terça-feira, 4 de novembro de 2025

COBRINDO A NUDEZ EM TEMPO DE AMORES
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha


“Passei por ti, olhei-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; estendi sobre ti o manto, e cobri a tua nudez; dei-te juramento, entrei em aliança contigo, diz o Senhor Deus, e tu ficaste sendo minha.” (Ezequiel 16:8)
Vive-se em uma época em que a nudez passou com muita intensidade a ter prioridades nos meios de comunicação. Muitos ganham fama e dinheiro ao colocarem seus corpos à exposição pública. Houve um tempo em que qualquer ato de nudez era mais discreto. Filmes de nudez que passavam no cinema eram proibidos para menores de 18 anos. Hoje, a nudez é vista por todas as idades. Existem muitas pessoas que aplaudem os atos de nudez, e chegam a dizer que "o que bonito é para se mostrar". O pior é que tal proceder faz viralizar também a exposição infantil, gerando uma sociedade com redes de pedofilia. E, por mais que se combata a pedofilia, mais surgem segmentos que promovem tal violência usando crianças.
Criou-se a palavra "nudes" para tornar mais atraente as exposições de nudez.
A palavra "nudes" refere-se a fotos ou vídeos de uma pessoa nua ou seminua, geralmente enviados de forma privada para outra pessoa. O termo vem do inglês, que significa "pelado" ou "sem roupa", e se popularizou no Brasil com a expressão "manda nudes". Além disso, "nudes" pode descrever qualquer imagem que mostra partes do corpo humano, geralmente com o intuito de exibir a nudez e/ou a sensualidade.
O capítulo 16 de Ezequiel citado acima é uma das mais belas metáforas do amor de Deus. Ele retrata Jerusalém como uma mulher abandonada, encontrada por Deus, cuidada e amada.
O verso 8 é o ápice desse amor redentor — o momento em que Deus cobre a nudez e estabelece uma aliança.
Em tempos em que o amor se tornou interesseiro e passageiro, esse texto nos lembra do amor fiel, restaurador e comprometido de Deus.
Vejamos alguns apontamentos sobre o texto bíblico:
1. O OLHAR QUE VÊ O INVISÍVEL
“Passei por ti, olhei-te… ”Deus passa e vê.
Enquanto todos desviam o olhar da miséria, Deus a encara com compaixão.
Ele não vê apenas a aparência, mas o potencial, o que pode ser restaurado pelo Seu amor.
* Deus vê o valor escondido sob as feridas.
* Vê também o coração que pode ser curado.
* Por derradeiro vê a alma que ainda pode florescer.
O olhar de Deus é o início de toda transformação.
2. O MANTO QUE COBRE A VERGONHA
“Estendi sobre ti o manto e cobri a tua nudez…”
Na cultura hebraica, cobrir com o manto era símbolo de proteção, compromisso e casamento.
Foi o que Boaz fez com Rute (Rute 3:9).
Assim também Deus faz conosco: Ele cobre o que o pecado expôs.
* Onde havia vergonha, Ele coloca dignidade.
* Onde havia culpa, Ele coloca perdão.
* Onde havia medo, Ele coloca segurança.
O manto de Deus é a graça que cobre a nossa nudez espiritual.
Em Cristo, fomos revestidos de justiça (Isaías 61:10).
3. A ALIANÇA QUE TRANSFORMA A HISTÓRIA
“Dei-te juramento, entrei em aliança contigo... e tu ficaste sendo minha.”
O amor de Deus não é passageiro. Ele é aliança.
Quando Ele diz “tu és minha”, Ele está selando um compromisso eterno.
Essa aliança é o centro do Evangelho:
* Deus não apenas nos perdoa, Ele nos adota.
* Não apenas nos limpa, Ele nos ama.
* Não apenas nos vê, Ele nos chama de Seus.
Em Cristo, pertencemos a Deus — e nada pode romper essa aliança de amor.
Ezequiel 16:8 é o retrato do evangelho em forma de poesia.
O Deus que passou por nós não nos rejeitou, mas nos cobriu.
Hoje, Ele ainda passa — pelas ruas, pelas igrejas, pelas vidas despedaçadas — procurando corações a quem possa dizer: “Tu és minha.”
Uma aplicação do texto bíblico para hoje e para qualquer época:
* Deixe Deus cobrir suas vergonhas com o manto da graça.
* Viva com gratidão, como quem foi encontrado e amado.
* Estenda o mesmo manto sobre os outros — o amor que cobre multidão de pecados (1Pedro 4:8).
TARIFAÇO ESPITIRUAL
Um fenômeno antigo e que se desenvolve no contexto religioso no percurso do tempo
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha

Um breve análise no texto bíblico de 1 Reis 12:1–14
No contexto religioso ao longo do tempo sempre ocorreram fenômenos que causam perplexidades. Dentre os muitos fenômenos se destaca nesta reflexão o "Tarifaço Espiritual".
Sabe-se que há líderes religiosos que cobram para fazerem orações e também profecias ou adivinhações.
Em relação ao texto bíblico indicado acima é importante observar alguns pontos de um fato histórico que ocorreu na existência do povo de Israel.
O reino estava dividido entre sabedoria e soberba. Roboão, filho de Salomão, herdou um povo cansado de impostos e trabalhos forçados. Eles pediram alívio. Mas Roboão, ouvindo os conselhos dos jovens e desprezando os dos anciãos, respondeu com dureza: “Meu pai vos castigou com açoites, eu porém vos castigarei com escorpiões.”
Na história de Roboão, encontramos mais do que política — vemos a dinâmica do coração humano e da liderança espiritual quando ela perde o espírito de serviço.
Hoje, muitos vivem sob um "tarifaço espiritual": uma fé cheia de cobranças, culpas e exigências humanas que sufocam o evangelho da graça.
Vejamos algumas observações sobre a proposta temática que é a do "Tarifaço Espiritual", que a própria Escritura Sagrada não deixa passar sem haver uma crítica séria.
I – O tarifaço começa quando o líder deixa de ouvir (v. 6–8)
Roboão ouviu os anciãos, mas não escutou. Ele consultou, mas não considerou.
O conselho sábio era: “Se hoje te fizeres servo deste povo...” — mas ele quis ser senhor, não servo.
Assim também acontece quando a liderança espiritual perde o ouvido pastoral, por exemplo, surgem algumas facetas de cunho negativo e que destroi vidas.
- Quando a vaidade fala mais alto que a compaixão.
- Quando a autoridade é usada para dominar, e não para servir.
Assim, o tarifaço começa no silêncio da escuta, quando o coração se fecha à sabedoria de Deus e às dores do povo.
II – O tarifaço aumenta quando o poder vira prova de fé (v. 10–11)
Os jovens disseram: "Diz-lhes: meu dedo mínimo é mais grosso que os lombos de meu pai."
Era o símbolo da competição e do poder.
Hoje, há quem pregue que fé é força, sucesso, domínio — e quem sofre é taxado de “fraco”.
Esse é o tarifaço espiritual moderno: medir espiritualidade por desempenho. Quais são as implicações?
- Se não prospera, é porque não tem fé.
- Se adoece, é porque não orou o suficiente.
- Se tropeça, é porque Deus te abandonou.
Mas Jesus veio quebrar esse jugo.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28)
Onde Cristo reina, a graça é gratuita — não há escorpiões no evangelho.
III – O tarifaço termina em divisão e fuga da presença de Deus (v. 16–19)
O povo respondeu: “Que parte temos nós com Davi?” — e foram embora.
Quando o jugo é pesado demais, o povo foge.
Assim também, quando a igreja impõe pesos que Deus não mandou, as almas se dispersam.
O tarifaço espiritual produz cisões, frieza e deserção.
Mas, parece que há, e de fato existe mercado para tais ações que são fenomenais no universo religioso.
Mas onde há humildade, nasce reconciliação. Onde há graça, há comunhão. O Espírito Santo reúne o que o orgulho separa.
Por fim, seguem alguns apontamentos conclusivos:
- Líderes: O chamado não é para cobrar fidelidade, mas servir com misericórdia.
- Crentes: Não aceitem um evangelho que vende o favor de Deus.
- Comunidades: O Reino não é mercado, é mesa.
E à mesa da graça, ninguém paga entrada — todos são convidados.
Roboão aumentou o jugo e perdeu o reino.
