sábado, 9 de julho de 2022

A IGREJA DE CRISTO E O EXERCÍCIO DA PLENA CIDADANIA

 

“Não peço que os tire do mundo, e sim que os guardes do mal” (João 17.15).

Sobre a relevância do assunto da Igreja e o exercício da plena cidadania, no momento que se chama hoje, as igrejas locais e os concílios, quer no âmbito local e em níveis regional e nacional, não levando em conta a posição denominacional, devem marcar a história da Igreja com o empenho dinâmico de construir uma nova sociedade, que tenha as bases concretas do Reino de Deus: justiça, paz e amor.

A “cidadania” é o conjunto de direitos e deveres exercidos por um indivíduo que vive em sociedade, no que se refere ao seu poder e grau de intervenção no usufruto de seus espaços e na sua posição em poder nele intervir e transformá-lo. Essa expressão vem do latim civitas, que quer dizer cidade. Antigamente, cidadão era aquele que fazia parte da cidade, tendo direitos e deveres por nela habitar. Atualmente, esse conceito extrapola os limites urbanos, podendo ser compreendido no espaço rural.

Na oração sacerdotal de Jesus consta a sua intercessão junto ao Pai, pelos seus discípulos, no sentido de que eles não se dissociassem do mundo, pois este é o campo de atuação, da missão que é a própria Igreja. Deus tem o seu propósito de redimir o homem e o cosmo, a partir da ação proclamadora da Igreja que, não prega a si mesma como instituição plena e única, mas a mensagem de uma nova ordem para este mundo. Assim, a Igreja de Cristo não deve se constituir uma comunidade hermética, mas abrir-se para exercitar a sua missão, cuja natureza é percebida no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

ORIENTAÇÃO PASTORAL

Quando se trata de orientação pastoral, significa aquilo que a Palavra de Deus ensina para haver plena conscientização. O enfoque bíblico se faz necessário, sob uma perspectiva hermenêutica contextualizada, fugindo-se do fundamentalismo e liberalismo teológicos, permitindo-se pensar de forma equilibrada, a fim de que todos possam participar na construção de um mundo melhor, pois como seres humanos, e muito mais, como seres transformados por Cristo Jesus, considerando que a salvação cristã está inscrita na própria criação de Deus.

Tanto o púlpito da Igreja como o ensino da Escola Dominical, devem estar em harmonia nesse sentido, para haver a plena conscientização do exercício da PLENA CIDADANIA. A Bíblia nos ensina que somos cidadãos do Céu, mas também comprometidos com as coisas da terra.

DENÚNCIA DAS CAUSAS DA EXPLORAÇÃO INESCRUPULOSA ENTRE OS SERES HUMANOS, SOB QUAISQUER ÂNGULOS

A Igreja é a consciência crítica do Estado, por isso ela caminha em paralelo. Ela é comunidade profética, sendo assim, tem a missão de denunciar as injustiças e todas as causas que fazem execrar a própria vida que é dom de divino.

As tentações que sobrevêm à Igreja para que esta desista de sua missão são as mesmas pelas quais Cristo passou, por exemplo:

1. O materialismo desenfreado. O consumismo e a febre do capitalismo selvagem, fazendo surgir      a descrença e como resultado, o afastamento do homem de Deus, de si mesmo e do                        semelhante; 
2. O fanatismo que afirma o que Deus não ordena. O mágico e o imediato, como fruto de uma          visão maniqueísta, que exclui uns e outros não. O toque de mágica de um mundo de fantasia,        fazendo surgir neuróticos espirituais;
3. O poder desestrurador do humano. Quem tem mais é poderoso. Quem não tem algo, torna-se        vulnerável em sua ação humana. Percebe-se que, sobre o ser não se tem interesse, por parte de      quem detém o poder, seja econômico ou político. A valorização do ter em detrimento do ser é        quase que um absoluto que circunda as dimensões sociais, envolvendo até o aspecto religioso.

A tradição bíblico-cristã bem entendida, vale muito para se reconhecer a forte realidade da criação, e de acordo com a sua disposição estabelecida por Deus em Gênesis 1 e 2. Tudo foi criado por Deus e o homem deve olhar por esse prisma. A sua missão deve ser resgatada: de cuidar da natureza e do seu semelhante.

É fundamental que a Igreja tenha uma linha cristológica de acordo com a salvação que está inscrita na Criação. Assim, se poderá resgatar o valor do humano, a partir da vida e da obra de Jesus Cristo, que se tornou plenamente humano. Sendo humano, Jesus nos ensinou a valorizar o outro, sem as tentativas de exploração.

Duas janelas devem estar abertas: uma vida no Espírito Santo (Pneumatologia) e uma vida voltada para a realidade. Fundamentado nesse princípio, toma-se como exemplo, a cosmovisão calvinista que tem a seguinte dimensão:

            1. Uma Relação Peculiar com Deus;
            2. Uma Relação Peculiar com o Próximo;
            3. Uma Relação Peculiar com o Mundo (Cosmo).

Trabalhando-se o aspecto humano pela via da Palavra de Deus, e principalmente, pela vida e obra de Jesus de Nazaré, olhando para o que está ao redor, quer em níveis individual e coletivo, pode-se chegar a ter não só um prelúdio de um mundo melhor, mas a encarnação daquilo que Deus planejou e estabeleceu em sua Palavra para ser cumprida na sua Igreja.

Agindo-se isoladamente, haverá o descumprimento e desobediência à Palavra de Deus. Juntos, podemos construir um mundo melhor.

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha