segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

 CONTEMPLANDO A DEUS E A REALIDADE

“Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1.11).

Santo Agostinho em seu clássico tratado sobre a Trindade, Livro II, 17.28, reflete o verdadeiro significado e implicações de “contemplação”. Assim consta: “Esta é, pois a beleza por cuja contemplação suspira todo aquele que se empenha em amar a Deus com todo o coração, como toda a alma, com todo o entendimento. E para chegar a essa contemplação, procura também edificar seu próximo e amá-lo a si mesmo, pois, desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas (Mateus 22.37-40) ”. Destarte, surge um tema de profunda importância que é a Beleza da Contemplação. Desse estado, decorre dois fatores preponderantes: O empenho em amar a Deus e a edificação do próximo.

 A contemplação foge do sentido de inércia, antes é traduzida por serviço ativo a Deus e ao mundo, incluindo-se as pessoas e os elementos naturais. Não é o que se vê demonstrado em Atos 1.11. Os “varões galileus” ficam olhando para as alturas a ponto de sofrerem um acidente físico e ficarem prostrados. Mas, antes que tal sofrimento acontecesse, surge a provocação que consta no relato: “Por que estais olhando para as alturas? ” Olhar somente para as aturas significa o contrário de uma vida de amor a Deus. E, vida de amor a Deus é vida de serviço. Ai implica a realidade como campo de ação. O mundo que está à nossa volta é o espaço que o cristão tem para servir a Deus no serviço ao próximo.

No relato do Evangelho de Marcos 16.14-20, consta a ordem de Jesus aos discípulos, de pregar a Boa Nova de salvação a todas as pessoas e administrar o sacramento do Batismo como símbolo de uma nova vida. Isto significa continuar aquilo que Jesus deu início, enquanto esteve como homem entre os homens e as mulheres deste mundo. A Igreja não podia ficar somente olhando para cima. É certo que o Senhor prometeu retornar, mas a Igreja tinha e tem de cumprir a sua missão. Ela é sacramento de Deus na terra. Ela mostrar pela Palavra e pelos sacramentos ordenados por Cristo a vontade de Deus. Todos precisam conhecer o amor de Deus. Nenhuma pessoa da face da terra deve partir deste mundo sem ter conhecido o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Não somente em relação ao ser humano, mas também em relação à natureza que geme. Assim, cuidar da terra é missão daquele que ama a Deus, pois existem muitos interesses estritamente especulativos de se explorar aquilo que Deus nos deu como dom, pelo desejo corrompido.

Contemplar a Deus não é permanecer estático, mas em peregrinação, servindo de maneira eficaz à Divindade no serviço à realidade que está ao nosso redor. Isto é o que Jesus ordenou. É preciso fitar os olhos naquilo que devemos expressar o amor de Deus, pois a vida cristã é vida de altruísmo, pois, ao participarmos da Santa Ceia do Senhor, percebemos no gesto sacramental e nos símbolos sacramentais aquilo que implica na vida cristã uma dinâmica de serviço ativo em prol de um mundo melhor. Esta é a maneira pela qual a Palavra nos convoca para estarmos em ação, e as palavras de Efésios nos mostram a missão da Igreja: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daqueles que a tudo enche em todas as coisas. ”

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha