institucional.
A partir destas duas faces a Igreja vivia. Na face mistérica a Igreja se expressava como a comunidade de salvação. Ela celebrava a fé, começando pela Palavra, que não foi vivida de forma individualista, mas em sentido comunitário, dentro da congregação dos fiéis. A mesma fé caracterizava a vida da Igreja. Na Ceia do Senhor, a fé determina a Igreja em sua trajetória (EKKLESIA - 1 Coríntios 11.18; 20.33). Na fé tem-se a semente da Igreja. A fé é o primeiro momento da Igreja. A Igreja transforma a Palavra em ação. Quem acolhe a Palavra tem de transmiti-la. A essência é viver cada momento. O apóstolo Paulo utiliza muito essa palavra (Efésios 5.21-32). A Igreja é o Corpo de Cristo: aliança amorosa. Paulo chega a fazer esta profunda declaração: “Grande é esse mistério.”
Na face institucional, a Igreja era minoritária; era uma Igreja nova. Era bem diferente do judaísmo e dos cultos pagãos. Características: alegria, expansão missionária e muito dinamismo. Era o povo de Deus um “pequeno rebanho” que vivia o amor, a compaixão, a solidariedade e a misericórdia. Tudo isso, em contraste com o mundo de poder e autoridade não condizentes com a vontade de Deus.

1.2. A natureza e o propósito da pregação
A pregação é a arte de proclamar a Palavra de Deus. É a tarefa primordial da Igreja e de mais nenhuma sociedade humana, porque ela foi eleita e designada para tal serviço.
A palavra “pregação” é derivada do latim praedicatio, que por seu turno traduz o grego kerygma, palavra esta que, em seu sentido mais geral, significa a proclamação de um fato ou de um acontecimento. É situada regularmente no Novo Testamento para descrever a mensagem e a atividade dos evangelistas cristãos, os quais tinham “boas novas” supremas para contar, boas novas de que, em Cristo, Deus visitou e redimiu o seu povo e que a salvação estava sendo oferecida gratuitamente a todos quantos se arrependessem e pusessem sua confiança nele. Os pregadores eram os arautos do Reino de Deus.
A prédica cristã teve início na Palestina. Seus primeiros pregadores e auditórios, sua formação e afinidades espirituais eram judaicos. Era, pois, muito natural e necessário que a maneira de se pregar seguisse o padrão dos profetas do Antigo Testamento e do ensino rabínico.
A prédica cristã alcançou um progresso, disseminando a mensagem do Evangelho por toda parte. A prédica ganhou auditório maior mais favorável. Os elementos primordiais do discurso foram as maneiras provadas de convencer e persuadir os mortais, e nas mãos de homens piedosos como Basílio, Gregório, Crisóstomo, Ambrósio e Agostinho.
O objetivo do pregador é convencer o ânimo, despertar a imaginação, mover o sentimento e impelir poderosamente a vontade na direção daquilo que a verdade exige. Há certos fatos a respeito de processos e funções da mente humana que dão existência a princípios de tratamento. Importa bem mais que o pregador aprenda esses princípios ao invés de servilmente decorar e obedecer a umas tantas regras. Haverá ocasião, no que respeita a regra sem se quebrar este ou aqueles princípios. Circunstâncias diversas, a individualidade do pregador, a ocasião, bem como a espécie de auditório, tudo isso faz com que as regras fiquem no seu lugar de servos, e não de senhores, para que as formas sempre sejam flexíveis e variáveis.
A melhor qualidade de um sermão não é o fato dele ser bastante homilético, mas o de mover e comover as vidas para aceitarem o Reino de Deus e sua justiça; para a realização maior do serviço da Igreja de Jesus Cristo.

1.3. A semântica e a natureza da graça de Deus
A palavra “graça” nem sempre se usa na Escritura com o mesmo sentido, senão com uma variedade de significados. No Antigo Testamento temos a palavra chen (adjetivo chanun), da raiz chanan. O nome pode denotar plenitude de graça ou de beleza, Provérbios 22.11; 31.30; pelo que, em geral, na maior parte significa favor ou boa vontade. O Antigo Testamento fala repetidas vezes de achar o homem favor aos olhos de Deus. A benevolência, assim encontrada, traz consigo a concessão de graças ou bênçãos. Isto significa que a graça não é uma qualidade abstrata, senão bem mais ativa, um princípio operante que se manifesta em atos de benevolência, Gênesis 6.8; 19.19; 33.15; Êxodo 33.12; 34.9; 1 Samuel 1.18; 27.5; Ester 2.7. A idéia fundamental é que as bênçãos concedidas por graça são as que se proporcionam em forma gratuita, e não em consideração a algum direito ou mérito.
A palavra do Novo Testamento charis, de chairein, “regozijar-se”, denota antes toda uma agradável aparência externa, “amabilidade”, “agrado”, “aceitação”, e esse significado encontra-se em Lucas 4.22; Colossenses 4.6. Não obstante, um significado mais notável da palavra é o de favor ou boa vontade, Lucas 1.30; 2.40, 52; Atos 2.47; 7.46; 24.27; 25.9. Pode denotar a bondade ou benevolência por Deus, 2 Coríntios 9.8 (referindo-se a bênçãos materiais); 1 Pedro 5.10. Ademais, a palavra expressa a emoção despertada no coração daquele que recebe um favor tão grande, e desta maneira adquire o significado de “gratidão” ou “agradecimento”, Lucas 4.22; 1 Coríntios 10.30; 15.57; 2 Coríntios 2.14; 8.16; 1 Timóteo 1.12.
Não obstante, na maior parte das passagens em que a palavra charis é usada no Novo Testamento, significa a operação imerecida de Deus no coração do homem, efetuada mediante a ação do Espírito Santo.
Quando algumas vezes falamos de graça como uma qualidade inerente, é na realidade a comunicação ativa das bênçãos divinas mediante o trabalho interno do Espírito Santo procedentes da plenitude dAquele que está “pleno de graça e de verdade”, Romanos 3.24; 5.2, 15, 17, 20; 6.1; 1 Coríntios 1.4; 2 Coríntios 6.1; 8.9; Efésios 1.7; 2.5, 8; 3.7; 1 Pedro 3.7; 5.12.
A “graça” é um atributo de Deus, uma de suas perfeições divinas. É o imerecido favor ou amor de Deus, amor gratuito e soberano para o homem em seu estado de pecado e culpa, que se manifesta no perdão do pecado e na libertação da pena merecida. Está relacionada com a misericórdia de Deus tal como se distingue de sua justiça. Esta é a graça redentora no sentido mais fundamental da palavra.

2. Exploração do rebanho ou sustento do obreiro?

A ausência de uma consciência solidificada na Palavra de Deus conduz pessoas a uma falsa confusão de papéis na existência. Quando não se sabe ser o que se deve ser, pode ser aquilo que nunca deveria ter sido. E, hoje, por falta de uma consciência genuína na Palavra de Deus, há muitas expressões que jamais deveriam existir, e que só comprometem negativamente o Reino de Deus.
A fim que não haja uma exploração da emoção e da fé de pessoas, principalmente das mais simples, vejamos os papéis da igreja, do obreiro e do pastor.

2.1. O papel da Igreja como Povo de Deus
A missão da verdadeira Igreja de Cristo Jesus é mais do que proceder caridosamente. É participar da reconstrução do mundo, como Jesus procedeu. É reintegrar de modo pleno o homem no Reino de Deus. Não utilizar somente a Palavra como teoria, mas na prática mostrar a operosidade que procede de Deus. “MENOS CARIDADE E MAIS JUSTIÇA”, escreveu alguém no muro de uma rua de uma certa cidade. A Igreja precisa estar atenta às carências das pessoas, e oferecer-lhes o conforto de que tanto precisam.
Em Lucas 24.49 está registrada uma ordem de Jesus dada aos seus discípulos para que permanecessem na cidade de Jerusalém. Mas, essa permanência seria por pouco tempo e não definitivamente. Eles não deveriam ficar acomodados, observando os acontecimentos sem uma ação dinâmica. Até quando deveriam permanecer em Jerusalém? “Até que sejais revestidos de poder (dínamis) do alto”.
É lamentável que pessoas não entendam as palavras do Senhor, e permaneçam dentro de si mesmas, ou de suas paredes, ainda, das quatro paredes de um templo, a fim de não cumprirem a vontade de Jesus Cristo, como se de fato fosse assim mesmo: adoração sem compromisso com a missão de fazer discípulos de todas as nações.
O Espírito Santo foi enviado para capacitar a Igreja; dar-lhe poder para realizar a missão confiada: de ir por toda parte e proclamar as boas novas de salvação a todas as pessoas. Jesus prometeu enviar o Espírito: “da minha parte, eu vou enviar-vos o que meu Pai prometeu.”
A Igreja quando entende a sua missão acomodada na história, não se caracteriza e se realiza como povo de Deus. Assim a Igreja que desejamos é aquela que descortina novos horizontes e encarna na existência humana o projeto de Jesus Cristo.
Em Atos 2.1-13, ao cumprir-se o Dia de Pentecostes, Deus enviou o Seu Espírito para dinamizar a Sua Igreja. A promessa feita foi cumprida, porque o Deus que promete é o Deus que cumpre. Deus é fiel ao cumprimento de Sua Palavra. Ela não pode falhar.
No Antigo Testamento a palavra “ruah” é traduzida por vento, sopro, força de vida (Êxodo 15.8-10; Isaias 11.4; 40.7; Gênesis 2.7). Força misteriosa é a força de YHWH. O Espírito de Deus é força de vida e criação (Gênesis 2.6; 6.2,17; 7.15,22). O Espírito como força psíquica operante (Juízes 13.25; 14.6; 14.19; 15.14, 3.10; 6.34; 11.29; 1 Samuel 11.6). Nestes textos constam que, homens realizaram obras extraordinárias, alcançaram vitórias inesperadas, sob o impacto do Espírito de Deus.
O Espírito de Deus se comunicava constantemente ao povo através dos profetas (Zacarias 7.12; Isaías 48.16). O Espírito de Deus inspira transformação.
No Novo Testamento, o Espírito Santo é força, dínamis. É mais pessoal; é “alguém”. Nos evangelhos sinóticos, a exceção de Mateus 28.19, nenhuma dessas escrituras apresenta o Espírito Santo como pessoa, mas como força. Am Atos, o Espírito de Deus é concebido como força. A Igreja nasce por ocasião do Pentecostes. O Espírito de Deus dá coragem, força aos pregadores do Evangelho.
Não poderia ter havido um dia tão especial como foi o Dia de Pentecostes, para que a Igreja pudesse provar do dínamis de Deus, e apresentar os primeiros frutos: três mil batizados, após ouvirem o discurso de Pedro (Atos 2.14-41).
Quem que recebe o dínamis de Deus, não o recebe para conforto de si mesmo, mas para realizar a vontade de Deus. Viver no Espírito é viver uma maneira nova. É uma nova criação que responde com um “sim responsável”.
A Igreja que desejamos é a Igreja que vive a liberdade do Espírito de Deus, sempre preparada para obedecer a todos os imperativos de Jesus em favor dos oprimidos e marginalizados pelo pecado que, a cada dia, execra a vida humana. Assim, torna-se operoso o que recebe a graça de Deus, sendo obediente dentro do Corpo de Cristo.

2.2. O papel do obreiro como servo e não como explorador
Um dado interessante no contexto do Reino de Deus, tendo a Igreja como Corpo de Cristo, é que todos que fazem parte do seu corpo são obreiros; todos são servos. Logo, o papel do obreiro é o de servir e não de se aproveitar das pessoas. Todos são livres para servir.
Mas existem pelos menos três formas de se usar a liberdade. É o que vemos no Evangelho de Lucas capítulo 10 versos 25 a 37, onde Lucas narra a parábola do bom samaritano.
A condição atesta que o homem é um ser independente e dependente, ele é livre. Deus o criou livre. Livre para amar, para raciocinar, para servir e para relacionar-se. Ser livre é bom. Podemos decidir ir e vir. Liberdade é algo maravilhoso. Porém há uma realidade latente no homem que é uma realidade voltada para o mal. Quando as pessoas decidem fazer o mal elas causam escravidão, tornando a vida das pessoas mais debilitadas.
No texto de Lucas o intérprete da lei está preocupado em utilizar sua liberdade, a qual está condicionada apenas à prática de decorar alguns mandamentos da lei. A liberdade naquele momento era pôr Jesus à prova. Decorar a lei é muito fácil, mas viver o espírito da Palavra é mais difícil. É muito mais ação do que teoria. Jesus disse que sua liberdade não era apenas decorar a lei, mas sim observar a própria dinâmica da lei. O intérprete da lei faz outra pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”
Diante desta pergunta é que a palavra de Deus ensina acerca das três formas de se utilizar a liberdade:
1. Uma grande parcela das pessoas utiliza a liberdade contra os outros - Os salteadores utilizaram a sua liberdade contra o homem, deixando-o semimorto, à beira do caminho. Quando nós utilizamos a liberdade que Deus nos deu, contra os outros, nós vamos contra Deus, contra nós mesmos e contra a criação. O homem tem uma tendência para fazer o mal. Quando toca na sua ferida, suas palavras e seus atos se voltam para o mal. Este primeiro uso da liberdade é detestável segundo a Palavra de Deus.
A verdadeira religião é a religião do amor; devemos pregar a paz e não a violência. O homem quer converter outros através da violência, mas a verdadeira conversão é pelo amor, pela Palavra de Deus. O cristianismo tem que ser profético e não agressivo. Por isso é que nós não podemos nos calar, porque ser cristão é ser seguidor de Cristo, é servir a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, pois é Ele que dá a vida; Deus não é violento. Quando Deus entregou seu Filho Cristo Jesus à morte disse um não a ela, mediante a ressurreição. Deus é contra a violência, a sua Palavra diz que Ele é amor.
Devemos ter atitudes contrárias à dos salteadores; devemos ter cuidado com a forma como usamos nossa liberdade.
2. Outra parcela de pessoas usa da liberdade em causa própria - O texto nos mostra a atitude do sacerdote e do levita. Essas pessoas foram colocadas por Deus em seus cargos para cuidar do próximo, mas eles resolveram fazer o contrário, “passaram de largo”, fugindo assim de sua responsabilidade.
Nós devemos ter cuidado, pois ser líder dá status. Ser pastor, presbítero, diácono ou mesmo ocupar qualquer cargo na igreja, que isto não “suba à nossa cabeça”, porque perante Deus somos todos iguais. Não existe ninguém maior, ou melhor, que os outros. Se existe alguém exercendo um cargo importante é para que esta pessoa sirva a Deus e aos outros e não, servir-se. Devemos ter cuidado com as expressões “eu posso”, “eu faço” ... Pois, quando se perde o temor de Deus, usam-se os dons e talentos em causa própria.
Deus nos outorga dons para que sejamos melhores pessoas, melhores famílias, melhores igrejas; para que assim, possamos transformar o mundo. Nossos dons não são para prevalecermos diante da sociedade. Quando servimos é aí que nos tornamos grandes. Este segundo uso, Deus também não aceita. Nunca devemos perder o temor de Deus, pois quando o perdemos, passamos a fazer a nossa vontade.
3. O terceiro uso da liberdade é o que Deus quer, que é justamente para fazer o bem - Como Cristo, nós devemos servir. Jesus veio para servir. Teve uma vida de serviço. Como Ele, devemos servir em favor dos outros; devemos acolher os outros. Estar sempre dispostos a ouvir o outro, amar o outro. A convivência fraterna nos ajuda a ver a vida como ela tem de ser.
Tipificado na pessoa do samaritano, Jesus trata daquele homem ferido. É aquele homem ferido que nos representa. Nos representa em relação às nossas necessidades, às nossas angústias e depressões. É naquele momento que Jesus nos acolhe. Nosso exemplo é Cristo. Podemos ver na Sua Palavra que Deus é um Deus que nos acolhe.
O Senhor nos deixou aqui o exemplo, para que usemos da liberdade para servir, para ajudar os outros. Onde começa isto? Na nossa família, na nossa Igreja, no nosso trabalho, no nosso condomínio. Nós vivemos para servir a Deus e aos nossos irmãos.

2.3. O pregador da igreja local e o pregador convidado
O pregador de uma igreja local pode ser o pastor ou o que ele designar para tal nobre função. O pastor de uma igreja local é o docente, pois tem a responsabilidade de ensinar a Palavra de Deus, porque para isso, foi-lhe dada essa missão. E, pregar e ensinar a Palavra tem de ser com sabedoria e prudência.
Pregar com sabedoria é retirar da divina palavra a genuína mensagem que salva e edifica o rebanho. Daí o estudo aprofundado sob oração. É necessário que o pregador retire da Palavra apenas o que ela quer dizer e não o que o pregador ache o que ela deva dizer ou supõe dizer. Fazendo assim, o rebanho se nutrirá da boa alimentação do Senhor.
Mas, também é preciso que o pastor da igreja local se alimente em primeiro lugar, da Palavra Fiel, a fim de que o rebanho veja o seu exemplo.
É de bom alvitre que a Igreja ouça também outros pregadores, uma vez que a diversidade enriquece, e também porque Deus fala e usa outras pessoas para transmitir a mensagem de vida que está em Cristo Jesus, o Senhor. Assim, todo esse exercício espiritual acontece de forma dinâmica, e refletindo a vida que Jesus Cristo veio trazer.
O culto do Senhor é o encontro de Deus com seu povo. É no culto que a igreja mostra a sua verdadeira natureza. Ela adora ao Deus vivo e verdadeiro e recebe a sua Palavra de esperança para uma caminhada melhor. Logo, não há barganha no culto, mas liberdade para adorar e haver edificação.
Quando um outro pregador convidado, o que seja autorizado para pregar, vier de longe, é justo que a igreja local cubra as suas despesas. Mas é injusto e ímpio o ato de cobrar por uma pregação. Isto se confunde com comércio na casa de Deus.

3. Ostentação de vaidades ou dignidade salarial do obreiro?

Aqueles que foram comissionados para pregar a Palavra de Deus e cuidar do rebanho, não devem ostentar nisso quaisquer vaidades, pois é tarefa que envolve zelo e alta responsabilidade. Por isso é preciso atentar para a vida e para o sustento digno do obreiro de Deus.

3.1. A vida moral e espiritual do pregador
O solo onde medra a pregação poderosa é a própria vida do pregador. Essa é a grande questão que faz a arte da pregação ser diferente de todas as demais artes de comunicação.
As Escrituras ensinam que surgem ocasiões em que aparecem em cena homens dotados de notáveis dons ministeriais, mas que são destituídos de uma vida condizente com o próprio ensino bíblico. A Bíblia não esconde as más obras das pessoas. A história da Igreja também registra os feitos de indivíduos que foram soberanamente usados por Deus, no exercício dos dons ministeriais, e que a despeito disso, mostraram não ser possuidores da graça santificadora. Assim, o pregador tem de cuidar de sua vida devocional e espiritual, a fim de que possa ser sempre um instrumento vivo nas mãos de Deus.
A vida de um ministro é a vida de seu ministério. Se a pregação, em última análise, é a transmissão da verdade por meio de algum instrumento humano, então a verdade particular que é transmitida tem o seu efeito incrementado ou diminuído pela vida através da qual ela se expressa.
Onde se encontra o segredo de uma pregação operosa? Encontra-se, antes de tudo, não no conteúdo bem elaborado exegética e homileticamente, mas na vida do pregador. O pregador tem de viver uma vida de profunda comunhão com Deus, a fim de que a verdade que ele transmite, torne-se uma força viva em vidas que o Senhor colocar à sua disposição para receber o seu ensino.
É muito importante atentar para a seguinte observação: Quanto mais o pregador for conhecido por sua gente, haverá de aumentar ou diminuir a sua influência, de conformidade com a qualidade de sua vida diária (Cf. os textos bíblicos: 1 Ts 1.4-5; 2.10, 13; Tt 2.7; 1 Tm 3.1-7; 4.16. Estes textos, por enquanto, ajudam a refletir neste momento).

3.2. A pregação e a vida e a vida e a pregação
Uma das mais perturbadoras descobertas feitas na vida de pregadores é o fato de que pouquíssimos têm hábitos devocionais pessoais e sistemáticos. Alguns pregadores pensam que o estudo pode substituir a vida devocional. No entanto, é fundamental ter uma vida de oração e de estudo da Bíblia, não somente com o intuito de preparar algum estudo ou mensagem, mas de aprender da Palavra de Deus.
Aprender a Palavra de Deus, colocando seu ensino em primeiro lugar na vida. Porque como alguém pode transmitir a outro o que não coloca em prática? Seria motivo de surpresa que o ministério de tais pessoas fosse assinalado pelo desequilíbrio na área doutrinária? Seria motivo de admiração que prevalecesse tão grande frieza no coração desses pregadores? Não é de admirar que haja tão pouca íntima e perscrutadora aplicação das Escrituras, quando a grande maioria dos pregadores contemporâneos admite que eles não se deixem expor sistematicamente ao Livro de Deus, com o propósito de obterem ali a iluminação pessoal e a santificação.
Nenhum pregador tem o direito de pregar, simplesmente porque possui o dom de analisar textos e a capacidade de explicá-los ao longo de sua exposição. Se a Palavra que ele prega a outras pessoas, antes de tudo não serviu de instrumento para seu próprio doutrinamento e para a sua própria santificação, ele não está capacitado a anunciá-la a outras pessoas. Essa é a função da Palavra de Deus na vida do pregador, e essa função sempre deve ocupar o primeiro lugar.
É fundamental e urgente que, nestes tempos de tantas ambigüidades e confusão entre o que se vive e o que se prega, em alguns lugares e ocasiões, despontem pessoas que saibam viver e pregar a Palavra de Deus.

3.3. O respeito devido ao que foi vocacionado por Deus
Parece que há hoje uma crise de falta de respeito. Talvez, porque quem deveria agir com respeito, seja primeiro quem não o exerça. O que faz uma pessoa ser respeitada? Será o dinheiro, a posição ou o caráter?
Para algumas pessoas o dinheiro é a base do respeito, porque quem tem mais pode mandar mais; pode querer mais; pode impor mais.
Outras pessoas acham que posição social impõe respeito. Pode-se pensar que posição social se derive do acúmulo de dinheiro; ou do acúmulo de dinheiro à atitude de respeito.
A história de vida de algumas pessoas está repleta de casos nefastos, tanto nas que têm dinheiro em grande acúmulo, quanto nas pessoas que ocupam grandes cargos na sociedade. Pessoas que se tornaram padrões de violência e de decadência, nos scripts da vida civil e da vida religiosa. Ocorrem escândalos a cada momento da corrida do cronômetro. O crhonos não pára.
Mas o que é verdadeiro e necessário refletir sobre o respeito, é o desenvolvimento do caráter, que faz uma pessoa boa ou má. Se o caráter for edificado na ordem do bem, certamente a pessoa será vista como uma pessoa de bom caráter; do contrário, mau caráter. Assim, é importante agir com equilíbrio, demonstrando sempre aquilo que somos, a partir de uma base concreta.
Uma pessoa vocacionada por Deus para exercer o sagrado ministério da Palavra, tem seu caráter moldado pela Palavra de Deus. A Palavra de Deus é a base ético-moral da vida do pregador. Sendo assim, pode-se reconhecer naturalmente sua vocação que, implicitamente, desdobra-se no cotidiano, e por si só, imprime respeito das testemunhas.
O respeito devido ao pregador é o reconhecimento de sua competência pelas pessoas da igreja, que não maltratam homens e mulheres com suas vocações; nem estes exploram as vidas que Deus lhes confiara.

Conclusão

Graça gratificada ou graça gratuita? É esta a questão proposta, quando se trata do púlpito, que simboliza a pregação cristã.
Ensina Jesus em sua Palavra: “Digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7).
Ninguém vive de vento; ninguém vive de mágica. Todos precisamos atender às necessidades mais básicas de nossa vida. Mas, isso não dá o direito de explorar a fé das pessoas, e, acima de tudo: explorar em nome de Deus.
Tem muita gente que irá dar contas a Deus no último dia. Tem muita gente que vai arder no mármore do inferno, junto com o diabo. Porque estão usando o nome de Deus em vão. Assim, está mais do que na hora, de ensinar o que é certo; o que é verdadeiro; o que é respeitável. Se alguém quer ganhar o seu sustento que trabalhe e não use as coisas de Deus para esse fim.
Tem pessoas que não conseguiram ser alguma coisa na vida, e descobriram que ser pastor é o caminho. Logo, se enveredam pelo caminho daquilo que não foram comissionados. Irão até certo ponto no tempo, mas o fim chegará, e será drástico.
Pregar a Palavra de Deus é um privilégio e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Não é para qualquer pessoa, mas para quem Deus chama e prepara.
Se o obreiro foi chamado por Deus, o seu sustento não faltará, porém não o deixará rico.
O obreiro vocacionado não vive ostentando vaidades, mas carrega em seu bojo, a humildade cristã que caracterizou a vida e a obra de Jesus Cristo.

Nelson Célio de Mesquita Rocha