Jesus, o verdadeiro Filho de Davi, tomou sobre si o jugo do pecado e ganhou o Reino eterno.
Onde Roboão oprimiu, Cristo libertou.
Onde Roboão dividiu, Cristo uniu.
Onde Roboão cobrou, Cristo pagou.
Disse Jesus: “Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:30)

O PROFESSOR OU A PROFESSORA NÃO TEM A NATUREZA DO ESPINHEIRO

Uma reflexão bíblica sobre a natureza de quem foi chamado ou chamada para ensinar
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha
Texto bíblico: Juízes 9.8-15

O mal está sempre querendo reinar. Parece até que o mal tem a primazia sobre o que é bom.
O mal faz ecoar mais a intensidade das notícias do que os bons acontecimentos do cotidiano.
Geralmente as pessoas comentam mais sobre as facetas negativas das pessoas do que as suas características excelentes. Há muitos que pensam ser isso por causa da inveja. Há pessoas que não suportam o sucesso de outras.
Assim, surge a pergunta: Por que isto tem de ser assim?
A Bíblia não esconde os erros das pessoas. E, no texto bíblico de Juízes 9: 8-1 há uma faceta negativa de um membro de uma família importante da Casa de Israel. Abimeleque, que procurou se estabelecer como um rei cananeu com a ajuda de Baal (v.4), formando um nítido contraste com seu pai Gideão que insistira ser o Senhor o Rei de Israel.
Abimeleque tentou reavivar os costumes cananeus no próprio lugar em que Josué anteriormente reafirmara a lealdade de Israel ao Senhor (Js 24.14-27). Em todos os aspectos, Abimeleque era a antítese dos juízes nomeados pelo Senhor.
O texto lido é uma fábula, nas quais objetos inanimados falam e agem. E, Jotão, do alto de um monte, profere em alta voz a fábula com uma mensagem poderosa.
A oliveira, a figueira e a videira eram plantas que produziam frutos de grande importância para os povos do Oriente Médio.
Já o espinheiro, provavelmente um conhecido arbusto farpudo comum nas colinas da Palestina era uma ameaça constante à agricultura. Nada produzia de valor e servia de figura apropriada para Abimeleque.
Assim, o texto bíblico transmite algumas lições e alguns contrastes fundamentais para o dia do professor. É um dia para se refletir, embora em todos os dias aqueles que têm a o dom e recebem a missão de ensinar em suas diversas áreas, exerçam em todo tempo de suas vidas esse dom que maravilhoso.
Quais são as lições que o texto nos ensina?
1. O ESPINHEIRO FERE, MAS O PROFESSOR CURA
Alguém sempre precisa de um professor. O mundo sempre precisa de um professor. As pessoas em particular precisam de um professor.
O professor cura os ferimentos produzidos pela ignorância provocada. O professor é como o azeite da oliveira: purifica as veias do coração.
Educação é geradora de vida. Ainda que o nosso País não dê o devido valor ao Professor, mesmo assim, é preciso educar.
2. O ESPINHEIRO CAUSA AMARGOR, MAS O PROFESSOR DOÇURA
A doçura do ensino gera a doçura do aprendizado. Quantos já disseram: "quero ser igual meu professor ou professora".
Houve momentos em que professores agiram como a doçura da figueira: uma doçura que não provoca o diabetes.
Há momentos da existência que são amargos, mas diante de um profundo ensino, a alegria de viver tomou conta do ser.
3. O ESPINHEIRO CAUSA TRISTEZA, MAS O PROFESSOR ALEGRIA
Quem nunca viu o sorriso de uma senhora ou um senhor com idade avançada que não sabia ler e aprendeu a ler com um professor! É algo contagiante.
O ensino do professor é formação para a vida e não simplesmente para transmitir conhecimento.
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. (Paulo Freire)
Pode haver professores que são parecidos com os espinheiros: ferem, sem doçura e alegria. Mas, o verdadeiro professor ou professora exercem a cura, cumprem com doçura e alegria a missão de ensinar, ainda que muitos não sejam honrados pelo que realizam.
Deve-se agradecer o professor ou a professora pelo ensino que se esmeraram em transmitir. Deve-se honrá-los em todo tempo de suas vidas.
Feliz dia do Professor e da Professora!
UMA LEOA FRUSTRADA E SEM ESPERANÇA
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha


"Vendo a leoa frustrada e perdida a sua esperança, tomou outro dos seus filhotes e o fez leãozinho" (Ezequiel 19:5).
A frustração é um sentimento silencioso que invade quando aquilo que se planeja não acontece, quando as portas não se abrem, e quando parece que Deus ficou em silêncio. É como ter o coração cheio de expectativas e as mãos vazias na caminhada da existência.
Há dias em que o coração se cala, a alma se esconde e o olhar perde o brilho. É o tempo em que a esperança parece ter ido embora, e tudo o que resta é o peso do cansaço. A fé, antes viva, parece apenas uma lembrança distante.
O texto do profeta Ezequiel 19:1–9 é carregado de simbolismos. E, como entender no texto e no seu contexto o significado de um animal - uma leoa - ter frustração e a sua esperança perdida?
Vejamos alguns detalhes que ajudam a entender o texto e extrair dele algumas lições para a vida.
1. A leoa que um dia foi forte
A leoa representa o povo de Deus no Antigo Testamento — uma nação escolhida, chamada para dominar e influenciar. Um povo não-autóctone, que não teve a sua origem em um determinado lugar geográfico, mas chamado por Deus para realizar uma missão especial, sendo formado na caminhada com quem o formou, isto é, o próprio Deus.
A leoa - o povo de Deus - andava “entre leões”, ou seja, entre as nações poderosas, mas tinha uma identidade própria. Assim também a Igreja e cada servo de Deus foram chamados para viver com propósito, autoridade e coragem.
Mas o que acontece quando a força se perde? Quando o rugido se cala? Quando o coração que antes tinha fé, agora está cansado? Há a frustração.
2. A leoa frustrada
Ezequiel mostra a leoa tentando criar seus filhotes para reinar, mas eles são levados cativos.
Tudo o que ela investiu, tudo o que construiu, foi quebrado. Ela fica frustrada, ferida, sem direção.
Essa imagem fala da alma abatida — de pessoas que tentaram, sonharam, mas viram seus esforços irem embora. Oraram, mas não viram respostas. Sonharam, mas foram decepcionadas.
Serviram, mas ficaram sozinhas. Uma leoa frustrada não perde só os filhotes — perde o sentido de existir.
3. A leoa sem esperança
O texto termina com tristeza: “Puseram-na em uma cova, e a voz dela já não se ouve nos montes de Israel” (v.9). O rugido da esperança se calou.
Mas Ezequiel escreve essa lamentação para despertar a nação — não para sepultar a esperança.
Uma lamentação que é datada pelos estudiosos, durante o exílio babilônico, dentro do período das profecias de Ezequiel, entre 593 e 571 a.C. Mais especificamente, Ezequiel 19 pertence a uma série de lamentações e profecias contra os reis de Judá, pronunciadas pouco antes da destruição de Jerusalém em 586 a.C.
Deus permite que o rugido cesse por um tempo, para nascer um novo som — o som do arrependimento, da restauração e da volta à confiança no Senhor.
4. Deus ainda cuida das leoas feridas
Mesmo quando a leoa está frustrada, o Deus da aliança não se esquece dela.
Ele ainda é o Deus que restaura reinos e corações. Ele levanta quem foi ferido e devolve o rugido da fé. Pois, “Os que confiam no Senhor renovarão as suas forças...” (Isaías 40:31)
Uma leoa frustrada e sem esperança pode voltar a rugir quando o Espírito Santo renova sua fé.
O que parecia fim, será recomeço. O que parecia perda, será testemunho. Porque Deus ainda faz leões cansados voltarem a rugir.
Para concluir. No tempo em que surgem as frustrações e a esperança parece se esvair; quando as forças começam a faltar, é preciso alimentar-se da Palavra de Deus.
O Senhor sempre providencia algo de onde menos se espera.
VIDAS PARALELAS: O CONSCIENTE E O INCONSCIENTE
As Profundezas da Alma Humana
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha

O ser humano é um mistério que pensa, sente e crê. Vive, muitas vezes, em duas realidades interiores: uma consciente, clara e racional; outra inconsciente, obscura e profunda.
A psicologia moderna, especialmente por meio de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, trouxe à luz essa duplicidade interior — a coexistência de forças conscientes e inconscientes que moldam o comportamento humano.
Contudo, muito antes da psicanálise, a teologia bíblica já reconhecia a existência dessas dimensões invisíveis da alma. O salmista declarou: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que me são ocultos.” (Salmo 19:12)
Essa confissão revela uma percepção espiritual anterior à psicologia moderna: o ser humano não domina plenamente a si mesmo. Há em sua alma uma história subterrânea que apenas Deus conhece. Assim, o diálogo entre psicologia e teologia se torna não apenas possível, mas necessário — para compreender as "vidas paralelas" que coexistem no interior da pessoa.
O Consciente: a luz da razão e da responsabilidade
O consciente representa a esfera da lucidez, da vontade e da decisão moral.
Na tradição filosófica, o consciente é o domínio da razão (logos), que permite ao ser humano distinguir o bem do mal.
Santo Agostinho, em suas "Confissões", obra que todas as pessoas devem ler ou ouvir, identifica essa dimensão como o lugar da memória iluminada pela graça, onde o ser humano reconhece a presença de Deus e se vê como criatura necessitada.
Sigmund Freud descreveu o consciente como a “camada superficial do aparelho psíquico”, limitada, mas necessária para o equilíbrio mental.
Teologicamente, podemos dizer que o consciente é o campo da responsabilidade moral, onde o homem é chamado a responder ao juízo de Deus. É o espaço da conversão, da obediência e do discernimento ético.
Porém, o consciente não é autossuficiente. Ele é apenas a parte visível de uma alma muito mais ampla, cujas raízes mergulham nas profundezas do inconsciente.
O Inconsciente: as sombras da alma e o mistério do coração
O inconsciente, para Freud, é o repositório de desejos reprimidos, traumas e pulsões.
Para Jung, é um campo simbólico, onde residem os arquétipos e o inconsciente coletivo — as imagens universais da alma humana.
Essas concepções psicológicas, embora não teológicas, apontam para algo que a Escritura já afirma: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)
Na tradição bíblica, o "coração" ("lev", em hebraico) é mais do que o centro emocional — é o centro ontológico do ser humano, a fonte dos pensamentos, afetos e intenções (cf. Provérbios 4:23).
É o equivalente espiritual do inconsciente: o lugar onde o homem guarda segredos, dores, culpas e esperanças.
O inconsciente teológico, portanto, é o “coração escondido” (1 Pedro 3:4), onde se trava a verdadeira batalha espiritual.
É ali que o Espírito Santo atua, sondando e revelando o que o homem não pode perceber por si mesmo (1 Coríntios 2:10-11).
A Tensão das "Vidas Paralelas"
O consciente e o inconsciente vivem como duas correntes paralelas dentro da alma humana.
Quando estão em harmonia, o ser humano vive em paz consigo mesmo; quando estão em conflito, surge a cisão interior — o “homem dividido” que o apóstolo Paulo descreve: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” (Romanos 7:19)
Kierkegaard, em "O Desespero Humano", chama essa fragmentação de “desespero da desintegração do eu”, ou seja, quando a pessoa não consegue ser ela mesma diante de Deus.
A psicologia chama isso de conflito psíquico; a teologia chama de pecado e alienação.
Em ambos os casos, a alma se divide entre o que deseja e o que faz, entre o que confessa e o que oculta.
Somente a graça redentora de Jesus pode reconciliar essas vidas paralelas — o eu consciente e o eu inconsciente —, integrando-as sob a luz do Espírito Santo.
A salvação, então, não é apenas libertação moral, mas integração espiritual: tornar o ser humano inteiro, restaurando a harmonia entre razão, emoção e fé.
O Espírito Santo e a cura das profundezas da alma humana em conflito
O Espírito Santo é o terapeuta divino da alma.
Ele não atua apenas na mente racional, mas desce até o inconsciente, revelando, curando e integrando.
O apóstolo Paulo escreveu: “O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8:16)
Essa "testificação" é mais profunda que a consciência moral — é um toque na raiz do ser.
Jung afirmou que “a função da religião é dar sentido ao inconsciente”, sendo uma grande contribuição para a psicologia. E nesse ponto, a teologia dá a sua contribuição: a graça não apenas dá sentido, mas transforma o inconsciente.
O Espírito Santo não interpreta o inconsciente; Ele o redime, restaurando o coração para que nele habite a presença de Deus (Efésios 3:16-17).
Portanto, o ser humano é uma tensão viva entre o que sabe e o que ignora, entre a luz e a sombra, entre o consciente e o inconsciente.
Essas “vidas paralelas” não foram criadas para viver separadas, mas para se encontrarem na plenitude de Jesus Cristo.
A redenção não é apenas racional, mas também emocional e simbólica.
Quando o Espírito Santo ilumina as sombras da alma, o ser humano deixa de ser um ser dividido e se torna um ser integrado, reconciliado em todas as suas dimensões.
Assim, o inconsciente não é mais território de medo, mas espaço de revelação.
O consciente, por sua vez, deixa de ser orgulho racional e torna-se instrumento de discernimento espiritual.
Em Cristo, a luz e a sombra se encontram — e o ser humano é restaurado à unidade original da imagem de Deus.
Referências Bibliográficas
* A Bíblia Sagrada – Edição Almeida Revista e Atualizada (ARA).
* Agostinho de Hipona. Confissões. São Paulo: Paulus, 2001.
* Sigmund Freud. A Interpretação dos Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
* Carl G. Jung. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
* Søren Kierkegaard. O Desespero Humano (A Doença para a Morte). São Paulo: Vozes, 2012.
* Paul Tillich. A Dinâmica da Fé. São Paulo: Paulus, 2000.
* Jürgen Moltmann. O Espírito da Vida. Petrópolis: Vozes, 1999.
* Reinhold Niebuhr. A Natureza e o Destino do Homem. São Paulo: Novo Século, 2002.
AS EXPERIÊNCIAS DO DIA E DA NOITE
E O DESCANSO SEGURO
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha

Existem pessoas que trocam o dia pela noite e outras, a noite pelo dia. São pessoas que fazem o bem ou o mal. E, esta reflexão, servirá para a orientação que visa tão somente o bem de todos nós. É o que se espera, a fim de termos uma vida melhor.
Vive-se entre o dia e a noite — entre o trabalho e o descanso, entre a claridade da razão e as sombras da fé. Cada parte do tempo traz consigo experiências e lições.
O dia nos ensina a agir, e a noite nos ensina a confiar.
Mas em ambos, Deus nos convida a encontrar descanso n’Ele — um descanso que não é apenas físico, mas espiritual, profundo, restaurador.
AS EXPERIÊNCIAS DO DIA – TEMPO DE AÇÃO E RESPONSABILIDADE
O dia é o tempo da luz. É quando nos levantamos para cumprir os propósitos que Deus nos confiou. É o momento das decisões, das tarefas e dos encontros. Jesus mesmo disse: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou enquanto é dia.” (João 9:4)
O dia representa a vida ativa: o esforço, o trabalho, o testemunho. Mas também exige sabedoria e discernimento. É no dia que revelamos o que realmente está em nosso coração, pois a luz mostra tudo o que estava oculto.
Então, é bom que se viva o dia com consciência de que cada ato pode glorificar a Deus. Trabalhemos, sirvamos, ensinemos e vivamos de modo que a luz de Deus brilhe através de nossas vidas.
AS EXPERIÊNCIAS DA NOITE – TEMPO DE SILÊNCIO E DEPENDÊNCIA
A noite chega e com ela o silêncio, o recolhimento e, muitas vezes, a solidão. É o tempo em que as forças do corpo se esgotam e o coração se volta para dentro. Na noite, enfrentamos medos e lembranças, mas também ouvimos a voz suave de Deus. É como escreveu o salmista: “De noite o seu cântico estará comigo, uma oração ao Deus da minha vida.” (Salmo 42:8)
A noite revela nossa fragilidade. Mas é justamente aí que a fé floresce. Quando não vemos, confiamos. Quando não entendemos, descansamos.
Portanto, nas noites da alma — as noites da dor, da dúvida ou da espera — lembremos de que Deus não dorme. Ele vela sobre os seus filhos e filhas.
O DESCANSO – O ENCONTRO ENTRE O DIA E A NOITE
O descanso é o ponto de encontro entre o labor do dia e o silêncio da noite. Não é apenas o cessar das atividades, mas o repouso interior que nasce da confiança em Deus. O salmista declara:
“Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, Senhor, me fazes repousar seguro.” (Salmo 4:8)
O descanso verdadeiro é espiritual. Não depende das circunstâncias, mas da presença de Deus.
É o Sábado interior — o repouso da alma que já encontrou segurança em Cristo. Ele mesmo nos convida: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28)
Aprendamos a entregar o controle. Depois do trabalho e das lutas, confiemos que Deus cuida de tudo. O descanso é fé em forma de repouso.
Para concluir esta breve reflexão. O dia nos ensina a agir; a noite, a confiar; e o descanso, a depender. Em cada parte da vida, Deus se revela — na luz e na escuridão, na fadiga e no repouso.
Quando o coração aprende a descansar em Deus, nenhuma noite é escura demais e nenhum dia é pesado demais. “O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia, nem a lua, de noite.” (Salmo 121:5-6)
O verdadeiro descanso não está na ausência de trabalho, mas na presença de Deus.
Entre o dia e a noite, entre a luta e o silêncio, que nossas vidas encontrem repouso no Senhor.
SAINDO DA PRISÃO E VENDO O SOL BRILHANDO ✨
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha

O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra da sombra da morte resplandeceu a luz.” — Isaías 9:2
Imaginemos alguém que está preso, cercado de paredes e grades de ferro, e também algemada com correntes. Der repente, os portões são abertos e as correntes são quebradas, e essa pessoa que recebeu a sua carta de liberdade sai e contempla o sol brilhando. É algo maravilhoso esse novo estado de liberdade.
Há momentos em que a vida se torna uma prisão. Nem sempre com grades de ferro, mas com paredes invisíveis de dor, medo, culpa ou solidão. Muitos vivem presos a lembranças, pecados passados, ou a situações que parecem não ter saída. Mas quando Deus decide agir, nenhuma prisão é forte o suficiente para resistir ao poder da Sua luz.
O período de tempo da prisão
Na prisão, o tempo parece não passar. O coração sente o peso da espera, e os olhos se acostumam à escuridão.
Assim também acontece com a alma aprisionada pelo pecado, pela tristeza ou pela falta de fé.
Mas Deus nunca esquece os que estão em cativeiro. Ele visita as prisões do corpo e do espírito, como visitou José no Egito, Daniel na cova e Pedro na cadeia. “E eis que sobreveio um anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão...” (Atos 12:7)
A luz linda e intensa da libertação
Sair da prisão e ver o sol brilhando é um símbolo poderoso. O sol representa a presença de Deus, o recomeço, a vida nova. Quando os portões se abrem, não é apenas o corpo que sai — é a alma que desperta.
O prisioneiro liberto ergue os olhos e percebe que o sol sempre esteve lá, mesmo quando ele não podia vê-lo. Assim é o amor de Deus: constante, mesmo quando as nuvens da dor tentam escondê-lo.
A maravilhosa graça do recomeço
Deus é especialista em recomeços. Ele não apenas tira a pessoa da prisão, mas também tira a prisão de dentro da pessoa. Liberta da culpa, da vergonha e do medo, e enche o coração de nova esperança.
Quem um dia viu o sol nascer após uma longa noite de cativeiro sabe o valor da graça divina. Aprende que a liberdade verdadeira vem de Cristo, e que só Ele pode restaurar o brilho da vida. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36)
Sair da prisão e ver o sol brilhando é testemunhar o poder da misericórdia divina. É entender que nenhuma noite é eterna, e que a luz de Deus sempre vence as trevas.
O sol que brilha lá fora é o mesmo que Deus faz nascer dentro de nós — a luz da fé, do perdão e da esperança.
Deus não apenas abre portas, Ele abre horizontes.
Quem hoje vê o sol brilhando depois da prisão, que saiba: o tempo da dor passou, e o tempo da graça começou.

COBRINDO A NUDEZ EM TEMPO DE AMORES Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha “Passei por ti, olhei-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores...