quinta-feira, 12 de maio de 2022

O DOMINIQUE, O MOSQUITO E O TEATRO

Dominique era um senhor francês, residente na Cidade do Rio de Janeiro, mas ainda conservava um sotaque bem típico de um europeu falando a língua portuguesa. Simpatia e alegria sobravam no Dominique. Eu gostava muito das estórias, histórias e piadas inteligentes que ele contava quando ia ao escritório onde eu trabalhava, no Edifício Av. Central. Ele vendia títulos do Clube do Ingá, localizado em Teresópolis-RJ. Como um bom francês, educado, contrastava com o jeito do homem brasileiro de ser e de falar. Mas, o que importava eram as estórias, as histórias e as piadas inteligentes que ele narrava.

Certa ocasião, talvez no ano de 1977, não me lembro o dia e nem a hora, porém era de tarde, um pouco depois do almoço, Dominique contou uma estória com o tom de piada de salão. As piadas de salão são aquelas em que as grosserias e os palavrões não são permitidos sendo possível contá-las em círculos e ambientes convencionais. São histórias curtas, para serem contadas rapidamente e demonstram um espírito irreverente e excêntrico da pessoa que as conta.

Ele deu início, desenvolveu e concluiu da seguinte maneira.

Havia uma família tradicional de mosquitos, de classe média, ocasião em que o pai havia falecido, e o filho residia sozinho com a mãe. O filho, o jovem mosquito era muito estudioso e trabalhador. Tinha amigos que gostavam de ir ao teatro. Nesse tempo, o teatro era de primeira linha. Para assistir às peças era necessário comprar antecipadamente os ingressos. Era uma peça muito famosa. Todos queriam ver a peça e filas se formavam para se adquirir ingressos.

O jovem mosquito, como fazia sempre, arrecadou antecipadamente o dinheiro dos amigos e comprou os ingressos no próprio teatro. Parece-me que era um teatro no centro de Paris, na terra do Dominique. A peça passaria no sábado próximo naquela semana de intensos trabalhos e estudos na faculdade. Então, se tornaria uma boa oportunidade de reencontrar os amigos e relaxar. E, assim foi.

Chegou o sábado, o dia da peça. Naquele tempo os horários de teatro eram bem tarde. Não tinha a violência que tem hoje. Era até um charme chegar tarde em casa. Afinal de contas, ninguém é de ferro!

O jovem mosquito começou a se arrumar, depois de um banho e a aplicação de um perfume francês caríssimo de nome “Madeira do Oriente”. Dentro do frasco do perfume havia um pedacinho de madeira. Depois, começou a se vestir com uma roupa típica de teatro, bem diferente de hoje (Século XXI). A senhora Mãe do jovem mosquito começou a ficar preocupada, porque o horário do teatro era tarde e, portanto, seu filho voltaria de madrugada com os seus amigos. Coração de mãe é assim mesmo. Ela insistiu em pedir que seu filho não fosse ao teatro, mas seria impossível isso acontecer, pois os ingressos já estavam comprados e o encontro marcado. Não havia jeito mesmo de atender ao pedido da mãe.

A mãe, preocupada, pediu ainda mais algumas vezes para o seu filho não sair. Não havia acordo. Mas, ela resolveu fazer um alerta de mãe preocupada. O jovem mosquito parou para ouvir o que a sua mãe tinha a lhe pedir.

A mãe do mosquito, com a voz embargada de cuidado lhe chamou a atenção para o seguinte: - Meu filho, você é meu único filho. Também seu pai não está mais entre os mortais. E você é tudo o que eu tenho neste mundo. – Diga logo minha mãe! – É meu último pedido: - Meu filho querido, tome cuidado com os aplausos.

Eu ri muito. Até hoje rio muito. Lembro-me do Dominique como se ele vivesse agora. Trago sempre na lembrança o Dominique, o Jovem Mosquito e o Teatro.

Nelson Celio de Mesquita Rocha