sexta-feira, 20 de maio de 2022

 SUBVERSÃO RADICAL DA SITUAÇÃO OPRESSORA

“Bem-aventurados vós... Mas ai de vós...” (Lucas 6.20b, 24a) 

Nos evangelhos de Mateus 5.1-12 e Lucas 6.20-23 acha-se a expressão “Bem-aventurados” dita por Jesus Cristo. Mas, também é evidenciada uma outra expressão em Lucas 6.24-26: “Mas ai de vós...”  Isto mostra um contraste acentuado proferido pelo Filho de Deus que veio a este mundo para subverter a situação existente: uma situação de opressão, geradora de miseráveis.

Subverter significa: virar de cabeça para baixo, inverter, mudar, transformar. É o que Jesus Cristo afirma em relação àqueles que estão sofrendo; que estão famintos, aflitos e perseguidos. Jesus promete o Reino de Deus aos que estão na miséria, na dependência e na dor. Ele os chama de Bem-aventurados. Isto quer dizer que há esperança para esses que estão sofrendo por defenderem o direito, a bondade e a justiça. Mas, para os que cofiam em si mesmos e exploram os mais fracos a palavra é de um tremendo julgamento: “Mas ai de vós...” Não existe meio termo para quem provoca o sofrimento dos outros. Não haverá parcialidade.

O contraste que elucida a subversão é bem característico como gênero literário da Bíblia, encontrando um paralelo forte com o Salmo 1, onde há uma diferença entre aquela pessoa que anda no caminho do Senhor e a que dessa forma não procede. Ainda no livro do profeta Jeremias observa-se o desdobramento da ideia tão explicitada por Jesus: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor” (17.5). Mas, “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (17.7). Estas palavras têm um tom especial que traduzem a subversão da prepotência daqueles que são astutos, folgazões e arrivistas. Estes se iludem com a sua própria segurança.

A subversão está na Bem-aventurança, que não consagra a situação dos pobres, dos famintos ou dos aflitos como condição para acolher o Reino de Deus. Jesus não promete aos pobres tornarem-se ricos, porque se assim fora, haveria a continuidade da opressão. O que Jesus está afirmando é a subversão, a virada, a mudança no sentido de haver a verdadeira justiça, ou seja, a concretização do Reino de Deus que faz surgir novos homens e novas mulheres.

O texto do Evangelho é dirigido aos discípulos, à Comunidade, à Igreja. Sendo assim é mister que todos os que se chamam pelo nome de Jesus Cristo não se intimidem com os que estão querendo tirar a paz e impedir a labuta em prol de um mundo melhor. Ainda que se tenha de oferecer a própria vida pelo bem, certamente a vitória despontará como promessa garantida pelo Deus que concede a Bem-aventurança. Assim, é necessário contemplar essa subversão com os olhos da fé e da esperança militantes, crendo que somente a confiança em Deus vai garantir aquela total derrota do mal em toda a sua dimensão. 

Rev. Nelson Celio de Mesquita Rocha