quarta-feira, 25 de maio de 2022

O CREDO DE NICÉIA

No Concílio de Nicéia realizado no ano 325 d.C., convocado pelo imperador romano Constantino, Eusébio de Cesaréia, o famoso historiador cristão, sugeriu a adoção de sua própria igreja. A cidade de Nicéia ficava na Bitínia, Ásia Menor. Foi lido e aprovado em Calcedônia, no ano de 451 d.C., como sendo o credo dos 318 teólogos, pais da Igreja, conciliares de Nicéia e dos 150 teólogos que “se reuniram em outra oportunidade”, em Constantinopla, no ano 381 d.C. Daí ser frequentemente mencionado como “Credo de Constantinopla” ou “Credo Niceno-constantinopolitano”. Muitos críticos opinam ser a revisão do credo de Jerusalém transmitido por Cirilo. Assim, era fundamental que a Igreja pudesse formular de maneira organizada a sua fé de modo trinitário, a partir da natureza de Cristo e de suas relações com o Pai.

O Credo de Nicéia, que segue abaixo, consta um desdobramento da doutrina da Igreja, e é lido sempre nos cultos do Senhor, aos domingos, de forma comunitária, a uma só voz, no sentido de se fazer a Afirmação de Fé eclesial. A leitura do Credo sempre precede à Celebração do Santo Sacramento da Ceia do Senhor. Serve como preparação para se tomar a Eucaristia.

É na realidade uma síntese do que a Igreja crê e professa na sua trajetória na história da salvação. Assim consta:

CREMOS EM UM SÓ DEUS, Pai todo-poderoso, criador do céu e da  terra,  de   todas as coisas visíveis e invisíveis; e  em  UM    SENHOR  JESUS  CRISTO,  o unigênito  Filho de Deus,  gerado  pelo  Pai  antes  de  todos  os  séculos,  Luz  de  Luz,    verdadeiro  Deus de Verdadeiro Deus,  gerado, não feito, de uma só substância com o  Pai,  pelo  qual  todas  as coisas foram feitas; o qual, por  nós homens e por nossa salvação,  desceu  dos  céus,  foi  feito carne do Espírito Santo  e da Virgem  Maria,  e  tornou-se  homem, e  foi  crucificado por  nós sob o   poder de Pôncio Pilatos, e padeceu, e  foi  sepultado, e  ressuscitou  ao  terceiro  dia  conforme as Escrituras, e subiu aos céus, e assentou-se à direita do Pai,  e  de  novo     de  vir com glória para  julgar  os  vivos  e os  mortos, e  seu Reino  não  terá   fim;   e  NO  ESPÍRITO SANTO, Senhor e Vivificador, que  procede do Pai, que com o Pai e o Filho  conjuntamente  é adorado e glorificado,  que  falou a través dos Profetas; e NA IGREJA una, santa, católica e apostólica;  confessamos um só batismo para a remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro”.

Que a nossa fé seja confessada dia a dia. Que o nosso ser seja tocado profundamente pela ação da Santíssima Trindade, fazendo que a Igreja seja uma comunidade de serviço a Deus no serviço ao ser humano.

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha





domingo, 22 de maio de 2022

NÃO VOS DEIXAREI ÓRFÃOS...” 

Texto Bíblico: João 14.16-31

·  Um dos ensinamentos bíblicos que mais nos trazem conforto é o fato de sabermos que não estamos sozinhos neste mundo. Os desafios que sempre estão diante de nós são vencidos pela graça de Deus.

·  A nossa segurança própria não nos garante nenhuma vitória, pois o ser humano em seu estado de queda não pode atingir a vida autêntica. Porque no estado de queda qualquer movimento do ser humano é um movimento do ser humano caído.

·   Deus não deixou o ser humano sem apoio neste grande mundo, entregue às suas próprias misérias; no pecado que desumaniza a pessoa, fazendo-a contumaz em sua própria existência, a ponto de não ser mais feliz.

EXPLICAÇÃO DO TEXTO

·  Encontramos no Evangelho segundo João a ação de Jesus Cristo, no sentido de não permitir que seus discípulos ficassem sozinhos neste mundo. Ele promete um outro Consolador (parakletos em grego). Indica alguém que é chamado para estar ao lado, como ajudador ou defensor. Um amigo no tribunal, pois era uma palavra utilizada juridicamente.

·  Eis a promessa de Jesus aos discípulos: “Não vos deixarei órfãos...” (João 14.18). O Senhor teria de cumprir a sua missão messiânica, no sentido de preparar as pessoas para terem a verdadeira concepção de Deus, de ser humano e de salvação. O fim principal era de resgatar a dignidade do ser humano, objeto do amor de Deus, pelo serviço que marcou a nova realidade, onde toda a estrutura paradigmático-escravizante se fez cair por terra, fazendo com que a vida humana seja de obediência e glorificação a Deus.

·  O Espírito Santo como dom do Pai e do Filho, segundo o ensino do Novo Testamento, encontra a sua permanência definitiva com os discípulos, com a Igreja; não só com eles, mas neles. Irá ajudar especificamente os discípulos, para compensá-los pela perda da presença visível de Jesus.

·  É importante observar dois pontos fundamentais: 1) O Espírito é chamado de outro parákleto; o primeiro é Jesus. O Espírito continuará a missão até agora desempenhada por Jesus, no tempo de sua ausência; por isso, já não está certo falar em ausência; 2) O Espírito vem para os discípulos, mas não para o mundo. Há uma oposição entre os discípulos e o mundo (v.19). Os discípulos receberão o Espírito, o mundo não. O mundo não é capaz de apreender, nem de receber o Espírito.

Quais as implicações da missão do Consolador?

1 – O POVO DE DEUS NÃO ESTÁ SOZINHO (v. 16-20)

A) Não vos deixarei órfãos...” – O órfão é aquele que está privado do seu provedor natural. Mas o Espírito Santo é o ajudador em toda a caminhada;

B) Essa ajuda é a promessa feita por Jesus de forma certa e definitiva. Não é nada transitório. “Ele habita convosco”;

C) O Espírito Santo tem a missão de agir no crente, mostrando a verdade que ele deve trilhar e o prepara em santificação para o encontro com Deus no julgamento.

2 – NUTRE O AMOR E GUARDA A PALAVRA DE DEUS (v. 21-24)

A) Guardar os mandamentos está relacionado com o amor a Deus. São admitidos na unidade com o Pai, o Filho e o Espírito, aqueles que amam ao seu Senhor vivo e demonstram seu amor com sua obediência;

B) O Pai que ama o Filho, ama os que estão unidos ao Filho, e estes, amados assim pelo Pai, têm a certeza de que o Filho também os ama e se revelará a eles;

C) Santo Agostinho: “O Espírito é o vínculo do amor (vinculum caritatis) que une o Pai e Filho, e é expressão plena do amor que flui entre o que ama e o Amado.”

3 – VIVE NA PAZ DO SENHOR QUE VENCE OS DESAFIOS (v. 27-31)

A) A Paz (Shalom) é o legado de Jesus. A expressão SHALOM era e é o cumprimento dos judeus quando amigos se encontravam e se despediam. É o aspecto comum da sociedade;

B) A palavra de paz que Jesus estava desejando ao partir era diferente da que era comum no mundo. O que Ele chamou de minha paz era algo de profundo e duradouro, é a paz que expulsa a ansiedade e o medo;

C) Paulo fala no mesmo sentido da “Paz de Cristo”, que serve de árbitro no coração dos cristãos, mantendo a harmonia entre eles (Cl 3.15), e da “Paz de Deus” que guarda seus corações e mentes, impedindo que a ansiedade entre (Fp 4.7).

·   Aqueles que creem  em Jesus têm a promessa do consolo do Espírito Santo. Sendo assim, não pode existir orfandade na caminhada, uma vez que os que guardam a Palavra de Deus em seus corações, vivem na plena Paz do Senhor.

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha



 

sexta-feira, 20 de maio de 2022

 SUBVERSÃO RADICAL DA SITUAÇÃO OPRESSORA

“Bem-aventurados vós... Mas ai de vós...” (Lucas 6.20b, 24a) 

Nos evangelhos de Mateus 5.1-12 e Lucas 6.20-23 acha-se a expressão “Bem-aventurados” dita por Jesus Cristo. Mas, também é evidenciada uma outra expressão em Lucas 6.24-26: “Mas ai de vós...”  Isto mostra um contraste acentuado proferido pelo Filho de Deus que veio a este mundo para subverter a situação existente: uma situação de opressão, geradora de miseráveis.

Subverter significa: virar de cabeça para baixo, inverter, mudar, transformar. É o que Jesus Cristo afirma em relação àqueles que estão sofrendo; que estão famintos, aflitos e perseguidos. Jesus promete o Reino de Deus aos que estão na miséria, na dependência e na dor. Ele os chama de Bem-aventurados. Isto quer dizer que há esperança para esses que estão sofrendo por defenderem o direito, a bondade e a justiça. Mas, para os que cofiam em si mesmos e exploram os mais fracos a palavra é de um tremendo julgamento: “Mas ai de vós...” Não existe meio termo para quem provoca o sofrimento dos outros. Não haverá parcialidade.

O contraste que elucida a subversão é bem característico como gênero literário da Bíblia, encontrando um paralelo forte com o Salmo 1, onde há uma diferença entre aquela pessoa que anda no caminho do Senhor e a que dessa forma não procede. Ainda no livro do profeta Jeremias observa-se o desdobramento da ideia tão explicitada por Jesus: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor” (17.5). Mas, “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (17.7). Estas palavras têm um tom especial que traduzem a subversão da prepotência daqueles que são astutos, folgazões e arrivistas. Estes se iludem com a sua própria segurança.

A subversão está na Bem-aventurança, que não consagra a situação dos pobres, dos famintos ou dos aflitos como condição para acolher o Reino de Deus. Jesus não promete aos pobres tornarem-se ricos, porque se assim fora, haveria a continuidade da opressão. O que Jesus está afirmando é a subversão, a virada, a mudança no sentido de haver a verdadeira justiça, ou seja, a concretização do Reino de Deus que faz surgir novos homens e novas mulheres.

O texto do Evangelho é dirigido aos discípulos, à Comunidade, à Igreja. Sendo assim é mister que todos os que se chamam pelo nome de Jesus Cristo não se intimidem com os que estão querendo tirar a paz e impedir a labuta em prol de um mundo melhor. Ainda que se tenha de oferecer a própria vida pelo bem, certamente a vitória despontará como promessa garantida pelo Deus que concede a Bem-aventurança. Assim, é necessário contemplar essa subversão com os olhos da fé e da esperança militantes, crendo que somente a confiança em Deus vai garantir aquela total derrota do mal em toda a sua dimensão. 

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha



terça-feira, 17 de maio de 2022

“SAI DAÍ, PORQUE É QUENTE E PESADO!”

No período de 1983 a 1986 trabalhei no Estaleiro EMAQ – Engenharia de Máquinas, uma das empresas mais consideradas no Rio de Janeiro, cuja especialidade era a de construir navios e máquinas. O EMAQ construía navios para vários países do continente europeu. Juntamente com outros estaleiros gerava muitos empregos. Nesse tempo a indústria naval era motivo de felicidade para muitas famílias cariocas. Tive o privilégio de ser aprovado nessa empresa, bem como aprender uma profissão muito importante que era a de montar peças de navios. Eu me sentia muito importante quando a EMAQ lançava um navio ao mar. Era sempre dia de festa em um pedacinho da Ilha do Governador. Muitas autoridades se faziam presentes, tanto nacionais como internacionais. Haviam sempre solenidades com suas liturgias, ocasiões em que se davam os batismos dos navios, com seus respectivos nomes. Era certa a presença de um sacerdote da Igreja Católica Romana e os cânticos do Coral Evangélico, pois na Empresa havia uma igreja evangélica que congregava muitos funcionários de todas as denominações cristãs nos dois horários do dia. Durante os cultos todos os funcionários evangélicos estavam no mesmo nível. Enfim, eu tinha a maior alegria de trabalhar naquela empresa.

Certo dia do ano de 1984, na parte da manhã, estávamos o oficial e eu, montando uma peça no costado (lado de fora) de um navio em construção, próximo à popa. Era uma embarcação de 65 mil toneladas. O andaime estava montado a uma altura bem próxima da água, talvez uns seis metros. O oficial me avisou que precisava sair para atender a uma necessidade e pediu para que eu o aguardasse. Havia uma regra na empresa que ninguém poderia trabalhar sozinho, em certas ocasiões. Assim permaneci.

Enquanto o oficial não retornava eu aproveitei aquele momento para orar e cantar os cânticos que aprendia na igreja, contemplando também o vasto mar e o céu criados por Deus. Naquele instante ouvi uma voz no mais íntimo do meu ser: - “Sai daí, porque é quente e pesado!”. De repente caiu uma pequeníssima faísca e obedeci à voz. Saí imediatamente. Quando saí bem rápido, sendo obediente à ordem para sair, caiu no lugar onde eu estava uma barra de ferro quente de aproximadamente uns 70 centímetros de comprimento e duas polegadas de espessura. O ferro tinha acabado de ser cortado por um maçariqueiro que estava no convés principal, com seu maçarico tenaz e impiedoso. Naquele momento fiquei assombrado e ao mesmo tempo agradecido a Deus pelo grande livramento.

Quando o oficial retornou contei o que tinha acontecido. Ele me disse que tínhamos de subir ao convés principal do graneleiro que estava sendo construído e falar com o funcionário responsável por aquele ato. Fomos até o local. O oficial conversou com o maçariqueiro sobre o ocorrido. Ele nos pediu mil desculpas, e passou a ter mais cuidado. Nós entendemos que não haveria a necessidade de fazer alguma denúncia, uma vez que resolvemos na santa Paz o problema e aquele homem não perderia o seu emprego.

Retornamos para o nosso lugar de trabalho. Agradeci o apoio e a preocupação do oficial e disse a ele que Deus preservou a minha vida. Ali, pude testemunhar do amor de Deus e demonstrar àquele oficial que há um Deus que cuida das pessoas. O oficial, a partir daquele dia passou a ter uma atitude diferente em relação à fé em Deus. Nos tornamos amigos.

Em relação ao que aconteceu, percebi a fragilidade da vida, a providência de Deus e a oportunidade de testemunhar cada dia mais as maravilhas do Senhor Deus. O Senhor preservou a minha vida porque no seu plano eu estava incluído, mesmo sem saber, que eu seria um instrumento nas divinas mãos, apesar de ser como a flor, que de manhã chega à sua formosura, e de noite murcha e seca.

