terça-feira, 17 de maio de 2022

“SAI DAÍ, PORQUE É QUENTE E PESADO!”

No período de 1983 a 1986 trabalhei no Estaleiro EMAQ – Engenharia de Máquinas, uma das empresas mais consideradas no Rio de Janeiro, cuja especialidade era a de construir navios e máquinas. O EMAQ construía navios para vários países do continente europeu. Juntamente com outros estaleiros gerava muitos empregos. Nesse tempo a indústria naval era motivo de felicidade para muitas famílias cariocas. Tive o privilégio de ser aprovado nessa empresa, bem como aprender uma profissão muito importante que era a de montar peças de navios. Eu me sentia muito importante quando a EMAQ lançava um navio ao mar. Era sempre dia de festa em um pedacinho da Ilha do Governador. Muitas autoridades se faziam presentes, tanto nacionais como internacionais. Haviam sempre solenidades com suas liturgias, ocasiões em que se davam os batismos dos navios, com seus respectivos nomes. Era certa a presença de um sacerdote da Igreja Católica Romana e os cânticos do Coral Evangélico, pois na Empresa havia uma igreja evangélica que congregava muitos funcionários de todas as denominações cristãs nos dois horários do dia. Durante os cultos todos os funcionários evangélicos estavam no mesmo nível. Enfim, eu tinha a maior alegria de trabalhar naquela empresa.

Certo dia do ano de 1984, na parte da manhã, estávamos o oficial e eu, montando uma peça no costado (lado de fora) de um navio em construção, próximo à popa. Era uma embarcação de 65 mil toneladas. O andaime estava montado a uma altura bem próxima da água, talvez uns seis metros. O oficial me avisou que precisava sair para atender a uma necessidade e pediu para que eu o aguardasse. Havia uma regra na empresa que ninguém poderia trabalhar sozinho, em certas ocasiões. Assim permaneci.

Enquanto o oficial não retornava eu aproveitei aquele momento para orar e cantar os cânticos que aprendia na igreja, contemplando também o vasto mar e o céu criados por Deus. Naquele instante ouvi uma voz no mais íntimo do meu ser: - “Sai daí, porque é quente e pesado!”. De repente caiu uma pequeníssima faísca e obedeci à voz. Saí imediatamente. Quando saí bem rápido, sendo obediente à ordem para sair, caiu no lugar onde eu estava uma barra de ferro quente de aproximadamente uns 70 centímetros de comprimento e duas polegadas de espessura. O ferro tinha acabado de ser cortado por um maçariqueiro que estava no convés principal, com seu maçarico tenaz e impiedoso. Naquele momento fiquei assombrado e ao mesmo tempo agradecido a Deus pelo grande livramento.

Quando o oficial retornou contei o que tinha acontecido. Ele me disse que tínhamos de subir ao convés principal do graneleiro que estava sendo construído e falar com o funcionário responsável por aquele ato. Fomos até o local. O oficial conversou com o maçariqueiro sobre o ocorrido. Ele nos pediu mil desculpas, e passou a ter mais cuidado. Nós entendemos que não haveria a necessidade de fazer alguma denúncia, uma vez que resolvemos na santa Paz o problema e aquele homem não perderia o seu emprego.

Retornamos para o nosso lugar de trabalho. Agradeci o apoio e a preocupação do oficial e disse a ele que Deus preservou a minha vida. Ali, pude testemunhar do amor de Deus e demonstrar àquele oficial que há um Deus que cuida das pessoas. O oficial, a partir daquele dia passou a ter uma atitude diferente em relação à fé em Deus. Nos tornamos amigos.

Em relação ao que aconteceu, percebi a fragilidade da vida, a providência de Deus e a oportunidade de testemunhar cada dia mais as maravilhas do Senhor Deus. O Senhor preservou a minha vida porque no seu plano eu estava incluído, mesmo sem saber, que eu seria um instrumento nas divinas mãos, apesar de ser como a flor, que de manhã chega à sua formosura, e de noite murcha e seca.

Se os filósofos ou os profissionais da mente entenderem que foi a minha intuição, tenho e terei o maior respeito. Todavia, uma coisa é certa: Deus fala. Aquela foi a voz de Deus: - “Sai daí, porque é quente e pesado!”

Nelson Celio de Mesquita Rocha