Se os filósofos ou os profissionais da mente entenderem que foi a minha intuição, tenho e terei o maior respeito. Todavia, uma coisa é certa: Deus fala. Aquela foi a voz de Deus: - “Sai daí, porque é quente e pesado!”

Nelson Celio de Mesquita Rocha



quinta-feira, 12 de maio de 2022

O DOMINIQUE, O MOSQUITO E O TEATRO

Dominique era um senhor francês, residente na Cidade do Rio de Janeiro, mas ainda conservava um sotaque bem típico de um europeu falando a língua portuguesa. Simpatia e alegria sobravam no Dominique. Eu gostava muito das estórias, histórias e piadas inteligentes que ele contava quando ia ao escritório onde eu trabalhava, no Edifício Av. Central. Ele vendia títulos do Clube do Ingá, localizado em Teresópolis-RJ. Como um bom francês, educado, contrastava com o jeito do homem brasileiro de ser e de falar. Mas, o que importava eram as estórias, as histórias e as piadas inteligentes que ele narrava.

Certa ocasião, talvez no ano de 1977, não me lembro o dia e nem a hora, porém era de tarde, um pouco depois do almoço, Dominique contou uma estória com o tom de piada de salão. As piadas de salão são aquelas em que as grosserias e os palavrões não são permitidos sendo possível contá-las em círculos e ambientes convencionais. São histórias curtas, para serem contadas rapidamente e demonstram um espírito irreverente e excêntrico da pessoa que as conta.

Ele deu início, desenvolveu e concluiu da seguinte maneira.

Havia uma família tradicional de mosquitos, de classe média, ocasião em que o pai havia falecido, e o filho residia sozinho com a mãe. O filho, o jovem mosquito era muito estudioso e trabalhador. Tinha amigos que gostavam de ir ao teatro. Nesse tempo, o teatro era de primeira linha. Para assistir às peças era necessário comprar antecipadamente os ingressos. Era uma peça muito famosa. Todos queriam ver a peça e filas se formavam para se adquirir ingressos.

O jovem mosquito, como fazia sempre, arrecadou antecipadamente o dinheiro dos amigos e comprou os ingressos no próprio teatro. Parece-me que era um teatro no centro de Paris, na terra do Dominique. A peça passaria no sábado próximo naquela semana de intensos trabalhos e estudos na faculdade. Então, se tornaria uma boa oportunidade de reencontrar os amigos e relaxar. E, assim foi.

Chegou o sábado, o dia da peça. Naquele tempo os horários de teatro eram bem tarde. Não tinha a violência que tem hoje. Era até um charme chegar tarde em casa. Afinal de contas, ninguém é de ferro!

O jovem mosquito começou a se arrumar, depois de um banho e a aplicação de um perfume francês caríssimo de nome “Madeira do Oriente”. Dentro do frasco do perfume havia um pedacinho de madeira. Depois, começou a se vestir com uma roupa típica de teatro, bem diferente de hoje (Século XXI). A senhora Mãe do jovem mosquito começou a ficar preocupada, porque o horário do teatro era tarde e, portanto, seu filho voltaria de madrugada com os seus amigos. Coração de mãe é assim mesmo. Ela insistiu em pedir que seu filho não fosse ao teatro, mas seria impossível isso acontecer, pois os ingressos já estavam comprados e o encontro marcado. Não havia jeito mesmo de atender ao pedido da mãe.

A mãe, preocupada, pediu ainda mais algumas vezes para o seu filho não sair. Não havia acordo. Mas, ela resolveu fazer um alerta de mãe preocupada. O jovem mosquito parou para ouvir o que a sua mãe tinha a lhe pedir.

A mãe do mosquito, com a voz embargada de cuidado lhe chamou a atenção para o seguinte: - Meu filho, você é meu único filho. Também seu pai não está mais entre os mortais. E você é tudo o que eu tenho neste mundo. – Diga logo minha mãe! – É meu último pedido: - Meu filho querido, tome cuidado com os aplausos.

Eu ri muito. Até hoje rio muito. Lembro-me do Dominique como se ele vivesse agora. Trago sempre na lembrança o Dominique, o Jovem Mosquito e o Teatro.

Nelson Celio de Mesquita Rocha 




quarta-feira, 11 de maio de 2022

“IN PRIMO LOCO” – UMA EXPERIÊNCIA LATINA

Foi no início de uma tarde de verão, por volta do ano de 1977, no centro do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, quando eu trabalhava em um escritório de Arquitetura, a antiga STOP – Sociedade Técnica de Obras e Planejamento, localizada no Edifício Central. Eu ocupava o cargo de Auxiliar de Escritório. Nessa época, eu trabalhava e estudava. Não tinha muito tempo para ficar à toa na vida e ver a banda passar.

Dentre os arquitetos da STOP havia um que gostava muito de conversar comigo. Ele tinha cabelos grandes e grisalhos, tinha uma barba grande, e me lembrava a fisionomia de Karl Marx, constante nos livros. Eu, como sempre gostava de estudar, aproveitava as oportunidades vagas para perguntar alguma coisa sobre matemática ao o Dr. Afonso, pois eu o admirava muito pela sua paciência e intelectualidade.

Em uma dessas ocasiões, o Dr. Afonso me pediu para comprar alguns remédios. Ele era muito detalhista e passou a me dizer os nomes dos remédios que eu deveria comprar. Puxou da carteira uma quantia de dinheiro e me entregou, a fim de fazer a compra. E, passou a me explicar.

- Nelson, “in primo loco” compre Melhoral, Pepsamar e Sonrisal.

Disse eu – Dr. Afonso, Melhoral, Pepsamar e Sonrisal eu conheço, mas “in primo loco”, não. O que é? Quando o Dr. Afonso iria me explicar o significado, outro colega seu, um arquiteto muito importante, o chamou para falar sobre um projeto. E eu fiquei sem saber o que era o tal do “in primo loco”.

Pois bem, saí pelas ruas da Cidade Maravilhosa para comprar os remédios.

Consegui comprar os remédios, exceto o tal do “in primo loco”. Percorri todas as ruas e becos em que haviam farmácias. Na Rua da Carioca, um atendente me disse que não conhecia esse tal remédio “in primo loco”. Disse que somente conhecia um primo dele que era louco. Mas “in primo loco”, não.

O tempo estava passando... A tarde já estava quase declinando. Resolvi deixar de procurar o tal remédio, e levar apenas os que eram mais fáceis: Melhoral, Pepsamar e Sonrisal. Fiquei muito chateado. Não queria decepcionar o meu querido Dr. Afonso, meu “professor particular”.

Voltei para o Escritório. A Sra. Maria Amália que era a secretária da STOP, irmã do Arquiteto chefe, o Dr. Alfredo, bem como o Dr. Afonso e todos os que se encontravam lá, estavam preocupados por causa da minha demora, isto é, do  meu sumiço.

Quando cheguei esbaforido, encheram-me de perguntas: - Que houve Nelson? O que aconteceu? Pensamos que você tinha sido raptado por um disco voador. Naquela época estava uma febre de comentários sobre OVNIs – Objetos Voadores Não Identificados. Só se falava nesse assunto.

Eu, muito frustrado, disse-lhes: - Encontrei todos os remédios que o Dr. Afonso me pediu para comprar, mas não encontrei o remédio “in primo loco”.

Imediatamente, o Dr. Afonso deu uma boa gargalhada. E, todos começaram a gargalhar também. Perguntei: - Qual o motivo das gargalhadas?

O Dr. Afonso, que era um intelectual e muito detalhista, disse-me: - Nelson, “in primo loco” não é nome de remédio. Você é muito ansioso e não esperou eu explicar o significado. Disse eu: - Mas Dr. Afonso, o que significa? – Nelson, “in primo loco” é uma expressão em latim. Eu o quis dizer para em primeiro lugar comprar os remédios e depois ir ao Banco fazer um depósito. Mas você saiu correndo... Todos riram muito. E, eu com cara de bobo, comecei a rir também. Pedi desculpas e tirei uma grande lição: ouvir mais do que falar. Como eles gostavam muito de mim, os trabalhos pendentes ficaram para o outro dia. Saí depressa para São Cristóvão onde estudava no Colégio Estadual Olavo Bilac.

Essa foi uma “Experiência Latina” que me fez, posteriormente, em 1986, ganhar uma nota 10 na redação que fiz para a disciplina de Língua Portuguesa, no primeiro período da Faculdade de Teologia (Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro).

Rio de Janeiro – RJ – Brazil, 11 de maio de 2022.

Nelson Celio de Mesquita Rocha



sábado, 7 de maio de 2022

A SINGULARIDADE DO DOM MATERNO


O dom da maternidade não foi consignado pelo mundo científico, que tem o seu desenvolvimento mais acentuado nos dias de hoje, sob os efeitos da modernidade que teve seu início no Séc. XVII. Nada tem a ver com a febre produzida pelo consumismo, como se fosse algo medido e avaliado pelos bens de consumo que são veiculados pela mídia. O dom da maternidade é envolvido por uma singularidade que marca a natureza feminina. Mesmo que haja mulheres que não procriem, ainda assim, carregam dentro de si um sentimento tão intenso que, ao adotarem uma ou mais crianças, projetam todas as qualidades do dom materno para essa ou demais pessoas.

Infelizmente, a ética desenvolvida pelo gnosticismo (doutrina antibíblica que ensina que a matéria é má e o espírito é bom), remete a uma atitude inversa da sexualidade, no sentido de que se deve evitar a procriação. Sendo assim, o casamento é algo danoso e não pode ser considerado uma bênção, pois, a procriação é em si má, segundo esse pensamento. O casamento, segundo o ensino gnóstico, será tolerado apenas como uma necessidade da fraqueza humana (Serge HUTIN, Les gnostiques, que sais-je? Paris: 1978, pp. 66-70). Sob a orientação gnóstica, a mulher como mãe e esposa foi desconsiderada, passando antes a ser um mal ao mundo. Ensinos como esse tende a não considerar a maternidade com um dom.

O dom da maternidade é divino, conforme ensina a Bíblia (Gênesis 1.27-28; 2.18). A bênção divina sobre o homem e sobre a mulher aparece vinculada com frequência, ao dom da fecundidade (Gênesis 17.16,20; 22.17; 26.12,24; 28.3). Nada neste mundo, desenvolvido por mentes pobres de Deus, pode impedir a atuação da mulher no mundo como mãe, porque a sua natureza foi toda tecida pela graça de Deus, para comportar dentro de si uma outra vida que vem ao mundo.

Neste dia dedicado ao Dia das Mães, agradecemos ao Criador a excelente criação, que fez da mulher um ser que é capaz de suportar outro ser que tem as dimensões e propriedades da perpetuação da humanidade, em comum acordo com o homem. Agindo-se contrário à natureza, certamente os males terão suas consequências em nível antropológico. Mas, por outro lado, o reconhecimento e a gratidão pelo dom da maternidade, neste dia, e em todos os demais dias do ano, configuram-se como uma realidade que envolve algo especial, pois, ser mãe é ser instrumento de Deus.
Que Deus continue, com a sua abundante graça, derramando suas bênçãos sobre todas as mães neste dia, bem como em todo o seguimento da trajetória da humanidade.

Rev. Nelson Célio de Mesquita Rocha



sexta-feira, 6 de maio de 2022

Jeanne le Franc Calvin 

Preciosa e piedosa mãe do Reformador João Calvino

- Capítulo 1 -

O Primeiro Lar de Calvino

Com as mãos a proteger os olhos, a mulher e o menino saíram da meia-luz da catedral para a praça ensolarada onde o burburinho da feira contrastava com a solidão do templo.

Como sempre, a praça estava apinhada de gente e animais. Os moleiros já, começavam a cutucar seus asnos para que se encaminhassem de volta a roca. Voltariam com seus lombos vazios das cargas de fubá vendidas na feira. Homens a cavalo matraqueavam sobre o calçamento irregular. Aqui e ali, com vestes pretas e marrons, padres e monges iam a caminho.

A mulher quase nada via disso tudo. Seus olhos ainda estavam embaciados pela emoção das suas confissões. Seus lábios mal haviam cessado suas preces aos santos. Consideravam-na mulher piedosa. Diziam até que ela era tão piedosa quanto bela, o que significava ser piedosa de verdade. Mas o menino, embora meio escondido pelos largos panos do xale materno, via tudo com seus pequenos mas matreiros olhos.

Pisando entre fardos e bruacas e esbarrando entre cotovelos e bichos esparramados pelo centro da cidade, mãe e filho atravessam a praça e chegam em casa. Entram de mansinho, porquanto o lar era um escritório também. Atrás dos vidros esverdeados das janelas, o chefe da casa, sentado a sua mesa, cuidava dos negócios da igreja. Gerard Calvin era advogado dos padres e cônegos. Era secretário do próprio bispo. Os homens que trabalhavam para a igreja estavam sempre entrando e saindo por essa porta. Eles questionavam e gritavam nos seus ouvidos. Maquinavam e faziam intrigas para melhorar a situação de cada qual. E, na hora do aperto, precisavam do seu advogado para ajudá-los. Gerard Calvin trabalhava infatigavelmente na sua importante tarefa a favor dos homens da igreja. Era um homem astuto, respeitado por todos. Era sagaz, também, no tratamento dos seus próprios interesses.

O advogado da igreja estava galgando posição no seu pequeno mundo. Vinha fazendo assim desde o dia em que deixara a vila do seu pai e largara o oficio paterno, Por que ser tanoeiro, fabricante de barris e pipas, quando se poderia manejar uma pena em vez de um martelo? O filho do tanoeiro instalara-se, pois, em Noyon, cidade francesa amuralhada, a meia hora da casa de seu pai. Diziam que Gerard Calvin tivera sorte ao casar-se com Jeanne le Franc, bela filha de um rico hoteleiro aposentado. O primeiro filho chamava-se Charles.

Os dois seguintes morreram na infância. Então viera João, o menino dos olhos vivos, nascido as treze horas e vinte e sete minutos do dia 10 de julho de 1509. Depois dele, nascera mais um menino, chamado Antoine, Jeanne le Franc Calvin falecera quando seu filho João tinha apenas três anos de idade. Uma madrasta veio residir no lar dos três meninos, acrescentando duas filhas a família.

Embora raras vezes mencionasse os primeiros anos da sua vida, João, anos mais tarde, descreveu uma breve peregrinação que ele havia feito com sua mãe. Por duas horas caminharam juntos pelo vale até chegarem ao santuário de Sant'Ana, segundo diziam, avo terrena do Senhor. Erguido por sua mãe, o menino João beijara a relíquia preciosa da caveira de Sant'Ana que estava exposta num receptáculo dourado, cercado de velas e flores e das faces reverentes de outros romeiros. Diziam que esse pedaço de osso era uma relíquia toda especial. O sacrário, por conseguinte, estava sempre repleto. Podia-se, no entanto, encontrar relíquias em Noyon também, todas adoradas como se fossem verdadeiras.

Naqueles dias o povo se dispunha a crer em qualquer coisa. A igreja dizia que havia alguns cabelos de João Batista, um dente do Senhor, um pedaço de maná do Velho Testamento, e algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães. Havia na catedral um fragmento da coroa de espinhos. Havia, também, relíquias de menor importância, tais como os restos de um tal Santo Elói. Os monges do mosteiro e os padres da catedral sempre discutiam sobre a verdadeira localização dos ossos daquele santo: se no mosteiro ou na catedral. Era uma discussão cerrada e interminável. Nem mesmo o parlamento francês conseguiu solucionar o problema.






segunda-feira, 2 de maio de 2022

 

SALVAÇÃO E ÉTICA SOB A ÓTICA MATEANA

 

  • Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? (Mateus 21:33-42)

  

Qual é a relação que existe entre salvação e ética na parábola acima narrada por Mateus?

Em primeiro lugar é preciso que se entenda o significado de “salvação”. Depois, o significado de “ética”.

Em último lugar, deve-se relacionar e aplicar, são somente na exposição teórica, mas na prática do cotidiano.

A “salvação” significa toda a obra de Deus em Cristo Jesus, nos reconciliando consigo, e indo às últimas consequências para nos conferir o livramento da condenação imposta pelo pecado.

Quanto à “ética”, significa a conduta daqueles que são salvos. Na língua grega “ethos”, traduz-se por “costume, disposição, uso, regra”. Sendo assim, a ética é a conduta do indivíduo salvo, quer individual ou coletivamente.

Ao verificarmos o texto neotestamentário, percebemos a ética de Jesus, demonstrada através de seu ensino. Desta forma ele diz: “Atentai noutra parábola” (v. 33). Jesus foi mais do que um simples mestre, porém, um mestre vindo da parte de Deus. Jesus ensinava com autoridade, eficácia, habilidade, métodos e conteúdo riquíssimos. O seu ensino estava em sintonia com sua vida e conduta. Assim, seus ensinos compõem a tradição viva da Lei Divina, que exige dos que são salvos um olhar para Jesus de Nazaré, através da luz refletida na Ressurreição, isto é, na experiência de fé.

Qual é o significado da parábola? A morte do filho enviado como tentativa do proprietário para obter os frutos do sítio, é a chave de leitura do relato. Jesus pretendeu prenunciar seu fim trágico, prefigurando no filho assassinado seu próprio destino. Manifestou, também, a clara consciência de ser o enviado do Pai e indicou a terrível responsabilidade dos judeus daquela época, prontos a justifica-lo. A parábola desvela discretamente o mistério da pessoa de Jesus e a sua missão. Enviado por Deus por Deus como a última e definitiva tentativa possibilidade de salvação para Israel, é rejeitado e levado à morte por um povo incrédulo. Ele é um messias jurado de morte.

A conduta dos judeus do tempo de Jesus, principalmente da liderança religiosa, não condizia com a ética do Reino de Deus. Eles rejeitaram a Jesus e também os seus ensinos. Eles crucificaram o Filho de Deus, juntamente com os romanos. O significado é claro: o proprietário da vinha é Deus; os servos são os profetas; o Filho é Jesus; os lavradores são os judeus que se opuseram a Jesus; a morte é a crucificação; e a remoção dos lavradores é a transferência do Reino para um novo povo de Deus, que inclui os gentios.

O que podemos aprender para hoje, sobre o ensino da parábola?

SALVAÇÃO E ÉTICA SE TRADUZEM NA ACEITAÇÃO DA MISSÃO DE JESUS COMO ENVIADO DO PAI.

No Antigo Testamento os profetas, que foram os enviados de Deus, falaram e sofreram nas mãos do antigo povo de Israel. Foram espancados, presos e degolados pela rejeição. Esta era a sorte dos profetas. Nenhum deles foi aplaudido pela pregação que realizavam.

No Novo Testamento há o registro da rejeição de João Batista, o arauto, e depois rejeitaram a Jesus, o Filho de Deus. A sua missão era a de restaurar o povo, mas não houve aceitação.

SALVAÇÃO E ÉTICA IMPLICAM NA OBSERVÂNCIA DO ENSINO DE JESUS QUE CONVIDA À PRÁTICA.

Os fariseus, saduceus e escribas diziam que conheciam a Deus, mas não praticavam a Lei Divina.

Quem ensina deve praticar. Praticando o ensino do Mestre haverá uma conduta sem dolo. Assim, a segurança dos salvos tem de estar jungida à ética de Jesus.

SALVAÇÃO E ÉTICA SÃO MARCAS EVIDENTES DA MISSÃO DOS SALVOS, HOJE, EM CONTINUIDADE AO MINISTÉRIO DE JESUS.

A Igreja é denominada no Novo Testamento como o corpo de Cristo na terra, no mundo. Ela é a própria missão de Deus na existência humana de todas as eras.

Uma pergunta: como a Igreja tem continuado a missão de Jesus? É claro, todos pecamos ou falhamos. Mas, se existe uma permanente falha na missão da Igreja, na sua conduta de vida, faz-se necessário parar e repensar na caminhada. O esquecimento dos ensinos de Jesus faz que os salvos se desviem de sua missão.

A conduta dos filhos e filhas de Deus está fundamentada na vida e obra de Jesus de Nazaré.

Hoje e em todo o tempo de nossa existência, urge que continuemos a obra de Deus, pois é gratificante servir com alegria a quem se entregou por nós, dando-nos a verdadeira vida.

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha




domingo, 1 de maio de 2022

DESCRIÇÕES DE UMA VIDA CRISTÃ EFICIENTE

Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 9.28-43
Uma vida inerte é uma vida atolada no mar da descrença. É vida sem movimento, sem ação, sem dinamismo. Sendo assim, perde o seu objetivo. Perde a sensibilidade para realizar qualquer empreendimento.
De que vale uma vida sem participação?
Uma vida com Deus exige comunhão e ação no seu mais profundo sentido. É uma vida que não se entrega ao comodismo ou a certas ilusões triunfalistas.
SOBRE O TEXTO BÍBLICO
O relato evangélico fala da preocupação do Senhor Jesus em viver uma experiência espiritual com seus discípulos. A maior bênção da vida cristã é desfrutar da comunhão com Jesus. A sua companhia é profundamente sublime.
Bom é estar com Jesus. “Bom é estarmos aqui” – disse Pedro.
O relato fala também que a vida cristã não é resumida apenas a momentos de contemplação – uma vida que fica somente no “Monte da Transfiguração”.
A Igreja não foi convocada para viver momentos maravilhosos somente. O texto bíblico de Lucas 9.38-40 mostra a necessidade de um pai altamente aflito, por causa de seu filho, o qual achava-se atormentado por um demônio. “Se apodera dele e, de repente, grita e o atira por terra, convulsiona-o até espumar, e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado”.
Os discípulos não puderam expelir o demônio. Mas eles não acabaram de descer do monte? Isto mostra que o lugar da vida cristã não é de contemplação somente, mas também de movimento, de dinâmica, de ação.
A vida cristã é de comunhão e de ação ao mesmo tempo. É de oração, porque é a luta contra o desespero e a descrença no coração das pessoas. É de ação em face do testemunho que se tem de dar na sociedade em que vivemos.
O texto do Evangelho destaca o contraste entre a experiência no alto do monte e a experiência no vale. Ensina sobre como a Igreja e o cristão em particular devem viver neste mundo tão conturbado.
O QUE PODEMOS APRENDER DO ENSINO DE JESUS PARA VIVERMOS DE MODO EFIECIENTE:
1 – É PRECISO VIVER TODOS OS MOMENTOS NA PRESENÇA
DE JESUS
O Senhor prometeu estar presente na vida de sua Igreja, todos os dias, até a consumação do mundo (Mateus 28.18-20). Deus é o Deus que age; o Deus que não está ausente. O Senhor jamais se afastará do seu povo.
Na presença do Senhor há alegria plena (Lucas 24.41). Nela encontramos o conforto e o consolo para continuarmos a nossa caminhada por este mundo.
A presença de Deus nos dá confiança e a certeza da própria vida. Essa presença torna a vida humana mais eficiente.
2 – É FUNDAMENTAL VIVER SEM AS MARCAS DO
EGOCENTRISMO QUE É PECADO
É preciso viver sem pensar em si somente - Lucas 9.33. Pedro não sabia o que estava dizendo, embora as suas palavras pareçam para alguns como uma boa proposta.
As pessoas enclausuradas dentro de si mesmas, vivem em amargura e tristeza de espírito. A religião que enfatiza o individualismo foge dos parâmetros estabelecidos por Deus de uma vida dinâmica.
É de caráter urgente que se mantenha a comunhão horizontal – A vida só é vida em função do outro. Por isso Deus estabeleceu o casamento e a vida em comunidade.
3 – É EFICIENTE A VIDA QUE TEM COMO OBJETIVO A
LIBERTAÇÃO DOS OPRIMIDOS
Jesus ouviu aquele pai desesperado dizer: “Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam” (Lucas 9.40). O Senhor ficou muito triste com essa falta de vida eficiente (9.41).
O lugar da vida cristã não é no monte somente, mas também no vale, onde as pessoas sofrem - Atos 20.35: “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber”.
Quando a Igreja se mantém incapaz de acudir a necessidade das pessoas, contribui para a incapacidade delas.
Anunciar as “Boas Novas”, através da prática do Evangelho é o ensino da Palavra de Deus (Romanos 1.16; João 8.32).
Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha