Fórum de Teologia Sistemática

DEUS EXISTE?
Por: Nelson Célio de Mesquita Rocha
SUMÁRIO
 
1.    A NATUREZA DE DEUS
1.1.  Confissões de Fé
1.2. A doutrina de Deus na Teologia Sistemática
1.3. A Imanência e a Transcendência de Deus
1.4. A natureza dos atributos de Deus
1.5. Classificação dos atributos de Deus
2.    O CONHECIMENTO DE DEUS
2.1. O conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos (método de correlação)
2.2. A finalidade do Conhecimento de Deus
2.3. O conhecimento de Deus na mente Humana
2.4. O conhecimento de Deus na obra da Criação e no seu Governo
3.    OS NOMES DE DEUS
3.1. Os nomes de Deus em geral
3.2. Os nomes de Deus no Antigo Testamento e seus significados
3.3. Os nomes de Deus no Novo Testamento e sua interpretação
4.    DEUS É TRINDADE: PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO
4.1. Relação trinitária e dom concedido por Deus
4.2. Análise em três passagens bíblicas: Joel 2.28; João 14.6; 1 Co 3.16
4.3. A relação trinitária como a melhor comunidade
4.4. A ação trinitária na libertação do ser humano
4.5. A eclesiologia tem como fundamento a Trindade
4.6. A pessoa do Espírito Santo e a Igreja
5.    A CRIAÇÃO COMO OBRA DE DEUS
5.1. A Confissão Escriturística das origens
5.2. O Gênesis e a compreensão bíblica do Deus Criador e Salvador
5.3. Os horizontes de Gênesis 2.4b-3.24
5.4. A assimetria da criação e sua ordem
INTRODUÇÃO
O conhecimento teológico é muito importante na formação de todo aquele que deseja servir a Deus com mais profundidade. Sem esse conhecimento, dificilmente se conseguirá desenvolver um trabalho com precisão, pois se exige um preparo doutrinário[1] a fim de se obter uma melhor performance no âmbito eclesial e fora dele.
O estudo teológico é importante, porque ajuda articular a Palavra de Deus com sabedoria. Nada acontece por um toque-de-mágica, mas é exigido, muito, trabalho e muito estudo, a fim de que as pessoas da Igreja sejam preparadas para experimentar um Cristianismo não abstrato, mas que se exercite, considerando um estilo de vida comprometida com o Reino de Deus em todos os seus aspectos fundamentais referentes ao depósito da fé.
          Premissa fundamental: “Teologizar é preciso...” [2] Estudar teologia é importante, porque vale à pena gastar tempo no mistério de Deus, o que não deixa, aliás, de redundar em benefício próprio e de todo o povo. Pelo menos cinco instâncias pedem teologia:
1.        A fé pede teologia. A fé busca compreender o que crê. Sem o estudo a fé cairá na cegueira, como diz Sto. Anselmo: “A teologia é a fé que deseja entender.”
2.     O mundo que existe pede teologia. A própria criação é um grito inarticulado por um Criador. A teologia nada faz senão recolher esse grito e articulá-lo racionalmente.
3.     A vida pede teologia. Nós, os viventes, buscamos inelutavelmente o sentido último e radical das coisas. Por que a existência, a dor, a culpa, a morte? Como responder adequadamente a essas questões fundamentais e perenes sem recorrer a alguma teologia?
4.     Nossa época pede teologia. A cultura moderna é essencialmente reflexiva: não se contenta apenas com o recurso à tradição, mas pergunta sempre pelo porquê de tudo. Mesmo a chamada razão pós-moderna, embora prefira o “discurso fraco”, ela também precisa ser submetida a discernimento. Mais: as questões atuais com que a fé se vê confrontada são tão complexas que exigem reflexão elaborada e rigorosa. Pense somente nas questões que põe hoje a economia (neoliberalismo, mercado, globalização, tecnologia, etc.), ou as que colocam as ciências modernas como a biologia (clonagem, inseminação e gestação humanas em meios artificiais), a cosmologia (origem e fim do cosmos, leis constitutivas do universo, a hipótese de outros mundos habitados, etc.), e também a ecologia.
5.     A realidade social em que vivemos pede teologia. Qual é a missão dos cristãos frente aos grandes desafios sociais de hoje? Para confrontar seriamente a fé com esses desafios é preciso colocar a razão teológica para funcionar.
1. A NATUREZA DE DEUS
          A doutrina acerca de Deus[3] apresenta uma coloração especial dentro do estudo teológico, especialmente em referência ao estilo de ministério e à filosofia de vida da pessoa. Em culturas pré-modernas “Deus” e “deuses” tinham seu lugar mais ou menos claramente determinado em conexão com o mundo de vida cultural. Com isso também tinham seu lugar no mundo lingüístico dos homens, ou seja, em geral ali onde se trata dos últimos fundamentos da ordem tanto social quanto cósmica, bem como das instâncias que os garantem, às quais se deviam mostrar a veneração, atenção e dispensação devidas.[4]
          Nas culturas seculares da era moderna, a palavra “Deus” perdeu mais e mais essa função e esse sentido, em todo caso na consciência pública. Na consciência pública, afirmações a respeito de Deus permanecem “meras” afirmações, atribuídas exclusivamente à subjetividade de seus autores.[5]
          Mas, crer em Deus é a verdade primeira que perpassa o mais íntimo da pessoa. Logicamente precede e condiciona toda a observação e raciocínio. Assim, é fato reconhecido que a grande maioria das pessoas na verdade tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem elas supõem depender.
          O que é possível dizer antes da identificação de Deus certamente deve ser dito. Com que finalidade as pessoas usam esta palavra DEUS, para que perguntemos com tanta urgência a quem ou a que ela se aplica verdadeiramente?
          Nesta parte do trabalho, consta o conteúdo como resposta à pergunta elaborada sobre DEUS. A abordagem é sistemática, e conta com o auxílio das principais obras estudadas em todo o universo teológico-sistemático.
1.1.       Confissões de Fé
Ø        Confissão de Fé dos Mártires da Guanabara (1558)
          Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo:
I.              Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem.
Ø             Confissão de Fé Escocesa (1560)
De Deus
·          Confessamos e reconhecemos um só Deus, a quem, só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem, só, devemos adorar e em quem, só, devemos depositar nossa confiança.1 Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente, invisível;2 um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.3 Cremos e confessamos que por ele todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis, foram criadas, são mantidas em seu ser, e são governadas e guiadas pela sua inescrutável providência para o fim que determinaram sua eterna sabedoria, bondade e justiça, e para a manifestação de sua própria glória.4 
1. Dt 6:4; 1Co 8:6; Dt 4:35; Is 44:5-6.
2. 1Tm 1:17; 1Rs 8:27; 2Cr 6:18; Sl 139:7-8; Gn 17:1; 1Tm 6:15-16; Êx 3:14-15.
3. Mt 28:19; 1Jo 5:7.
4. Gn 1:1; Hb 11:3; At 17:28; Pv 16:4.

 

Ø        Confissão Belga (1561)

 

O ÚNICO DEUS

·       Todos nós cremos com o coração e confessamos com a bocal que há um só Deus2, um único e simples ser espiritual3. Ele é eterno4, incompreensível5 invisível6, imutável7, infinito8, todo-poderoso9; totalmente sábiol0, justol1 e bom12, e uma fonte muito abundante de todo bem7.
1 Rm 10:10. 2 Dt 6:4; 1Co 8:4,6; 1Tm 2:5. 3 Jo 4:24. 4 S1 90:2. 5 Rm 11:33. 6 Cl 1:15; 1Tm 6:16. 7 Tg 1:17. 8 1Rs 8:27; Jr 23:24. 9 Gn 17:1; Mt 19:26; Ap 1:8. 10 Rm 16:27. 11 Rm 3:25,26; Rm 9:14; Ap 16:5,7. 12 Mt 19:17. Veja também Is 40, 44 e 46.
Ø        Segunda Confissão Helvética (1564)
3. De Deus, sua Unidade e Trindade
·       Deus é uno. Cremos e ensinamos que Deus é um em essência ou natureza, subsistindo por si mesmo, todo suficiente em si mesmo, invisível, incorpóreo, imenso, eterno, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, o supremo-bem, vivo, vivificador e preservador de todas as coisas, onipotente e supremamente sábio, clemente ou misericordioso, justo e verdadeiro. Abominamos a pluralidade de deuses, porque está claramente escrito: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Deut 6.4). “Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.2-3). “Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus. Deus justo e Salvador não há além de mim” (Is 45.5.21). “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade” (Êx 34.6).
·       Deus é trino. Entretanto, cremos e ensinamos que o mesmo Deus imenso, uno e indiviso é inseparavelmente e sem confusão, distinto em pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e, assim como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado por inefável geração, e o Espírito Santo verdadeiramente procede de um e outro, desde a eternidade e deve ser com ambos adorado.
·       Assim, não há três deuses, mas três pessoas, consubstanciais, co-eternas e co-iguais, distintas quanto às hipóstases e quanto à ordem, tendo uma precedência sobre a outra, mas sem qualquer desigualdade. Segundo a natureza ou essência, acham-se tão unidas que são um Deus, e a essência divina é comum ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Ø        A Confissão de Fé de Westminster (1647)
DE DEUS E DA SANTÍSSIMA TRINDADE
I.         Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um    espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, - onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.
·        Deut. 6:4; I Cor. 8:4, 6; I Tess. 1:9; Jer. 10:10; Jó 11:79; Jó 26:14; João 6:24; I Tim. 1:17; Deut. 4:15-16; Luc. 24:39; At. 14:11, 15; Tiago 1:17; I Reis 8:27; Sal. 92:2; Sal. 145:3; Gen. 17:1; Rom. 16:27; Isa. 6:3; Sal. 115:3; Exo3:14; Ef. 1:11; Prov. 16:4; Rom. 11:36; Apoc. 4:11; I João 4:8; Exo. 36:6-7; Heb. 11:6; Nee. 9:32-33; Sal. 5:5-6; Naum 1:2-3.
II.      Deus tem em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança. Ele é todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo o ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser. Todas as coisas estão patentes e manifestas diante dele; o seu saber é infinito, infalível e independente da criatura, de sorte que para ele nada é contingente ou incerto. Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e em todos os seus preceitos. Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer outra criatura lhe são devidos todo o culto, todo o serviço e obediência, que ele há por bem requerer deles.
·        João 5:26; At. 7:2; Sal. 119:68; I Tim. 6: 15; At - . 17:24-25; Rom. 11:36; Apoc. 4:11; Heb. 4:13; Rom. 11:33-34; At. 15:18; Prov. 15:3; Sal. 145-17; Apoc. 5: 12-14.
III.   Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho.
·        Mat. 3:16-17; 28-19; II Cor. 13:14; João 1:14, 18 e 15:26; Gal. 4:6.
1.2.       A doutrina de Deus na Teologia Sistemática
          O horizonte da vida e suas preocupações é o tempo, o inescapável já, não mais, ainda e ainda não de tudo que conhecemos e desejamos. Todo ato humano se movimenta daquilo que era em direção daquilo que haverá de ser. Isso quer dizer que a vida humana e tudo o que se movimenta, só tem sentido em Deus.
          A doutrina de Deus é parte integrante e fundamental inserida no campo da tradição cristã, porque Deus é o fundamento de todo ser e de toda a realidade. Esta premissa está arraigada no mais íntimo dos seres racionais, ainda que alguns não queiram aceitar. É por isso que a Teologia Sistemática trata do estudo sobre Deus e suas relações com a sua criação.
          Empreende-se o estudo da Teologia Sistemática sobre Deus com as seguintes pressuposições:[6]
Deus existe
          A existência de Deus é a grande pressuposição da teologia. Não tem sentido tratar do conhecimento de Deus, a menos que se admita que ele exista. Deus é um ser pessoal de quem se originam todas as coisas, que transcende a toda a criação, e que por sua vez é imanente em cada parte dela. A existência de Deus se aceita pela fé, que encontra sua fidedignidade na Palavra inspirada de Deus.
          A aproximação mais parecida com uma declaração está em Hb 11.6. A Bíblia pressupõe a existência de Deus desde a sua primeira declaração em Gn 1.1. A Bíblia diz que Deus criou todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, e revela a realização gradual de seu grande propósito de redenção. Deus se tem revelado através de sua Palavra. É por esta razão que não é impossível tratar sobre Deus, uma vez que ele se revelou e se interpretou ao ser humano, através de sua Palavra. Assim, é preciso consultar a sua revelação para saber o que ele nos tem revelado de si mesmo, e para conhecer a relação que guarda a suas criaturas.
          Em livre autodeterminação para a autocomunicação, Deus se revelou na história como um Deus apaixonado pela existência e salvação e bem-estar dos seres humanos.[7] A teologia, que é o discurso humano sobre Deus, está possibilitada, segundo a compreensão cristã, pelo próprio discurso de Deus, por sua palavra dirigida a nós seres humanos.
          As formas como Deus falou outrora ao povo de Israel, e a fé que dali surgiu neste povo, por este testificada nos escritos do Antigo Testamento, continuam sendo fontes também do nosso conhecimento de Deus. Além disso, elas constituem o pano de fundo que permitirá reconhecer como tais ênfases colocadas pelo judeu Jesus de Nazaré.
          Experiências com Deus que possam ser testificadas em palavras por pessoas, sempre estão em veiculação histórica; estão ligadas a lugares bem concretos e épocas bem específicas. Uma descrição adequada da experiência de Deus por Israel, por isso, somente pode ser prestada se, nos pontos adequados, também se fizer referência ao contexto histórico.
          Sendo a existência de Deus uma primeira verdade, é fundamental refletir sobre algumas premissas:[8]
          Que o conhecimento da existência de Deus responde ao primeiro critério da universalidade. É fato reconhecido que a grande maioria dos seres humanos na verdade tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem eles supõem depender.
1.      Que o ser humano, sob circunstâncias adequadas à manifestação deste conhecimento, não pode deixar de reconhecer a existência de Deus. A contemplação da existência finita, inevitavelmente sugere a idéia de um ser infinito como seu correlato. Quando a mente humana percebe a sua finitude, dependência, responsabilidade, imediata e necessariamente percebe a existência de um ser infinito e incondicionado de quem ela depende e perante o qual ela é responsável.
2.      Que o ser humano, em virtude da sua humanidade, tem capacidade para religião. Tal reconhecida capacidade é a prova de que a idéia de Deus é necessária. Se a mente, na ocasião própria, não desenvolvesse esta idéia, não haveria nada no ser humano para o que a religião pudesse apelar.
3.      Que aquele que nega a existência de Deus deve tacitamente assumir tal existência em seu próprio argumento, empregando processos lógicos cuja validade se apóia no fato da existência de Deus.
Deus se revela como trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo
          Na natureza de Deus há três distinções eternas que se nos representam sob a figura de pessoas e estas três são iguais.[9] A tripessoalidade de Deus é uma verdade exclusiva da revelação. Faz-se claramente, apesar de não formalmente conhecida no Novo Testamento e podem achar-se indicações dela no Antigo Testamento.
          A doutrina da Trindade pode expressar-se nas seguintes seis afirmações:
1.      Há na Escritura três que são reconhecidos como Deus.
2.      Estes três são descritos de tal modo que somos compelidos a concebê-los como pessoas distintas.
3.      Esta tripessoalidade da natureza divina não é simplesmente econômica e temporal, mas imanente e eterna.
4.      Esta tripessoalidade não é triteísmo; pois, conquanto haja três pessoas, há apenas uma essência.
5.      As três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais.
6.      Inescusável, embora não autocontraditória, esta doutrina fornece a chave de todas outras doutrinas.
          A doutrina de um só Deus, Pai e criador, constituiu o pano de fundo e a premissa inquestionável da fé da Igreja.[10] Herdada do judaísmo, ela foi sua proteção contra o politeísmo pagão, o emanacionismo gnóstico e o dualismo marcionita. Para a teologia, o problema era integrá-la no âmbito intelectual com os novos dados da revelação especificamente cristã.
          Reduzidos à sua formação mais simples, tratavam-se das convicções de que Deus se havia dado a conhecer na Pessoa de Jesus, o Messias, ressuscitando-o dos mortos e oferecendo salvação aos homens por seu intermédio, e que ele havia derramado seu Santo Espírito sobre a Igreja.
          Mesmo uma apressada observação da vida da Igreja deve mostrar que “Pai, Filho e Espírito Santo” de fato ocupa nela o lugar que em Israel era ocupado por “Javé” ou, posteriormente, “Senhor”.[11] “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” são palavras com que começam nossos cultos e que neles se inserem.
          O uso do nome trinitário é um hábito universal ao longo da vida da Igreja. Não podemos dizer até que ponto do passado ele remonta. Certamente remonta a uma época ainda mais remota que os traços fracos da reflexão trinitária, e parece ter sido uma expressão imediata da maneira como os crentes experimentaram Deus.
          É na liturgia, no ambiente cúltico da Igreja Primitiva, que nasceu uma nova experiência de Deus.[12] E, quando falamos sobre Deus, mas a ele e por ele, que precisamos do nome de Deus e o usamos, e é aqui que aparecem as fórmulas trinitárias, tanto no princípio quanto até o dia de hoje.
1.3.       A Imanência e a Transcendência de Deus
          Um importante par de ênfases que devemos preservar com toda certeza é a doutrina da imanência de Deus em sua criação e de sua transcendência em relação a ela.[13]
          Ambas as verdades são ensinadas na Escritura. Jeremias 23.24, por exemplo, destaca a presença de Deus em todas as partes do universo. Nesse contexto, entretanto, tanto a imanência como a transcendência aparecem juntas: “Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o Senhor, e não também de longe”? Conferir também o que Paulo disse aos filósofos no Areópago em Atenas (At 17.27b, 28) e Isaias 55.8-9; 6.1-5.
          O significado de imanência. Significa que Deus está presente e ativo dentro de sua criação e dentro da raça humana, mesmo naqueles membros que não crêem nele ou não lhe obedecem. Sua influência está em toda parte. Ele age nos processos naturais e por meio deles.
          O significado de transcendência. Significa que Deus não é uma mera qualidade da natureza ou da humanidade; ele não é simplesmente o mais elevado dos seres humanos. Ele não é limitado à nossa capacidade de compreendê-lo. Sua santidade e bondade vão muito além, e infinitamente além das nossas, e isso também é verdade em relação a seu conhecimento e poder.
          É importante manter juntas essas duas doutrinas, mas nem sempre é fácil fazê-lo, pois há problemas em saber como entendê-las.
Þ           Implicações da Imanência
1.        Deus não se limita a agir diretamente para cumprir seus objetivos.
2.        Deus pode usar pessoas e organizações que não sejam declaradamente cristãs.
3.        Devemos ter apreço por todas as coisas criadas por Deus.
4.        Podemos obter algum conhecimento acerca de Deus por meio de sua criação.
5.        A imanência de Deus significa que há pontos em que o evangelho pode fazer contato com             o descrente.
Þ           Implicações da Transcendência
1.        Existe algo mais elevado que os seres humanos.
2.        Deus nunca pode ser completamente determinado pelos conceitos humanos.
3.        Nossa salvação não é conquista nossa.
4.        Sempre haverá uma diferença entre Deus e os seres humanos.
5.        A reverência é adequada em nosso relacionamento com Deus.
6.        Buscaremos a obra genuinamente transcendente de Deus.
          Assim como na questão da imanência de Deus, também no caso da transcendência precisamos cuidar contra os perigos da ênfase excessiva. Não buscaremos a Deus apenas no ato religioso ou no ato devocional; também o buscaremos nos aspectos “seculares” da vida. Não buscaremos exclusivamente os milagres, mas também não os desconsideraremos. Alguns dos atributos divinos, tais como a santidade, a eternidade e a onipotência são expressões do caráter transcendente de Deus. Outros, como a onipresença, são expressões de imanência. Se todos esses aspectos da natureza de Deus receberem a ênfase e a atenção que a Bíblia lhes confere, o resultado será um entendimento plenamente harmonioso da pessoa de Deus.
          Embora Deus nunca seja totalmente compreendido por nós por estar muito além de nossas idéias e formas, ele está sempre ao nosso alcance quando nos voltamos para ele.
1.4.       A Natureza dos Atributos de Deus
             Da simplicidade de Deus se segue que ele e seus atributos[14] são um só. Os atributos não podem ser considerados como outras tantas partes que entram na composição de Deus, porque Deus não é composto de várias partes como os seres humanos. Tão pouco podem se considerar como algo agregado ao ser de Deus, por mais que o vocábulo derivado de ad e tribuere pareçam apontar nessa direção; posto que jamais pudesse referir-se ao ser de Deus, sendo que é eternamente perfeito.
          Houve tempo, se é que se lhe pode chamar "tempo", em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava só (embora subsistindo igualmente em três pessoas divinas).[15] "No princípio... Deus...'. Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória. Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção. Não existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante um dia, um ano ou uma época, mas "desde sempre". Durante uma eternidade passada, Deus esteve só - completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando.
          Se um universo, ou anjos, ou seres humanos lhes fossem necessários de algum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele não muda (Malaquias 3.6), pelo que, essencialmente, a Sua glória não pode ser aumentada nem diminuída.
          Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma de criar. Resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não produzido por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada, senão o Seu próprio beneplácito, já que Ele "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1.11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua glória.
          Será que alguém imagina que fomos além do que nos autorizam as Escrituras? Sabemos que o elevado terreno que estamos pisando é novo e estranho para quase todos as pessoas; por esta razão faremos bem em andarmos devagar. Recorramos de novo às Escrituras. No final de Romanos capítulo 11, onde o apóstolo conclui sua longa argumentação sobre a salvação pela pura e soberana graça, pergunta ele: "Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?" (vers. 34-35). A importância disto é que é impossível submeter o Todo-poderoso a quaisquer obrigações para com a criatura; Deus nada ganha da nossa parte. 'Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria a um filho do homem" (Jó 35-7-8), mas certamente não pode afetar a Deus, que é bem-aventurado em si mesmo. " quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: "Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" (Lucas 17:10) - nossa obediência não dá nenhum proveito a Deus.
          De mais a mais, vamos além: nosso Senhor Jesus Cristo não acrescentou nada a Deus em Seu Ser essencial e à glória essencial do Seu Ser, nem pelo que fez, nem pelo que sofreu. É certo, bendita e gloriosamente certo, que Ele nos manifestou a glória de Deus, porém nada acrescentou a Deus. Ele próprio o declara expressamente, e não há apelação quanto às Suas palavras: não tenho outro bem além de ti' (Salmo 16.2; na versão usada pelo autor, literalmente: " ... a minha bondade não chega a Ti"). Em toda a sua extensão, este é um Salmo sobre Cristo. A bondade e a justiça de Cristo alcançaram os Seus santos na terra (Salmo 16.3), mas Deus estava acima e, além disso, tudo, pois unicamente Deus é "o Bendito" (Marcos 14.61, no grego).
          É absolutamente certo que Deus é honrado e desonrado pelos homens; não em Seu Ser essencial, mas em Seu caráter oficial. É igualmente certo que Deus tem sido glorificado pela criação, pela providência e pela redenção. Não contestamos isso, e não ousamos fazê-lo nem por um momento. Mas isso tudo tem que ver com a Sua glória declarativa e com o nosso reconhecimento dela. Todavia, se assim Lhe aprouvesse, Deus poderia ter continuado só, por toda a eternidade, sem dar a conhecer a Sua glória a qualquer criatura. Que o fizesse ou não, foi determinado unicamente por Sua própria vontade. Ele era perfeitamente bem-aventurado em Si mesmo antes de ser chamada à existência a primeira criatura.
          E, que são para Ele todas as Suas criaturas, mesmo agora? Deixemos outra vez que as Escrituras dêem a resposta- "Eis que as nações são consideradas por ele como a gota dum balde, e como o pó miúdo das balanças. eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã. A quem pois fareis semelhante a Deus? Ou com que o comparareis?" (Isaías 40.15-18). Esse é o Deus das Escrituras; infelizmente Ele continua sendo o "Deus desconhecido' (Atos 17.23) para as multidões desatentas. “Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda para neles habitar; o que faz voltar ao nada os príncipes e torna coisa vã os Juizes da terra" (Isaías 40.22-23).
          Quão imensamente diverso é o Deus das Escrituras do "deus" do púlpito comum! O testemunho do Novo Testamento não tem nenhuma diferença do que vemos no Antigo Testamento; como poderia ser, uma vez que ambos têm o mesmo Autor! Ali também lemos. "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, o único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver. Ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém" (1 Timóteo 6.15-16).
          O Ser que aí é descrito deve ser reverenciado, cultuado, adorado. Ele é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecido por ninguém. Um Deus tal não pode ser encontrado mediante investigação; só pode ser conhecido como e quando revelado ao coração pelo Espírito Santo, por meio da Palavra. É verdade que a criação manifesta um Criador, e isso com tanta clareza, que os homens ficam "inescusáveis" (Romanos 1.20); contudo, ainda temos que dizer com Ló: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão do seu poder?” (Jó 26.14). Cremos que o argumento baseado no desígnio, assim chamado, argumento apresentado por "apologetas" bem intencionados, tem causado mais dano que benefício, pois tenta baixar o grande Deus ao nível do entendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelência.
          Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relógio e que, depois de um detido exame, inferiu a existência de um relojoeiro. Até aqui, tudo bem. Tentemos ir mais longe, porém. Suponhamos que o selvagem procure formar uma concepção pessoal desse relojoeiro, de seus afetos pessoais, de suas maneiras; de sua disposição, conhecimentos e caráter moral - de tudo aquilo que se junte para compor uma personalidade. Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real - o homem que fabricou o relógio - de modo que pudesse dizer: "Eu o conheço"? Fazer perguntas como esta parece fútil, mas estará o eterno e infinito Deus tanto mais ao alcance da razão humana? Realmente, não. O Deus das Escrituras só pode ser conhecido por aqueles a quem Ele próprio Se dá a conhecer.
          Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. "Deus é espírito..." (João 4.24) e, portanto, só pode ser conhecido espiritualmente. Mas o homem decaído não é espiritual; é carnal. Está morto para tudo que é espiritual. A menos que nasça de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para a vida, miraculosamente transferido das trevas para a luz, não pode sequer ver as coisas de Deus (João 3.3), e muito menos entendê-las (1 Coríntios 2.14). É mister que o Espírito Santo brilhe em nossos corações (não no intelecto) para dar-nos o “... conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Coríntios 4.6). E até mesmo esse conhecimento espiritual é apenas fragmentário. A alma regenerada terá de crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3.18). A nossa principal oração e finalidade como cristãos deve ser que possamos “... andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus” (Colossenses 1.10).
          É comum em teologia se afirmar que os atributos de Deus são Deus mesmo segundo o que se nos tem revelado. Logo, devemos nos colocar alerta contra a idéia de separar a essência divina e os atributos ou perfeições divinas; e também contra um falso conceito de relação que guardam entre si. Os atributos são qualidades inerentes do ser de Deus.
          Para compreendermos a relação entre Deus e a sua criação, é importante compreender sua natureza. Quando falamos dos atributos de Deus,[16] estamos nos referindo àquelas qualidades de Deus que constituem o que ele é. São as próprias características de sua natureza. Não se quer dizer com isso, que se os atributos se referem aos atos que Deus realiza tais como criar, guiar e preservar, nem aos papéis correspondentes que desempenha – Criador - Guia - Preservador.[17]
          Os atributos são qualidades da Deidade inteira. Não se deve confundi-los com propriedades[18] que, em termos técnicos, são as características distintivas das várias pessoas da Trindade. As propriedades são funções (gerais), atividades (mais específicas) ou atos (extremamente específicos) de cada membro da Divindade.
          Os atributos são qualidades permanentes. Não podem ser adquiridos ou perdidos. São intrínsecos. Portanto, a santidade não é um atributo (uma característica permanente, inseparável) de Adão, mas é um atributo de Deus. Os atributos de Deus são dimensões essenciais e inerentes de sua própria natureza. Embora nossa compreensão de Deus seja filtrada por nossa estrutura mental, seus atributos não são nossas concepções projetadas sobre ele. São características objetivas de sua natureza.
          Os atributos são inseparáveis do ser ou da essência de Deus. É melhor pensar nos atributos de Deus como sua natureza, não como uma coleção de partes fragmentadas nem como algo que se adiciona à sua essência. Portanto, Deus é seu amor, santidade e poder.
1.5.       Classificação dos Atributos de Deus
          O homem pode elevar-se, por meio de sua inteligência, até o conhecimento da natureza divina. Para isso, utiliza-se dos efeitos dessa natureza na realidade universal. Como os efeitos apresentam sempre alguma semelhança com a causa que os produziu, nosso conhecimento da natureza divina é, sem dúvida, real. Mas permanece incompleto e imperfeito, uma vez que uma coisa só pode ser conhecida perfeitamente quando considerada em si mesma. Como Deus é perfeição absoluta e infinita e nossa inteligência relativa é limitada, jamais poderemos apreender a natureza divina na plenitude dos seus atributos.
          Podemos distinguir em Deus três espécies de atributos:[19]
1.      Atributos entitativos ou metafísicos, que nos mostram Deus como ser e substância absolutos;
2.      Atributos operativos, que no-lo revelam como ser espiritual em suas operações ou atos;
3.      Atributos morais, que no-lo manifestam como pessoa moral.
1.    ATRIBUTOS ENTITATIVOS:
·      Simplicidade. Deus não é composto de partes, pois toda composição implica imperfeição. O composto depende, necessariamente, dos elementos que o constituem. Deus é, portanto, perfeitamente simples.
·      Infinidade. Deus é infinito, isto é, sem limite em seu ser, pois é o ser por si, o ser que existe por sua própria essência. Nada existe além e acima de Deus, que de nada depende e ao qual tudo está subordinado.
·      Unicidade. Sendo infinitamente simples, Deus é infinitamente uno e indivisível. Mas é também absolutamente único. Supor dois ou mais Deuses igualmente perfeitos, seria absurdo. Dois Deuses seriam idênticos e então se confundiriam, ou seriam diferentes e então não poderiam ser ambos infinitamente perfeitos.
·      Imensidade. Sendo infinito, Deus não pode ser circunscrito ou limitado por qualquer coisa. A imensidade é a perfeição infinita pela qual Deus, sem ser extenso, ou ocupar algum espaço, porque é absolutamente simples, o enche integralmente com a sua presença e onipotência.
·      Imutabilidade. Toda mudança constitui um progresso ou uma decadência. Só mudam e se transformam os seres imperfeitos. Sendo necessariamente perfeito, Deus é imutável, isto é, permanece idêntico a si mesmo, sem nenhuma mudança ou variação.
·      Eternidade. Sendo necessário e infinito, Deus não tem começo nem fim. Só possuem duração limitada os seres imperfeitos. Deus, sendo infinitamente perfeito, é eterno. Não tem passado, futuro, nem presente.
2.    ATRIBUTOS OPERATIVOS:
·      Inteligência. Sendo tudo, em Deus, infinito, sua inteligência e sua ciência são também infinitas. Para saber, Ele não precisa raciocinar. Tudo vê e conhece por intuição direta e imediata.
·      Vontade. A vontade divina não possui limites e é livre de todo obstáculo. A Deus basta querer para fazer. Age com absoluta independência e sem contradição. Deus é onipotente.
3.    ATRIBUTOS MORAIS:
·      Sabedoria. A inteligência infinitamente perfeita de Deus gera a sabedoria absoluta que O faz empregar os meios mais eficazes para os fins mais dignos. Deus Tudo governa com inteligência, segurança e ordem.
·      Bondade. Deus é amor infinito e perfeito. Ama as coisas segundo seu valor e na proporção  do seu mérito. Sendo o Bem supremo, ama a si mesmo e a todos os seres criados, na medida em que participam da sua infinita perfeição, isto é, que imitam sua essência divina.
·       Justiça. Sendo em grau infinito, inteligente, sábio e bom, Deus é justo. Possuindo santidade absoluta que é ordem do amor, Ele age com justiça infinitamente perfeita. Por isso, pune o mal e recompensa o bem.
2. O CONHECIMENTO DE DEUS [20]

A SAGRADA ESCRITURA É A MEDIAÇÃO PARA SE CONHECER A DEUS      

2.1. O conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos
          O conhecimento verdadeiro é aquele que advém do contato com o Deus vivo e verdadeiro, criador do céu e da terra. Consta de duas partes fundamentais: conhecer primeiro a Deus e depois a nós mesmos. São correlatos segundo Calvino, mas há de se considerar em primeira plana o conhecimento da Divindade.
          Ninguém pode mirar a si próprio sem antes contemplar a Deus, em quem nos movemos e vivemos. Tudo depende de Deus. Ver  Atos  17.28.  A nossa vida  subsiste  no  Deus único.[21]
          Toda infinidade de recursos reside em Deus, por isso compele-nos alçar os olhos para o Alto, famintos de sua glória, com humildade e aprendermos que somente nele podemos viver e existir. Há essa necessidade por causa do pecado[22], que nos afastou do Criador. Fomos despojados do nosso divino adereço pelo nosso pecado. Destarte, é necessário perceber a nossa miséria e sermos curados pelo conhecimento de Deus.
          Conscientes de nossa ignorância, fatuidade, penúria, fraqueza, depravação e corrupção, termos a certeza de que no Senhor encontraremos a verdadeira luz da sabedoria, para vivermos uma vida abundante. Esta é uma certeza que não podemos excluir da nossa vida: O CONHECIMENTO DE DEUS CONDUZ-NOS A CONHECER-NOS A NÓS MESMOS.
          Mas, o ORGULHO [23] que é desumano, impede o conhecimento de Deus. O orgulho é sinônimo de pecado: é o querer colocar-se no lugar de Deus. É o homem quando tenta agir no lugar de Deus. O orgulho é ingênito em todas as pessoas.  Queremos ser justos por nossa própria  conta; íntegros, sábios aos nossos próprios olhos, e até mesmo santos. Mas, tudo isso pode ser uma realidade a partir do reconhecimento da nossa indignidade e depravação.
          Outro fator que é fruto do orgulho é a HIPOCRISIA.[24] Isto quer dizer que, aparentamos ser uma coisa e na realidade não somos. Somos impuros por dentro, e por fora há uma capa de santidade. A Bíblia diz que todos pecaram (Rm 3.23; 6.23). Quanto nos enganamos ao avaliarmos a nossa alma no corpo visível.
          Imaginamos-nos semideuses. Queremos dominar o mundo. Mas quando olhamos para Deus percebemos como fracos somos. Em Deus reside a perfeição, a justiça, a sabedoria, o poder. Não dá para fazer uma comparação entre a nossa vida e a realidade divina.
          COMO É O HOMEM DIANTE DE DEUS?  É somente horror e espanto.  Quando o homem é inclinado a buscar a Deus, percebe a sua indignidade. Pessoas do passado, na Bíblia, que viram a glória de Deus disseram: “Morreremos, pois que nos apareceu o Senhor”. Ver os textos: Jó 38.1-40.5. Abraão se reconheceu terra e pó desde que mais próximo se achegou a Deus (Gn 18.27). Elias não teve a ousadia de falar com Deus com a face descoberta (1 Rs 19.13). Estas e outras são pessoas que não suportaram a glória de Deus. O homem é podridão (Jó 13.28); é verme (Jó 5.7; Sl 22.6).
2.2. A finalidade do conhecimento de Deus
          Que é conhecer a Deus e qual a finalidade desse conhecimento? É necessário reconhecer que a piedade é requisito para tal conhecimento.
          Conhecimento de Deus não é somente saber que existe um Deus, mas importa conhecê-lo e dar-lhe a glória devida ao seu nome. Deus não pode ser conhecido onde não existe piedade, não podendo haver uma verdadeira concepção de religiosidade sem esse exercício.
          Nenhuma pessoa pode conhecer a Deus verdadeiramente, sem o reconhecimento da mediação de Jesus Cristo. Ele é o autor da salvação. A partir desse ponto fundamental, podemos perceber que Deus é o nosso criador, sustentador e mantenedor da existência. Na sua providência governa a todos, providenciando todas as bênçãos, e em Cristo nos reconcilia à verdadeira vida.
          Na estrutura do mundo e no ensino da Escritura Sagrada Deus se mostra como o Criador, e na face de Cristo, o Redentor. Daí se conclui haver um duplo conhecimento da Divindade.
          Deus é a fonte de todo o bem que existe. Ele é Um e Único que importa ser de todos cultuado e adorado. Não devemos buscar em outra parte o bem senão em Deus somente. Destarte, a tudo sustenta com Seu poder e graça. Sustenta o mundo que criou por sua sabedoria e bondade, bem como ao gênero humano especialmente. Com sua justiça e misericórdia o sustenta, guardando-o em sua proteção.
          O que significa PIEDADE? É a reverência associada com o AMOR DE DEUS, que o conhecimento de seus benefícios nos favorece. O gênero humano deve tudo a Deus, pois age o Senhor paternalmente, assistindo a todos; Ele é o autor das coisas boas.
          CONFIANÇA e REVERÊNCIA são fatores do conhecimento de Deus. Em Deus aprendemos o que é bom e o que nos conduz à felicidade. Todos foram criados por Deus e para Ele. Portanto, há um vínculo profundo entre a criatura e o Criador. Todos devem a vida ao Senhor.
          A vontade de Deus é que todos vivam, e deveria haver o apego e a confiança no Senhor, mas por causa da depravação[25] houve o desvio do ponto crucial e determinante da verdadeira vida.
Texto explicativo retangular com cantos arredondados:  	A mente piedosa não sonha para si um Deus qualquer, mas contempla somente o Deus único e verdadeiro a quem retribui com compromisso sincero, realizando sempre a sua vontade.
 

          Deus é justo. Ele governa, guia e protege a sua criação. O Gênesis apresenta a confissão bíblica do Deus Criador, conforme os seus dois primeiros capítulos. Sendo assim, a confissão de salvação precede e engloba a confissão de Deus Criador. Temos, portanto, uma salvação inscrita na criação.[26] Deus é o criador de todas as coisas, e essa criação tem a mediação realizada em Cristo. A criação, desta forma, é pura graça de Deus ao homem.[27] Portanto, o Senhor defende os seus de todo o mal em sua clemência, e sempre providencia o remédio para as enfermidades. Os piedosos confiam em Deus, atentam para a sua soberania e lhe obedecem. O Senhor age com justiça na vida dos piedosos.[28]
          Aos piedosos que conhecem a Deus há a justiça e o livramento diante da condenação, mas aos ímpios há a punição, por causa de suas impunidades. Esse é o castigo pelo pecado que desagrada a Deus.
          Eis o que consiste a religião pura e real: fé aliada a sério temor de Deus,  contendo espontânea reverência, produzindo profunda adoração legítima, segundo o que a Lei de Deus prescreve. Isto se deve observar de todo coração: que todos veneram a Deus de maneira vaga e geral, e que pouquíssimos o reverenciam de verdade, enquanto, por toda à parte, grande é a ostentação em cerimônias, mas rara é a sinceridade.
2.3. O conhecimento de Deus na mente humana
          O conhecimento de Deus foi instilado por natureza na mente humana.[29]  Existe na mente humana uma natural disposição em relação ao senso da Divindade. Isso está fora de controvérsia. Deus infundiu em todos certa noção de sua divina realidade, de sorte que todos sabem que Ele existe e que é o Criador, e por isso devem lhe render culto.
          Em todos os lugares não pode haver ignorância acerca de Deus. Entre os povos mais retrógrados e mais distanciados da civilização humana há o senso de que existe um Deus. Não há nenhuma nação ainda que seja tão bárbara, povo nenhum tão selvagem, em que não esteja profundamente arraigada esta convicção: DEUS EXISTE!
          Desde o princípio do mundo, nenhuma região, nenhuma cidade, nenhuma casa, afinal, tenha excluído de seu bojo qualquer forma de religião. A religião é o tesouro oculto que está dentro do homem.[30]
          O homem tem uma inclinação para adorar outras criaturas, e para que isso aconteça se humilha. Adora a madeira e a pedra, pois o seu desejo é todo corrompido; a sua mente é obliterada. O seu coração é altivo.
          Mas, mesmo tendo a sua mente corrompida, tem uma inclinação para a religião. No mais profundo de sua alma tem uma firme convicção acerca de Deus, ainda que seja tortuosa. Assim, a religião não é algo da cabeça do homem, mas Deus imprimiu essa marca no ser humano. Todos têm sempre uma noção de Deus.
          Não pode haver possibilidade de ateísmo real. Diante desta afirmação, o que pode acontecer se tirar o senso de religião do coração humano?  Calvino afirma que está gravado na mente humana um senso da divindade que não pode ser erradicado.
          O mundo com suas filosofias tenta tirar da mente humana que Deus existe, corrompendo-lhe o culto, afastando para longe essa certeza. Muitos dizem que não há Deus e tentam tirar até das escolas o aprendizado sobre Deus, mas todos precisam saber que, desde o ventre, cada um, já possui uma centelha de percepção de que há um Deus.
          Homens sem religião são iguais a animais irracionais. O sumo bem da alma é semelhança com Deus, e quando há o conhecimento dele tudo se transforma. Destarte, entende-se a importância do Culto[31] ao Deus vivo e verdadeiro, pois é nessa assembléia santa que se aspira à vida plena; a vida que tem sentido. Deus deve ser cultuado em espírito e em verdade.
A IGNORÂNCIA E A DEPRAVAÇÃO SUFOCAM O CONHECIMENTO DE DEUS
          Decorrentes destes pontos negativos surgem:
          SUPERSTIÇÃO [32] - Está ligada à vaidade e ao orgulho no coração de pessoas que não rendem o verdadeiro culto a Deus. Medem a Deus em conformidade com o padrão de sua obtusidade, negligenciando uma sólida investigação, antes se movem pela curiosidade e vãs especulações.[33]  Imaginam um Deus, mas não tendo nada a ver com o Verdadeiro. Adoram aquilo que imaginam as fantasias e sonhos do seu coração. Esta depravação Paulo frisa com muita precisão, que se fizeram loucos (Rm 1.22); fúteis em suas cogitações.
          APOSTASIA - Muitas pessoas pela constância de pecar, repelem furiosamente a toda lembrança de Deus, que, no entanto lhes é sugerida espontaneamente no íntimo.[34]  Negar a Deus é apostasia, mas assim como Deus não pode negar-se a si mesmo, por isso permanece igual a si próprio; assim também estes, ao forjarem um ídolo inerte e inane, com verdade se dizem negar a Deus.[35]
          IDOLATRIA - É falsa adoração; é colocar deuses falsos no lugar do verdadeiro Deus. Muitos cultuam e adoram quantos quer que a Deus elaborem seus ritos inventados, afirmando que é a Deus, entretanto, são absurdos e ridículos. Ver o que Paulo diz aos Gálatas 4.8-10.
          HIPOCRISIA - É o parecer estar se aproximando de Deus, entretanto há a fuga. O que deveria se caracterizar como obediência em todos os atos, concretiza-se a rebeldia. Essa hipocrisia é o parecer viver uma vida santa, que pelos ritos e observâncias aparentes pensam agradar a divindade, mas nada acontece no interior, e mente a si mesmo quem possui tal procedimento.
          Mas, apesar de todos esses males permanece a semente da Divindade, e que de algum modo não pode ser erradicada, pois foi implantada de natureza nos corações humanos.
2.4.  O conhecimento de Deus na obra da criação e no seu governo
          A felicidade do ser humano está em conhecer a Deus; é o fim último da vida bem aventurada, por isso Deus não só implantou na mente humana essa semente de religião, mas ainda essa revelação está na obra da criação do mundo, a fim  de  que  ao  abrir  os  olhos  todos possam contemplar a Divindade.
          Em todas as obras de Deus há marcas inconfundíveis de Sua glória, e assim ninguém pode alegar ignorância. Ver o Salmo 104.2. Em Hebreus 11.3, o autor chama os mundos de expressões visíveis das coisas invisíveis, já que essa ordem tão admiravelmente estruturada do universo nos serve de espelho em que se possa contemplar ao Deus de outra sorte invisível. O Salmo 19 expressa bem o fulgor da criação, que proclama a glória de Deus. A terra como criação de Deus e não segundo o modelo de uma filosofia gnóstica de herança mais ou menos grega.[36]
          Na Epístola de Paulo aos Romanos 1.19 se diz haver sido revelado aos homens o que de mister lhes era conhecer acerca de Deus, visto que todos à uma Lhe contemplam as coisas invisíveis, até Seu eterno poder e divindade, dadas a conhecer desde a criação do mundo.
          A sabedoria de Deus é plenamente perceptível na Criação. Não apenas aquelas coisas mais recônditas, a mais penetrante observação das quais se destinam a astronomia, a medicina e toda a ciência natural, senão também aquelas que saltam à vista de qualquer um, ainda o mais inculto ignorante, de sorte que nem lhes possam os olhos abrir que lhes sejam forçados a ser testemunhas.
          A própria estrutura do corpo humano mostrando a sua composição tão engenhosa e admirável mostra a beleza da majestade divina. O ser humano é evidência máxima da divina sabedoria. Ver o Salmo 8.
          A ingratidão do ser humano para com o seu Criador. É uma ingratidão execrável, porque deveriam os homens reconhecer a Deus como o Criador e dar-lhe glória, mas se abafam dentro de si. Não abrem a mente e o coração para Deus. Quão detestável é a sandice[37]  que o homem tem de ignorar Deus e as obras de suas mãos; afirmam que são obras do acaso.
          No lugar de Deus colocam a natureza como primeira. Adoram a criatura e não ao Criador. Assim, há uma confusão entre criatura e Criador. Aconteceu uma inversão de valores. No início não foi assim, porque Deus é quem deve ser reverenciado, adorado e não a criatura. A natureza é a ordem prescrita por Deus, em questões de tão grande peso e em que se deve especial reverência, logo, é prejudicial envolver a Deus com o curso inferior de Suas obras.
ASSIM PODEMOS COMPREENDER QUE:
·        A soberania de Deus é percebida na criação. A Escritura Sagrada apresenta essa base, a fim de que se possa compreender este ensino; ela mostra que Deus criou o mundo e tudo o que nele há. Todas as coisas têm a sua origem em Deus e as governa, não as deixando a mercê de suas próprias leis naturais. Pode-se afirmar que Deus preserva tudo o que criou.
·        Deus é soberano pelo seu juízo também.  De tal modo regula sua providência, bem como é benévolo e benigno para com todos, mas é certo que sua clemência é exercida para com os piedosos e sua severidade para com os iníquos e réprobos. Segundo STRONG, a Providência é a atuação contínua de Deus pela qual ele faz todos os eventos do universo físico e moral cumprirem o desígnio para o qual ele o criou.[38]
 
A BENIGNIDADE DE DEUS
·        Faz próspera a vida dos bons.[39]  Tudo vem de Deus. Ele é a origem de tudo o que é bom;
·        Socorre as sua necessidades. A providência divina é percebida na vida dos que o conhecem. O Senhor supre com bens a vida que Ele criou;
·        Alivia e mitiga as suas dores. Deus é misericórdia, logo, não deixa para sempre a sua criação na adversidade. O nosso socorro vem do Senhor, criador do Céu e da terra (Salmo 124.8);
·        Atenua as adversidades. O Senhor providencia os meios para que a sua criação seja livre e possa viver livremente para a felicidade;
·        Em tudo lhes consulta a salvação. A salvação é a própria integração do ser.
          Quando a muitos Deus deixa passar sem disciplina, castigo, significa que outro juízo haverá de ser punidos. Mas uma coisa é certa, a míseros pecadores Deus persegue com a sua incansável benignidade, até cercá-los de benefícios e exercer a sua paternal indulgência, e trazê-los de volta da impiedade.
          Acerca do soberano domínio de Deus sobre a vida humana, é necessário saber que o ser humano é impotente para sair do caos onde está inserido. O Salmo 107 mostra a misericórdia divina que liberta o homem de suas tribulações.
          Vejamos alguns pontos máximos do Deus que é o Senhor da vida humana:
·          Deus socorre os desgraçados e quase perdidos que vagam por ermos, e os reconduzem pelo bom caminho (v. 4-7);
·          Desvalidos e famintos Deus provê alimento (v.9);
·          Deus os liberta das prisões (v. 10-16);
·          De náufragos os conduzem a portos incólumes (v. 23-30);
·          Semimortos Deus concede vida e os cura de suas enfermidades (v. 17-20);
·          Aos que estão no calor e na sequidão, Deus faz que fecundem pela secreta irrigação da graça (v.33-38);
·          Do mais alto pedestal, derruba os que se elevam pela sua própria projeção, adquirindo dignidade própria (v. 39-41); [40]
·          Aos piedosos se dá motivo de alegria, aos ímpios, Deus tapa-lhes a boca (v. 42).

E MUITO MAIS...

          As especulações da razão não se comparam com as obras da criação. Nas suas obras, Deus é mais bem visto. O ser humano é convidado ao conhecimento de Deus não pelas especulações que fazem a mente humana flutuar, mas àquele que é percebido e fincado no coração, pois haverá de ser sólido e frutífero.
          O propósito desse conhecimento é conduzir o homem à adoração de Deus e ser despertada esperança da vida futura, onde haverá outra vida que foi preparada por Deus. Essa vida será livre de tudo o que impede a existência presente. Dá punição à iniqüidade, e da recompensa à justiça.
          Mas, existe a cegueira humana acerca de Deus na criação. O próprio ser humano corrompe a pura verdade de Deus. Todos nos desgarramos do só Deus verdadeiro. Desta enfermidade são afetados não apenas os espíritos vulgares e obtusos, mas ainda os mais ilustres e dotados de sorte singular.
          Quais as causas dessa cegueira? A mente humana foi tomada por deuses de sua própria criação. As categorias filosóficas faziam as pessoas se afastarem de Deus. Por exemplo, os Estóicos[41], que eram engenhosos, ensinavam que de todas as partes da natureza  se  podiam extrair vários nomes de Deus. Além da teologia dos egípcios com seu esoterismo, os Epicureus [42] eram ousados e desprezadores da piedade; rejeitavam todo o senso de Deus. O certo é que os homens trazem tormento sobre si, quando se põem a investigar um Deus que não existe. Imaginar deuses discutíveis, bem como suscitar contendas sem nexo.
          Ao Espírito Santo, toda e qualquer religião humana é abominação. Adulterar a religião pura é se afastar do Deus único. Aqueles que se entregam à sua própria opinião não podem servir ao Deus verdadeiro. O Espírito de Deus pronuncia apóstatas a todos quantos, em virtude da cegueira da própria mente, colocam os demônios no lugar de Deus (1 Co 10.20).
          Para dar lugar ao Deus verdadeiro e único, a Escritura (Hc 2.18-20) condena de falsidade e mentira tudo quanto foi outrora celebrado da Divindade entre os povos. A sabedoria de Deus não foi apreendida pelos príncipes deste mundo.
          É falta pesada adorar ao acaso, a um Deus desconhecido (At 17.23). Todos as pessoas são inescusáveis diante de Deus, pois as obras da criação atestam o Seu poder. Mas, por causa da cegueira não conseguem ver o Criador. Pela fé entendemos que tudo foi criado por Deus, logo, todos não têm desculpas (Rm 1.19-20).  Destarte, é preciso ter a natural capacidade para que possamos ascender até  o  puro  e  líquido  conhecimento  de  Deus,  porque  o  defeito  da  nossa obtusidade está dentro de nós.
2.5. A Sagrada Escritura é a mediação para se conhecer a Deus
          Vejamos cada passo dessa mediação, da Sagrada Escritura, que revela quem de fato é Deus, segundo a análise de João Calvino em sua grande obra “As Institutas”, Livro I.
          Para que alguém chegue ao Deus criador é necessário ter a Escritura Sagrada [43] por guia e mestra. Nela há o verdadeiro conhecimento de Deus. Devido às confusões da mente humana, Deus nos deu a sua Palavra para que a nossa mente não permaneça mais na obscuridade. Nela há clareza no que tange ao conhecimento de Deus.
          Para instruir a Igreja, Deus não apenas se serve de mestres mudos,[44] mas ainda abre a sua sacrossanta boca, a fim de que possamos reconhecer o seu poder e lhe prestar  toda  adoração.  A Bíblia é a Palavra de Deus que, nos diz haver o Criador estabelecido todas as coisas, bem como ter nos dado o Mediador da nossa salvação, Jesus Cristo. Esta é a função da Palavra de Deus, para que não tenhamos uma concepção errada da Divindade.

 

A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS ESCRITA

          Aos patriarcas, Deus se fez conhecido através de oráculos e visões, seja que mediante a obra e o ministério de homens deu a saber o que, depois, pelas próprias mãos houvessem de transmitir aos pósteros, está fora de dúvida haver-lhes  gravada  no  coração  a  firme  certeza  da doutrina.
          Para que possamos conhecer a verdadeira religião, tem-se de haver a celeste doutrina como base. Ora, nem somente a fé consumada, ou completa em todos os seus aspectos, mas ainda todo reto conhecimento de Deus nasce da obediência à Palavra.
          A Bíblia é o único broquel que protege do erro. Se refletirmos quão acentuada é a tendência da mente humana para o esquecimento de Deus, quão grande a proclividade para toda com toda sorte de erro, quão pronunciado o gosto de a cada instante forjar novas e fantasiosas religiões, poder-se-á perceber quão necessária haja sido tal autenticação escrita da celeste doutrina, para que não deperecesse pelo olvido, ou se dissipasse pelo erro, ou fosse da petulância dos homens corrompida. Assim, não se podem arrancar do coração humano os erros, enquanto não se houver nele implantado o verdadeiro conhecimento de Deus, que vem de sua Palavra.
          A Bíblia é superior à criação, porque é ela a Revelação Especial de Deus. No Salmo 19.7 está escrito: “A Lei do Senhor é perfeita e restaura a alma...” [45] É ela a especial escola dos filhos de Deus.
          A autoridade da Escritura não é procedente da Igreja, mas do Espírito Santo. Se fosse palavra de homens, não poderia a Bíblia consolar os corações inseguros. A própria Igreja encontra seu fundamento na Escritura (Ef 2.20). Está fundamentada no ensino dos Profetas e dos Apóstolos. A Igreja depende da certeza da Bíblia e não o contrário.
          A suprema prova da Escritura se estabelece reiteradamente da pessoa de Deus nela a falar. É o testemunho interno do Espírito.[46] Mediante o qual todo mundo está compelido à obediência. Mais alto do que a própria razão, a voz de Deus fala ao coração de cada pessoa, pelo agir do Espírito Santo, que aplica a Palavra diretamente.
          A Bíblia é autenticada pelo Espírito Santo. A palavra grega  autopiston, significa autenticada de si mesma. Daí pode-se comprovar que, a fé verdadeira, é aquela que o Espírito de Deus sela em nosso coração. E, assim podemos fazer parte da Igreja renovada.

 

A CREDIBILIDADE DA ESCRITURA SAGRADA

·          Ela é superior a toda sabedoria humana;
·          Há beleza estilística de certas porções;
·          A sua antiguidade é considerada como prova de que tem falado a muitas gerações;
·          Há fidedignidade escriturística;
·          As promessas cumpridas no decorrer da história;
·          A sua preservação e sua transmissão. A Bíblia é maravilhosamente preservada por Deus;
·          A sua simplicidade. Todos podem compreender a sua mensagem;
·          A sua perenidade é vista pela beleza de suas partes e pela transformação que opera no interior das pessoas;
·          O testemunho dos mártires. Muitos por ela deram a própria vida.
          A Bíblia é o árbitro do Espírito. Ela não se dissocia dele. O apóstolo Paulo chama sua pregação de ministério do Espírito (2 Co 3.8), significando, sem dúvida, que o Espírito Santo de tal modo se une à sua verdade que expressou nas Escrituras, que manifesta e patenteia seu poder, então, afinal, onde se rende à Palavra a devida reverência e dignidade.
          A firme religião da Palavra se implanta em nossa alma quando brilha o Espírito, que nos faz aí contemplar a face de Deus, assim como, reciprocamente, abracemos ao Espírito, sem nenhum temor de engano, quando o reconhecemos em sua imagem, isto é, na Palavra. É a Palavra o instrumento pelo qual o Senhor dispensa aos fiéis a iluminação de Seu Espírito.
3. OS NOMES DE DEUS
          A Bíblia apresenta em seu conteúdo diversos nomes de Deus,[47] e também nos fala do nome de Deus, no singular, como por exemplo, nas seguintes declarações: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex 20.7); “Quão grande é teu nome em toda a terra” (Sl 8.1). “Conforme o teu nome, oh Deus, assim és tu” (Sl 58.10); “Seu nome é grande em Israel” (Sl 76.1); “Torre forte é o nome de Jehová: a Ele socorrerá o justo e será levantado” (Pv 18.10).
3.1. Os nomes de Deus em geral
          Através destes exemplos “O Nome” dá a entender a plena manifestação de Deu nas relações com todo seu povo, ou com uma só pessoa, de maneira que se converte em sinônimo de Deus.
          O pensamento oriental com relação ao uso do nome, jamais o considerava como mero vocábulo; senão como a definição da natureza da coisa designada. Conhecer o nome de uma pessoa era adquirir poder sobre ela, e nos encantamentos os nomes de vários deuses se usavam para exercer poder sobre eles.[48]
          No sentido mais geral do vocábulo, o nome de Deus é sua própria revelação. Designa-se o seu nome como o que existe nas profundidades de seu ser divino, senão como se revela também em suas relações com o homem.
3.2. Os nomes de Deus

 ח׀לא – אלחיםO Senhor Todo Poderoso

          É preciso acrescentar que o nome é a própria personalidade, por assim dizer, pois é individual.[49] Veja no “princípio” os indivíduos não costumavam usar sobrenomes. Podemos constatar isso na Bíblia, que é o nosso foco: Abraão, Jacó, Ruth; o que costumavam fazer era acrescentar algo que o fizesse lembrar. Hoje em dia ainda costumamos fazer assim; dizemos: “O Daniel da padaria, O Daniel da locadora, etc.” Jesus era conhecido como “Jesus de Nazaré”, aqui usaram o local de nascimento; Paulo, após sua conversão era conhecido como “Saulo de Tarso”; o primeiro homem criado por Deus, Adão significa “da terra ou tirado da terra vermelha”, isso indicava sua origem.
          Para falar de ou a respeito de Deus nós precisamos ter um certo cuidado sobre qual “Deus – deus” nós estamos realmente falando.
NOMES GENÉRICOS DE DEUS
          Genérico, por si só já diz não ser peculiar ou específico da divindade. Genericamente podem ser usados pelo Deus verdadeiro como por falsos; feminino ou masculino. Vejamos biblicamente:
·      Elohim(plural אלחים) e Eloah(singular ה׀לא) = Deus, implícito o poder criativo e a onipotência: É o primeiro nome que surge na Bíblia: “No princípio criou Deus (Elohim אלחים) os céus e a terra” (Gênesis 1:1). Elohim – אלחים aparece 2498 vezes e Eloah – ה׀לא aparece 57 vezes e desse total apenas 245 não se refere ao verdadeiro Deus de Israel. Esse substantivo vem do verbo hebraico Aláh - Alá, e significa “ser adorado, temido e reverenciado, ser excelente”;
·      El (אל) = Deus, “aquele que vai adiante ou começa as coisas”: Nome apenas no singular e aparece 250 vezes. Extremamente conhecido pelos povos que falam a língua semita. Pode ser usado com “deus” para divindades falsas, mas também “Deus” para o verdadeiro Deus de Israel. Com pouca frequência foi usado para significar “o poderoso”, mas apenas ara homens e anjos. Normalmente aparece sozinho, mas foi combinado formando termos compostos significando deidade, ofício, natureza ou atributos do Deus verdadeiro;
·      El-Berit = Deus que faz pacto ou aliança (Gênesis 31:13, 35:1-3);
·      El-Elyon (עליוןאל) = Deus que faz pacto ou aliança (Gênesis 31:13, 35:1-3); Elyon, adjetivo que deriva do verbo hebraico Aláh e usado para coisas significa: “subir, mais alto, mais elevado, superior e utilizado para se referir a Deus significa “o excelente, o alto, o Deus glorioso”;
·      El-Ne‘eman = Deus de graça e misericórdia (Deuteronômio 7:9);
·      El-Nosse = Deus de compaixão (Salmos 99:8);
·      El-Olan (םאלעל) = Deus eterno, da eternidade (Gênesis 21:33);
·      El-Qana = Deus zeloso (Êxodo 20:5; 34:14);
·      El-Ro‘i = Deus da vista (Gênesis 16:13);
·      El-Sale‘i = Deus é minha rocha, o meu refúgio (Salmos 42:9-10).
NOMES ESPECÍFICOS DE DEUS
          Totalmente contrário aos genéricos, os nomes específicos de Deus, que são os utilizados na Bíblia para o único Deus verdadeiro, jamais serão utilizados para outras divindades. Vejamos:
·      Shadday (שרי) – Todo-poderoso. Tanto pode aparecer sozinho (שרי = todo-poderoso, Gênesis 49:24 e, em Jó encontramos 31 vezes) como também utilizando (El - אל) e obtendo uma forma composta (El-Shaddayאל שרי = Deus Todo-poderoso; Gênesis 17:7; 28:3; 35:11; 43:14; 48:3; Êxodo 6:3 e Ezequiel 10:5). Encontramos na Vulgata Latina sua tradução por omnipotens e na Septuaginta como Pantokrator.
·      Adonay (חשם) – Senhor. Passaram a utilizar Adonay (השם) em serviços religiosos e há’Shem (השם) para conversas informais, nunca o tetragrama יהוה, devido à lei explícita: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão”. (Êxodo 20:7) e, “E aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente será morto; toda a congregação certamente o apedrejará. Tanto o estrangeiro como o natural, que blasfemar o nome do Senhor, será morto” (Levítico 24:16);
·      YHWH(יהוה) = Senhor. Existem muitos textos, mensagens e estudos a respeito do verdadeiro nome de Deus, mas o intuito não é querer saber mais ou menos que muitos assim intentaram fazer. O que se acredita é que em manuscritos antigos e versões próximas do original é que nos dá a indicação de como escrever o nome de Deus, mas quanto à pronúncia correta não há como sabermos exatamente como os judeus pronunciavam, e tornou-se, na verdade, impronunciável pelos hebreus desde o período intertestamentário, pois conforme ordem divina era proibido tomar o nome do Senhor (YHWH) em vão;
·      Assim temiam e temem pronunciar o tetragrama e, em seu lugar, substituem-no por Adonai = Senhor ou “O Nome” ou “há’Shem - em conversas informais” em hebraico. O “Tetragrama Sagrado - יהוה escrito apenas por quatro consoantes: yod, he, vav, he (o alfabeto hebraico não possuía vogal): YHWH aparece 5321 vezes; e são dos textos mais antigos que se originaram os livros do Antigo Testamento bíblico.
·      Muitas Bíblias, assim como muitos cristãos – ainda que raramente – se utilizam da pronúncia JEHOVAH (Jeová), para o tetragrama YHWH - יהוה. Não podemos dizer que o nome Jeová seja a forma incorreta ou correta de pronúncia, mas aceitável. Os mais letrados, entretanto, consideram uma forma mais acertada pronunciar YAHWEH (Iavé - Javé) ou então YAHWO (Iavô), mas acredita-se que se Deus não deixou de forma revelada tal tradução, então não há a necessidade de nos aprofundarmos nisso.
NOMES COMPOSTOS DE DEUS
          Utilizados para revelar aspectos a mais do caráter de Deus; mais alguns adjetivos de Deus. Por exemplo:
·        YHWH Elohim – (יהוהאלהים) = Criador de todas as coisas;
·        YHWH Jireh – (יהוהידח) = O Senhor proverá – Deus proverá. Foi o que disse Abraão a Isaque sendo interrogado por ele quanto ao cordeiro para ser sacrificado. “Respondeu Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. E os dois iam caminhando juntos”. (Gênesis 22:8). Também foi o nome que deu Abraão após a providência do Senhor para aquele sacrifício, não tendo ele que sacrificar Isaque, seu filho: “Pelo que chamou Abraão aquele lugar Jeová-Jiré; donde se diz até o dia de hoje: No monte do Senhor se proverá”. (Gênesis 22:14). E tal como aconteceu com Abraão, também Deus proveu para nós, pecadores, um Cordeiro; Jesus. (João 1:29);
·        YHWH Rafa – (יהוהדפה) = O Senhor que te sara. (Êxodo 15-26);
·        YHWH Nissi – (יהוהנסי) = O Senhor é a Minha Bandeira. Moisés assim chamou o altar que edificou. (Êxodo 17-15);
·        YHWH Shalom – (יהוהשלום) = O Senhor é Paz. Hoje pregamos ao mundo a Paz que é o Senhor; a Paz que só o Senhor pode trazer aos corações aflitos. Foi o nome dado por Gideão ao altar que edificou. (Juizes 6:24);
·        YHWH Raah – (יהוהדעה) = O Senhor é o Meu Pastor. Acredita-se que não haja quem não conheça essa passagem nas Escrituras. Mas, para podermos clarear nossa mente vamos ao Salmo escrito por Davi “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará”. (Salmos 23:1). E como é bom saber que o nosso Pastor é o Senhor. Quão bom é saber que à frente das nossas veredas segue o Senhor tirando os espinhos, e, melhor ainda; quão bom é saber que as veredas eternas prometidas pelo Senhor são maravilhosas;
·        YHWH Tsidikenu – (יהוהצדקנו) = Senhor Justiça nossa. Jeremias profetizando a respeito de Judá disse: “Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O Senhor Justiça Nossa”. (Jeremias 23:6);
·        YHWH Sabaoth (Sebhãôh) – (יהוהצכאח>) = O Senhor dos Exércitos. Todo exército tem um General; ele cuida, ele dá ordens, ele vai adiante dos seus soldados, e nós temos ao Senhor dos Exércitos que comando miríades de anjos celestiais que estão sempre ao redor e à disposição daqueles que O buscam. (Salmos 24:10);
·        YHWH Shammah – (יהוהשמה) = O Senhor está ali. A divisão das tribos. “Dezoito mil côvados terá ao redor; e o nome da cidade desde aquele dia será Jeová-Samá”. (Ezequiel: 48:35).
NOMES DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO
          A Septuaginta foi a primeira tradução Bíblica hebraica para o grego, isso porque havia uma clima de desacordo entre os Judeus e os gregos. Os Judeus sempre foram monoteístas, mas os gregos existiam vários deuses. O Panteão grego, que, etimologicamente, deriva de pan (todo) e theos (deus), literalmente significando o templo dedicado a todos os deuses. Aristóteles, o filósofo, para demonstrar a fragilidade da religião grega, afirmou: "O homem fez os deuses à sua semelhança e lhes deu seus costumes".
          É devido a Septuaginta que notamos a demonstração de zelo pela sua religião, e, é por meio dela que descobrimos os equivalentes gregos dos nomes usados para Deus no Antigo Testamento, como El, Elohim, Eluon e YAWH.
·        Өєόζ (Theos) – Deus O nome mais comum utilizado no Novo Testamento é (Өєόζ - Theos). Assim como as palavras hebraicas el, elohim, eloah no Antigo Testamento, theos no Novo Testamento pode significar "Deus" ou "deuses". "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus (Өєόζ - Theos), e o Verbo era Deus (Өєόζ - Theos)." (João 1:1).
·        Қύριοζ (Kurios) – Senhor - Podemos notar que no Novo Testamento a tradução na Septuaginta de ambas as palavras Adonai e do nome impronunciável YHWH foi pela palavra grega Қύριοζ (Kurios - Kuriov), "Senhor". Kurios/Adonai traz a idéia básica da soberania de Deus, da suprema posição do Criador, em todo o Universo que criou. E mais, tanto o Pai (Deus) como o Filho (Jesus) são chamados pelo termo grego Kurios. "E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos". (Apocalipse 11:15). "... e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, (Қύριοζ - Kurios) para glória de Deus Pai (πατήρ - pater)". (Filipenses 2:11).       "Portanto vos quero fazer compreender que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! e ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! (Қύριοζ - Kurios) senão pelo Espírito Santo". (I Coríntios 12:3).
·        πατήρ (Pater) – Pai - "Portanto, orai vós deste modo: Pai (πατήρ - pater) nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome". (Mateus 6:9). O Cristão fala de muitos privilégios, mas acreditamos que o maior deles seria chamar ao nosso grandioso Deus de Pai - "Pai Celestial". Sabe por que? Os judeus afirmam que Deus jamais teve um filho, portanto não reconhecem Cristo como o Unigênito de Deus. O islamismo rejeita a idéia de Deus ser Pai. A grande diferença entre as três grandes religiões monoteístas, que torna um privilégio único, é que somente nós os cristãos, ou seja, o cristianismo é que mantém um relacionamento de Pai para filho com seu Deus.
Mais algumas particularidades bíblicas:
          O nome Jesus vem do hebraico (Yehoshua) - "Josué", que significa "Iavé é salvação". Josué era chamado de Oshea ben Num que significa "Oséias, filho de Num", podemos comprovar pela Palavra de Deus "Da tribo de Efraim, Oséias, filho de Num". (Números 13:8).
          A Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) usou o nome Iesus para Yehoshua; Portanto Iesus é a forma grega do nome Yehoshua.
          Depois do cativeiro de Babilônia, o nome Yehoshua era conhecido por Yeshua. "E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas, e habitaram nas cabanas, porque nunca fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de Josué, filho de Num, até àquele dia; e houve mui grande alegria". (Neemias 8:17). Josué era chamado Yeshua ben Num. Yeshua é o nome hebraico para Jesus, até os dias de hoje em Israel. Isso pode ser comprovado em qualquer exemplar do Novo Testamento hebraico.
          Todos sabemos que nome não se deve traduzir, mas sim transliterar conforme a natureza de cada língua. Por exemplo: Os nomes de Eva, David e outros que em nosso idioma levam a letra "v" em hebraico o "v" é substituído por "u", aparecendo nos textos como Eua e Dauid. A letra beta "b", na antiguidade, No grego moderno é "v". Hoje se escreve Dabid, para David, e Eba para Eva.
          Ainda assim, existem nomes que permanecem inalteráveis em outras línguas, mas não em sua maioria. Por exemplo, o nome João, é Yohanan ou Yehohanan (decomposição Yeh, Yo, Yaho, contração de Yahweh, Javé (Deus) e hanan (compadecer-se), tendo o sentido de Deus teve misericórdia, Deus se compadeceu.) em hebraico; Ioannes em grego; John em Inglês; Jean em francês; Giovani em italiano, Juan em espanhol, Johannes em alemão, e assim por diante, isso ocorre com vários nomes.
          Há nomes que mudam substancialmente de um idioma para outro. Lázaro em grego é Eleazar em hebraico. Elizabete é a forma hebraica do nome Isabel. O argumento, portanto, de que o nome deve ser preservado na forma original, em todas as línguas, é contraditório não havendo assim muito apoio bíblico.
Vejamos abaixo uma lista dos nomes de Deus:
Aará
Meu Pastor
Adon Hakavod
Rei da Glória
Adonay (חשם)
Senhor
Attiq Yômin
Antigo de Dias
El (אל)
Deus “aquele que vai adiante ou começa as coisas”
El-Berit
Deus que faz pacto ou aliança
El Caná
O Deus zeloso
El Deot
O Deus das Sabedorias
El Elah
Todo Poderoso
El Elhôhê Israel
Deus de Israel
El-Elyon (עליון אל)
Deus que faz pacto ou aliança
El-Ne‘eman
Deus de graça e misericórdia
El-Nosse
Deus de compaixão
El-Olan (םאל על)
Deus eterno, da eternidade
El-Qana
Deus zeloso
El Raí
O Deus que tudo vê
El-Ro‘i
Deus que vê (da vista)
El-Sale‘i
Deus é minha rocha, o meu refúgio
El-Shadday (שרי על)
Deus Todo Poderoso
Eliom
Altíssimo
Elohim – (plural) (אלחים)
Deus; Criador "implícito o poder criativo e a onipotência"
Eloah – (singular) (ה׀לא)
Deus; Criador "implícito o poder criativo e a onipotência"
Gibbor
Poderoso
há’Shem – (השם)
Senhor
Jehoshua
Javé é a Salvação
Kadosh
Santo
Kadosh Israel
Santo de Israel
Malah Brit
O Anjo da Aliança
Maor
Criador da Luz
Margen
Protetor
Nikadiskim
Que nos santifica
Palet
Libertador
Robeca
Que te sara
Salvaon
Senhor Todo Poderoso
Shadday (שרי)
Todo Poderoso
Shaphatar
Juiz
Yahweh
Javé; Deus
Yaveh (Yahweh) El Elion Norah
O Senhor Deus Altíssimo é Tremendo
Yaveh (Yahweh) Tiçavaot
Senhor das Hostes Celestiais
Yeshua
Jesus... veja também [Jesus um Nome sobre todo o Nome]
YHWH – (יהוה)
Tetragrama; Um nome difícil, quase impronunciável, de Deus; sempre é traduzido por Senhor.
Yehoshua (Iesus)
Javé (Iavé) é a Salvação
YHWH (Jeová) Eloheka
O Senhor teu Deus
YHWH (Jeová) Elohim – (יהוה אלהים)
Senhor (criador) de todas as coisas
YHWH (Jeová) Hosseu
O Senhor que nos criou
YHWH (Jeová) Jaser
O Senhor é Reto
YHWH (Jeová) Jireh – (יהוה ידח)
O Senhor proverá – Deus proverá
YHWH (Jeová) Nissi – (יהוה נסי)
O Senhor é a Minha Bandeira
YHWH (Jeová) Raah – (יהוה דעה)
O Senhor é o Meu Pastor
YHWH (Jeová) Rafa – (יהוה דפה)
O Senhor que te sara
YHWH (Jeová) Sabaoth – (Sebhãôh) – (יהוה צכאח)
Senhor dos Exércitos
YHWH (Jeová) Shalom – (יהוה שלום)
O Senhor é Paz
YHWH (Jeová) Shammah – (יהוה שמה)
O Senhor está presente; O Senhor está ali
YHWH (Jeová) Tsidikenu – (יהוה צדקנו)
Senhor Justiça nossa; O Senhor é a nossa Justiça
Yohanan (Yehohanan)
João - no sentido de Deus se compadeceu, Deus teve misericórdia
4.       DEUS É TRINDADE: PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO
1.1.      Relação intratrinitária e dom concedido por Deus
         Três passagens da Bíblia nos fazem compreender essa relação, na perspectiva da promessa do envio do Espírito Santo, para estar definitivamente com o Povo de Deus: Joel 2.28; João 14.1; 1 Coríntios 3.16. Antes de uma análise nestes textos é necessário considerar que Deus se relaciona trinitariamente em dois pólos, para dentro e para fora, assim como a teologia cristã sempre distinguiu uma ação de Deus para dentro e uma ação de Deus para fora.[50] Existe em Deus uma vida íntima e auto-suficiente.[51]
         Quando se afirma que Deus se movimenta trinitariamente para fora, quer dizer a sua ação criadora, e como produto, a criação. Deus não somente cria, mas ama a sua criação, por isso se relaciona com ela. J. Moltmann afirma que a vida íntima de Deus só tem significado como fundamento de sua atuação para fora.[52]
         De uma habitação de Deus em nós só é possível, segundo a teologia, a partir da ação do Espírito Santo de Deus. Quando voltamos os olhos para o começo da criação, percebemos ali a presença do Espírito Santo como Espírito Criador. Segundo Moltmann, é impossível desenvolver a idéia de uma criação desprovida do Espírito. A criação só subsiste pela força do Espírito de Deus, que nela penetrou.[53]
1.2.      Análise nas três passagens bíblicas: Joel 2.28; João 14.6; 1 Coríntios 3.16
·        Joel 2. 28 – “E acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões.”
         Segundo David Allan Hubbard, acontecerá a inauguração de uma nova era no relacionamento com Deus; de Deus com o seu povo. “Derramarei” significa que Deus não é sovina. “Meu Espírito”- o próprio poder e vitalidade de Deus, constitui-se o canal de toda a sorte de bênçãos. O mesmo Espírito que se movia na criação produzindo ordem a partir do caos (Gênesis 1.2). Joel traz sua própria contribuição para a descrição do ministério do Espírito na nova era prevista pelos grandes profetas. O legado do Espírito: 1) Retidão e justiça (Isaias 32.15-20); 2) Fecundidade e devoção (Isaias 44.3-5); 3) Descanso e refrigério (Isaias 63.10,11); 4) Obediência (Ezequiel 36.22-28). “Toda a carne” – significa que todo o povo participará.[54]
·        João 14.16 – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador (paraklhton dwsei umin), a fim de que esteja para sempre convosco”.
         A palavra paraklhtos  segundo a análise  de F. F. Bruce [55] indica alguém que é “chamado ao lado”, como ajudador ou defensor. É como se alguém tivesse um amigo no tribunal.
         Jesus mencionou sobre outro Parácleto, ficando subentendido que os discípulos já tinham um, o próprio Jesus, que estava sempre ao lado deles, agindo com o seu amor incondicional.
         Em 1 João 2.1, Jesus é chamado de nosso “Parácleto junto ao Pai”. Jesus defendeu seus discípulos enquanto esteve na terra, exercendo o seu ministério de vida aos homens e às mulheres.
         Quando Jesus fala do outro Parácleto, afirma que haveria de estar permanentemente com eles, e não só com eles, mas neles.[56] Eles não ficariam sozinhos, pois a presença do Espírito Santo iria compensar a perda visível de Jesus.
         As passagens que seguem, fazem parte dos denominados Discursos no Cenáculo segundo indicação de F. F. Bruce:· (1) João 14.15-17; 2) 14.25s.; 3) 15.26s.; 4) 16. 4b-11; 5) 16.12-15. Nestas passagens, o Espírito Santo é apresentado como ajudador, intérprete, testemunha, promotor e revelador.
·        1 Coríntios 3.16 – “Não sabeis que sois santuário de Deus (naos Qeou), e que o Espírito de Deus habita em vós?”
         J. Calvino nos faz melhor compreender o que Paulo quis dizer, ao escrever aos Coríntios sobre este assunto.[57] Paulo entendeu bem a promessa de Jesus Cristo, quando afirmou que enviaria o Consolador. Ele estaria dentro do crente. Assim, “sois santuário de Deus” é bem objetivo: o corpo do crente é habitação do Espírito Santo. Daí haver a necessidade de cuidado para que nenhuma coisa venha contaminar esse santuário. Paulo fala aos coríntios para não desonrarem seus corpos. Cada crente em particular é uma pedra viva para ereção do edifício de Deus.[58]
         As palavras de Paulo mostram o entendimento do que está na tradição joanina: “o Consolador habita em vós”. Segundo Calvino, nenhum lugar impuro pode ser habitação de Deus. Assim, a deidade do Espírito Santo é evidenciada, porque se Ele fosse um ser criado, não poderia habitar-nos. [59]
1.3.      A relação trinitária como a melhor comunidade
         Na  obra  de  L.  Boff,  A  Santíssima  Trindade  é  a  melhor  comunidade”,  na   parte introdutória, onde consta um esclarecimento,[60] muito nos chama a atenção para alguns pontos fundamentais:
·        Há uma questão teológica por trás dos problemas humanos;
·        Cada pessoa interroga sobre a sua existência e realidade;
·        Cada tipo de sociedade reproduz sua representação religiosa;
·        A Igreja se desenvolveu no Ocidente, fortemente marcado pelo poder;
·        É preciso haver uma compreensão radicalmente trinitária de Deus para que ela possa superar o clericalismo e o autoritarismo;
·        A Trindade se revela também na dimensão política. É necessário haver uma sociedade que seja mais imagem e semelhança da Trindade.
·        A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, pois Deus age não como solitário, mas em amor no seu dinamismo trinitário. No Primeiro Capítulo de sua obra, L. Boff desenvolve a afirmativa de que “No princípio está a comunhão dos Três, não a solidão do Um.”[61] Deus é Deus de amor, e para ser assim, é necessário existir o outro. Sem o outro não há amor. A solidão é o inferno.[62]
         A comunhão é a realidade mais profunda e fundadora que existe. Daí o amor ser o seu modo mais expressivo e dinâmico de agir. Não se pode conceber a idéia de ser a Trindade fechada em si mesma. Ela se abre para fora.[63] O próprio Jesus Cristo afirmou que para constituir a unidade, é fundamental que todos sejam um, assim como é o Pai juntamente com o Filho.[64]
         Por que em nossa Teologia aprendemos sobre a Trindade? Porque se houvesse um Único só, um só Deus, existiria, no fim de tudo, a solidão. Se houvesse dois Únicos, o Pai e o Filho, haveria, primeiramente, a separação.[65] Daí, a importância do Espírito Santo na relação trinitária.
         Como seria uma experiência desintegrada da Santíssima Trindade? Mais uma vez L. Boff apresenta uma abordagem exemplar.[66] 
         Consideremos:
·        A religião só do Pai: o patriarcalismo. Tudo é centralizado numa pessoa só;
·        A religião só do Filho: vanguardismo. Somente haveria somente uma relação para os lados, sem uma dimensão vertical, em direção Pai;
·        A religião só do Espírito Santo: espiritualismo. Onde pessoas se reuniriam concentrando forças na oração, no falar em línguas e emoções vagas.
         “A pessoa humana para ser plenamente humana precisa relacionar-se por três lados: para cima, para os lados e para dentro. Eis que a Trindade nos vem ao encontro: o Pai é o ‘para cima’ infinito, o Filho é o ‘para os lados’ radical e o Espírito é o ‘para dentro’ total.”[67]
         Uma vez que estamos estudando a Pessoa do Espírito Santo, pode-se obter à luz de tudo o que já foi visto, que o Espírito Santo foi missionado para nos santificar e reconduzir tudo ao Reino da Trindade.[68] Assim, nos possibilita ter uma nova comunidade, não mais marcada pela opressão, mas pela  liberdade  do  Espírito,  no  sentido  de  que  toda  vida reproduz outra vida.
         A Santíssima Trindade é a melhor comunidade.[69] Não existe somente a comunhão e a comunidade trinitária,  ensimesmada,  mas  junto  com  ela  está  a  comunidade  humana, sempre convidada a participar da comunhão divina.[70]
         A partir do ser e do agir da Trindade, surge uma nova comunidade na terra. Já se observa nos Atos dos Apóstolos que, mesmo a Igreja tendo as suas dificuldades, se diz também que os cristãos tinham tudo em comum (Atos 4.32-35). Daí não haver nenhum necessitado entre eles.
         Mesmo considerando a individualidade de cada pessoa, como é a Trindade, surge, portanto, uma nova comunidade, difundindo o respeito à própria individualidade, mas havendo a mútua entrega na realização do bem com objetivo comum.
1.4.      A ação trinitária na libertação do homem
         Temos uma sociedade escravizada pelo pecado no coração do homem, de onde todos os males saem para assolar cada vez mais a vida (Marcos 7.14-23), gerando excluídos de todos os tipos.
         Há um espírito de opressão que angustia e faz definhar a vida. Não se está tratando de misticismo, mas de ideologias que fazem surgir mais pessoas deficientes, sob todos os aspectos, até mesmo o religioso. Esse é o espírito que faz o homem ser como um deus: a sua altivez, orgulho e vaidade.[71] Assim, se produz a confiança na falsa segurança na prosperidade unilateral, que só beneficia um lado, uma classe.
         Há pessoas que estão algemadas, acorrentadas, precisando de libertação. Nenhuma ideologia humana pode conferir libertação, mas somente o agir do Deus Triúno é capaz de conceder a verdadeira liberdade. O apóstolo Paulo escrevendo aos Gálatas 5.1,2, diz: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.
         O Deus que faz história com o homem é o Deus que liberta esse ser de todo o jugo. E, essa libertação se dá na história, porque o Deus Trinitário não deixou a sua criação perecer a mingua.
         Deus se abre para as pessoas, a fim de que elas construam uma nova sociedade, onde superem todas as barreiras que transformam as diferenças em desigualdades e discriminações.[72]
         Há mais vontade em Deus de libertar o homem, do que este de ser liberto. Nisto se percebe o acento do imenso amor divino, que se manifesta a nós pecadores, em nosso estado de escravidão, pois não encontramos forças em nós mesmos que nos façam sair da cadeia que nos oprime. Somente a ação trinitária, para fora, é que nos habilita à liberdade. O Espírito Santo é esse agente libertador que nos faz ver a salvação através de Jesus Cristo, o único Mediador que nos conduz ao Pai.[73]
1.5.      A eclesiosologia tem como fundamento a Trindade
         A doutrina da Igreja tem como parâmetro uma teologia genuinamente bíblica em seu escopo. Ela, antes de tudo tem seu fundamento na Santíssima Trindade, porque a própria Trindade é comunidade como já foi objeto de reflexão e reflexão que implica para a vida.
         Somente se pode pensar em Igreja a partir do instante em que se analisa o que é ser igreja à luz do que a Palavra de Deus formula como ensino fundamental para se compreender o que de fato ela é. Quando se pensa em Igreja se pensa em fé cristã em Deus.[74] A Igreja é uma comunidade concreta; comunidade empírica no mundo de outras comunidades e organizações terrenas.[75]
         A Igreja não é uma ilusão, mas uma realidade, porque é o Deus Trino o seu autor. A relação da Igreja com Deus é uma relação corporificada.[76] Isso dá a chance de incluir profundas dimensões: social, psicológica, econômica, política, física. Desta forma, deve-se pensar na Igreja como um organismo vivo. É a Igreja o povo de Deus que é o Corpo de Cristo no mundo. Assim, a teologia contempla a Igreja em profundo relacionamento com Deus.
         A Igreja somente pode partir da Palavra de Deus, daí é que se evidencia o seu fundamento. A Palavra apresenta o Deus Trino agindo de modo dinâmico. Sendo a Igreja o projeto histórico de Deus, ela não pode agir de outra forma, senão segundo o agir da Santíssima Trindade.
         A Igreja tem a consistência de ser o genuíno povo de Deus, composto de crentes congregados pelo Espírito Santo, através dos meios de graça.[77] Povo esse que vive a dinâmica da fé, não centralizada em si mesma, mas se movendo na dimensão da construção de um mundo novo. É por isso que concordamos plenamente com F. Hefner quando este afirma que “A Igreja é a comunidade que está explicitamente centrada na articulação e revelação dos propósitos de Deus em Jesus Cristo”.[78] Da mesma forma que os propósitos de Deus foram explícitos em Jesus Cristo, que agiu sob o poder do Santo Espírito, assim também é a Igreja na história. Assim se pode entender que a Igreja nunca pode desaparecer, se é constituída pelo testemunho do que e de quem Deus é.
1.6.      A Pessoa do Espírito Santo e a Igreja
         O que o Espírito Santo tem a ver com a Igreja? Tudo. É o Espírito do Senhor ruha (hebraico) e pneuma (grego). [79] Estas palavras significam que o Espírito é sopro em movimento; é vento que dinamiza. Não permite que a Igreja fique inerte na história, mas a faz sair do seu lugar em direção aos que estão marginalizados, em meio a perigos e com as suas portas fechadas.
         Já foi visto que o Espírito Santo é pessoa e não energia. Ele é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, que põe a Trindade em movimento. Da mesma forma, põe a Igreja em movimento dinâmico. Tudo isso, para que a Igreja seja o que de fato ela deve ser: a comunidade que proclama a Palavra libertadora de Deus, e que tem uma mensagem de vida para todos os que estão cansados e sobrecarregados.
         O Espírito é força transcendente. Ele põe em movimento, para criar ou derrubar, quer na natureza, quer na sociedade.[80]  Assim, toda a obra de Deus é identificada pela ação do Espírito Santo, que atua por meio da Sagrada Escritura, aplicando nas pessoas a sensibilidade para com a salvação. Esse agir do Espírito na Igreja tem uma contínua obra, no sentido derrubar o que é velho e suscitar o que o povo de Deus deve ser na história.
5. A CRIAÇÃO COMO OBRA DE DEUS
5.1.  A Confissão Escriturística das origens
          No sentido de se entender o significado de uma confissão das origens, do ser humano e de sua responsabilidade, haverá de se ter como base sólida o campo hermenêutico-bíblico.[81] Nesse campo é percebido que o Criador cumpre a sua promessa em termos de criação e acabamento. Há uma nova ordem que obedece a um esquema: vocação. Palavra primeira e última expressa no hoje de uma proximidade que se impõe e provoca; que solicita uma resposta do homem e da mulher, criados por Deus.
O ser humano vive social e culturalmente o retrato da criação.[82]  Isso significa que a própria criação se constitui o espaço de realizações históricas. Na existência humana não existe nenhum laivo de acaso. Mas, por outro lado, quer desde sua própria origem, quer da própria origem da criação, existe um sonho falso que revela um segredo: o homem pensa e age como se ele precisasse resgatar o mundo. Ao mesmo tempo em que ele pensa em salvar a criação, não cuida direito dela, antes a maltrata, estabelecendo uma crise.[83] Compromete negativamente seu espaço de vida. Isso se dá em função de um despojamento do seu passado. E, por não lembrar de suas origens e respectivamente da criação, vive através de uma obsessão, ansiando por uma perfeição e por um domínio, onde moralismo e idealismo se conjugam. Portanto, sem passado, o homem será como sem vida presente, e suas buscas serão voltadas para uma realidade de morte.
          A situação do homem moderno está marcada pelas origens de um dualismo de linha grega e de uma ciência de linha cartesiana.[84] A crítica produzida pelo Iluminismo tendeu ao abandono a si mesma, esquecendo-se de trabalhar teologicamente o tema judeu-cristão da criação. Logo, é preciso que sejam buscadas as origens, no sentido de se ter hoje uma visão mais equilibrada do ser humano e do cosmo, com a finalidade de se proporcionar uma melhor sociedade.[85] Mas, é fundamental que o homem, de per si, não queira transformar a terra e a criação, segundo as razões de sua própria bondade e bem-aventurança.
Há questões que estão sempre presentes na experiência humana. Por exemplo: o mal, a liberdade, a lei e a revelação. Há uma natureza em que reside uma realidade profundamente teológica, daí se ter de refletir com precisão para se poder reconquistar o verdadeiro compromisso histórico, segundo a ordem do Criador. Sendo assim, a Teologia tem a responsabilidade de enfocar os limites de uma nova política que preserve a obra de Deus, por um via profundamente compreendida pelo exercício da memória[86] como estrutura teológica fundamental.  Isso quer dizer que, fazer memória não é repetir um passado, nem assegurar uma linha de pura continuidade, mas assumir o presente.
          Qual o significado de se apreender a memória como estrutura teológica fundamental? A estrutura do fazer memória é vista mediante dois pólos: cristológico[87] e pneumatológico.[88] Considera-se o reenvio a Deus de uma parte, como transcendente ou heterogêneo, e uma tomada de responsabilidade do humano de modo concreto, natural e histórico. É neste sentido o significado de fazer memória, que não é simplesmente repetir um passado, nem assegurar uma linha de pura continuidade. Antes se inscreve de maneira profunda no presente, que passa e subverte de uma certa maneira a lei de morte que impera. Memória significa a inscrição do presente numa estrutura diferenciada e articulada, num mundo com caráter profundamente histórico, nas suas dimensões institucionais, culturais e religiosas. É o reenvio a uma consciência e desenvolvimento de uma estrutura que se inscreve na história. O fazer memória é o ponto central de se retomar uma teologia da recapitulação desdobrada numa dimensão de humanidade na história, de forma mediada e revestida de uma heterogeneidade e de plena responsabilidade.[89] Essa responsabilidade prende-se ao semelhante e à criação de modo abrangente e integral.
          O fazer memória é idêntico ao processo de “celebrar a memória”,[90] que não é simplesmente a lembrança de um passado e a instauração de um presente; é preponderantemente o desígnio de um futuro. Esse procedimento se dá mediante profecia, gesto de esperança ou confissão de uma promessa. É o “gesto de tradição”,[91] que se revela como um gesto de advir, gesto de antecipação, gesto polarizado por uma transcendência, uma finalidade, uma realidade escatológica.
          Uma teologia do Deus criador e mantenedor de sua obra se estrutura em função de cinco momentos. Momentos esquecidos[92] pela sociedade moderna:
          Primeiro - Uma teologia da criação tendo como base a revelação bíblica e cristã, responde a uma apreensão positiva da realidade, que aparece de forma dupla:
·      A criação é boa, é bênção de Deus;
·      A realidade como forma incontornável é sempre para o homem, desde a origem, a ordem de antecedência que comanda uma assimetria. E nessa realidade se dá a presença humana diante de Deus com sua mentira ou com sua verdade; com sua morte ou com sua vida. Assim, o ser criado não se confunde com o Criador.
          Segundo - Uma teologia bíblica e cristã da criação responde a uma questão de origem: de onde vem esta? Que é isto que provoca a pessoa a ser e decidir o que deve ser? A reposta tem a ver com a origem, o estalo inicial, o começo de tudo.
          Terceiro - Uma teologia bíblica e cristã do Deus indissoluvelmente criador e re-criador, Deus de realização, deverá problematizar a realidade quanto a isto o que ela é. Um pensamento fiel a uma teologia correta da criação e da re-criação se recusará, em qualquer momento de sua reflexão, a fazer do mundo uma ordem de realidade neutra. Logo, é preciso aceitar que Deus é Senhor da realização de todas as coisas.
          Quarto - Uma teologia do Deus criador e re-criador aparece de partida ligada a uma figura de mediação cristológica. Todas as coisas foram criadas através de Cristo – mediação cristológica. O mundo é essencialmente criado. E nessa criação existe a realidade também do pecado, tornando a criação um drama. Desta forma, o mundo é lugar de um enigma.
          Quinto - Uma teologia cristã do Deus criador e re-criador de todas as coisas, afirma a criação de um modo tal que ela aparece intrinsecamente trabalhada por uma escatologia,[93] que por sua vez envia a uma realidade considerada em sua positividade, seu caráter incontornável e sua promessa possível. 
5.2. O Gênesis e a compreensão bíblica do Deus criador e salvador
          No que concerne ao terreno bíblico referente à confissão das origens, quer se afirmar uma hermenêutica bíblica.[94] No livro de Gênesis há dois textos que tratam da criação do mundo, considerando a cronologia e a importância da redação de cada um. Eles são precedidos de diversas tradições relativas aos Pais (Abraão, Isaque e Jacó), da vida do povo de Israel no Egito, na travessia pelo deserto e na terra prometida. Os textos também são precedidos de todo um material tradicional relativo à criação. Foram originados dentro de uma história. São interpretações dessa história. Tudo se passa de uma maneira perceptível na ação de um Deus criador e de uma criação vinda depois, enquanto que, sob a pressão de diferentes eventos históricos. Assim, a fé na salvação é colocada de maneira refletida nas origens do homem, do mundo e da história na sua globalidade.
          A confissão da salvação precede e engloba a confissão de fé no Deus criador.[95] A confissão em Deus é salutar, por ser a confissão de uma salvação radical, que necessariamente se faz no Deus criador e mantenedor de todas as coisas. Assim, uma confissão escatológica global, faz memória de uma afirmação protológica. Essa confissão do Criador é a resposta do homem diante dos enigmas, e também os elementos mais fundamentais da existência, da vida e da morte, que são bem anteriores aos textos que se têm.  São vias de experiência da salvação ou de uma libertação. Destarte, a criação é entendida como redenção.[96] Ela é ato soteriológico.[97] Ela aparece inserida na cadeia histórica dos atos históricos de Deus. A história é primeira, mediatizada pela atividade dos homens. Assim, a história e a vida são primeiras. A Teologia é interpretação destes eventos. A boa teologia dirá que a criação é uma graça (creatio est gratia), presente e histórica,como é toda a graça.
5.3. Os horizontes de Gênesis 2. 4b – 3. 24
          Sobre Gênesis 2. 4b-3. 24,[98] apresenta um plano de fundo histórico, onde é percebida uma forma de teogonia: o mundo e os deuses estão em jogo num mesmo drama de vida e de morte. Em Gn 2. 4b-26, o homem não é mais precipitado sobre a terra como um ser estranho. O homem é terrestre, feito para a terra.[99] Aparece o cenário ou uma natureza mediatizada pela cultura, história e palavra.
          Teologicamente o jardim do Éden é mais terra promissora e trabalhada do que um espaço cego e primitivo. Nela se abre uma antítese: o conhecimento do bem e do mal. O homem não é Deus, e enquanto ele se passa por Deus, suas decisões e seus atos, mal grado que ele elabora, retornam contra si mesmo. Quanto ao acabamento da criação do homem pela criação da mulher, faz que o homem ocupe no coração da criação um lugar central, e numa certa medida, real.[100] Assim, o homem pode legitimamente criar (a nominação da criação); mas o homem não é criador primeiro e último, ele é unicamente criador em situação de resposta. Sobre o lado retirado de Adão, simboliza a falta aberta justamente na carne, assim, o homem é chamado a uma realidade com suas origens para entrar numa história a dois, em comunidade e não sozinho.[101]
          A terra é criação de Deus e não segundo o modelo de uma filosofia gnóstica de herança mais ou menos grega. Os primeiros capítulos do livro de Gênesis articulam um certo modo de refletir o ser humano, o mundo e Deus. Os textos designam uma verdade sobre a criação e o seu Criador. O horizonte textual é configurado sob elementos históricos. O horizonte é primeiro. A escritura (Gênesis 2) se cristalizou provavelmente numa época de organização tribal, ocasião em que Israel entrou no concerto nas nações. Quanto a Gênesis 1 tem sua redação durante a experiência da queda de Jerusalém diante de Nabucodonosor e do exílio na Babilônia.[102] Assim, para se interpretar este texto é preciso que se determine a sua situação histórica. É levado em conta uma conjuntura concreta, política e ideológica. É interessante observar o exercício efetivo da realeza e do discurso dos mitos babilônicos.[103]
          A interpretação de Gênesis 2 e 3 propõe que se mostre realmente que os textos se ocupam de denunciar a autoposição do homem (mortal) e testemunhar uma outra promessa, que é a promessa de vida. Para o leitor há a necessidade de uma passagem por uma tipologia.[104] Porque acerca do mito das origens toma para si a forma de uma teogonia, onde a cosmovisão e a concepção sobre os deuses estão num mesmo drama de vida e de morte. A guerra e a violência ocupam o centro da cena. A guerra do bem e do mal; a guerra do ser e do caos. Isto quer dizer que o mal é co-extensivo com a natureza da realidade criada. O bem resulta de uma guerra vitoriosa e de um rebaixamento do adversário.[105]
          Qual o significado dos textos? É que não existe lugar para uma história particular, singular, pois a contingência, limitação do próprio ser humano, fará exceção da totalidade. Não existe história, origem e projeto, mas Festa, participação nas forças do cosmo, repetição do drama da criação. Os homens são criados para o serviço dos deuses, e de deuses ciumentos em suas prerrogativas. Um pacto religa o jogo cósmico ao jogo terrestre, social e político. Por exemplo, o Rei, entronizado, é investido de poder de representar o centro da criação, isso quer dizer a soberania de Deus. Destarte, nasce o mito adâmico.[106] Pode-se afirmar que o texto bíblico é um texto interpretado. Interpretou um horizonte, aplicando a sua realidade no sentido de haver uma mensagem para fortalecer a fé no Deus criador e salvador, bem como sustentador de todas as coisas.
5.4. A assimetria da criação e sua ordem
          Após uma reflexão nos relatos bíblicos que tratam das origens, e mais especificamente o de Gênesis 2. 4b-25, que tem a sua metodologia voltada para dar destaque à criação do ser humano, com o propósito de cuidar do “jardim” (Gênesis 2.8), segue-se a partir de agora uma reflexão teológica no texto de cunho sacerdotal. Esse relato (Gênesis 1.1-2,4a)[107] tem a postura didática de focalizar a criação como produto da palavra de Deus, e depois a feitura do ser humano para cuidar do jardim de modo pleno e responsável.
Os dois relatos da criação são diferentes, e o que significa é a não-existência de uma representação de cunho pré-científico do universo. O que se destaca é a proposta teológica dos textos. Tem a ver com a genealogia histórica; um enfoque no que concerne à criação como obra de Deus e não fruto do acaso. De um Deus que cria mediante o modo separação, instituindo um espaço ordenado sendo esta postura enfatizada pelo relato de cunho sacerdotal.[108]
O relato de Gênesis 1.1-2,4a, apresenta uma profunda mensagem. Essa mensagem contém um ensinamento sob um grau de mediação profundamente refletida. Porque é afinada e concentrada sobre o essencial. Isso tem a ver com a criação estabelecida em sete dias, sobre um plano de fundo de abismo e trevas, constituindo-se um paradigma cósmico, sob uma genealogia histórica.[109] Isso mostra que há um Deus que estabeleceu a criação mediante um modelo de separação, que contém um tempo e um espaço de forma organizada. Essa ordem da criação se projeta para frente. Esse sentido que se acha decifrado no coração da criação, mediante o relato, é de que ela própria existe sob a forma de uma estrutura que possui uma base de exterioridade, e se mantém no grau de uma diferença perpetuamente reafirmada. Sendo assim, se percebe que há sempre algo novo na criação, apresentando-se esta como oferta de Deus ao ser humano. A diferença na criação atesta que ela comanda uma assimetria, constituindo-se um espaço contingente, com uma estruturação singular.
Posturas e mensagens profundamente teológicas podem ser tiradas do relato bíblico de Gênesis 1.1-2,4a.[110] São lições do relato; ensinos teológicos para uma existência concreta, através das quais o crente pode afirmar a sua fé no Deus criador e salvador.
          Os três primeiros versículos do relato de Gênesis 1, mostram a irrupção de uma primeira intervenção de um Deus que diz “Haja luz; e houve luz” (Gênesis 1.3). Essa luz se constitui o plano básico em que se desenvolve o ato criador de Deus.
No versículo 1 consta: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Esta oração sempre concedeu lugar a muitas disputas gramaticais e teológicas. Pergunta-se: é apenas uma frase independente do contexto? Muitos estudiosos a contestam. A contestação se dá mediante uma subordinação circunstancial de tempo, podendo ser traduzida assim: “O dia em que Deus começou a criação dos céus e da terra...”[111]  A expressão tem seu pendor para o versículo 3, onde se encontra a palavra divina que afirma a criação de luz. Já o versículo 2 consta como um inciso: “A terra, porém, estava sem forma e vazia...” Também, há uma estrutura paralela constante no início do relato de Gênesis 2: “O dia em que o Senhor Deus fez a terra e o céu” (4b); “Não havia nenhuma planta do campo na terra... (v. 5-6); “Então, formou o Senhor Deus ao homem...” (v. 7).
Pode-se deduzir dessa estrutura o seguinte: 1. Um anúncio que se apresenta mais ou menos como inscrição, mas que aparece inserida num drama temporal; 2. Um inciso precisamente como plano básico sobre o qual vai sobrevir o ato criador; 3. O principal: a intervenção de Deus sobre o qual comporta todo o acento e que se dá como irrupção, cesura, inauguração.[112]
Entende-se que se pode hesitar, através de análises sobre os textos referidos, entretanto é tudo muito claro e importante, pois, nem o versículo 1, nem o versículo 2, podem valer como apresentação dos atos criadores particulares, quer dizer, anteriores à obra dos sete dias, o que na realidade o relato vai demonstrar em seguida.  Se o versículo 1 deve constituir uma frase independente,[113] ela se apresenta como título, tomando eco final em Gênesis 2. 4a. Na perspectiva do texto, sobre a criação do céu, fala com propriedade do segundo dia e este da terra como terceiro. Já quanto ao versículo 2 “A terra, porém, estava sem forma e vazia...”, salta aos olhos que não se apresenta o resultado de uma ação criadora de Deus, mas a estrutura de Gênesis 1 tem como propósito mostrar o contrário, que esta ação tem início com o primeiro dia[114] para se concluir senão com o sétimo. Assim, há a indicação de que a totalidade da semana já é apresentada no começo.[115]
Diante do exposto é preciso refletir um pouco sobre Gênesis 1.2.[116] O texto fala de uma “terra sem forma e vazia”, de “trevas”, de “abismo” e de “massa líquida”. Em seguida, fala de que “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. Esse “Espírito” é o sopro de Deus, desviando-se da realidade apresentada.
É necessário compreender a mensagem do texto bíblico. Para início de compreensão, a propósito do primeiro elemento lingüístico, onde se diz que “a terra era sem forma e vazia”, não é propriamente criada por Deus. Há uma precedência, mas esta se estende para além da cronologia. Isto significa que precede o tempo, ou seja, que vem antes do primeiro dia, antes da semana inaugural. Terra sem forma, deserta, trevas, águas, têm um significado carregado de negatividade. Por exemplo, o “sem forma” vem como antítese do que é posteriormente criado, segundo a continuidade do relato. As “trevas” são, biblicamente, solidárias com a morte e com a desgraça, opostas à bondade e à vida que permite a luz. Quanto às “águas”, elas representam um elemento sempre perigoso, compreendendo as fronteiras do criado, ameaçador sempre de vir submergir de novo no espaço da humanidade. Assim, é constatada essa realidade negativa, nos sentidos mais profundos dos termos apresentados. Foi necessário afirmar que essa realidade não ficou estabelecida a partir da criação, como esta de que a intervenção de Deus põe fim. Ela é colocada radicalmente sob o sinal do passado, deixada de lado, realidade de que a esta Deus diz seu não de modo profundo.[117] 
A realidade negativa em questão, não desfruta da verdadeira positividade. Teologicamente, se pode e se deve dizer que, essa situação é propriamente compreendida de nada ter a falar. Este é um julgamento teológico.[118] Sendo assim, tem parte ligada a um momento de instauração, segundo a semana inaugural, e que se pode compreender o ser em termo de vitória.[119] O redator sacerdotal é fortemente polêmico, em apresentar um Deus que criou tudo soberanamente e que a criação não deve nada a uma matéria ou a um jogo de forças que preexistiram. E que nada permanece senão Deus, que institui vitoriosamente a criação, no grau de um limite fundamental e imposto no caos. É no entender de que Gênesis 1 se insere na oposição caos-cosmos,[120] contra uma certa tradição metafísica que vem junto da expressão creatio ex nihilo, mas esquecida do contexto em que aparece. Sob essa investigação teológica a criação conforme Gênesis 1 é essencialmente cesura, separação.
Sobre o “sopro de Deus” contido no relato, como interpretá-lo?[121] Para uma interpretação segura é fundamental ter a noção de que esse “sopro de Deus” se constitui um valor antecipador. A sua menção no relato desapruma o abismo e faz apreender a presença de Deus, estando presente antes do começo, segundo o desígnio criador de Deus que precede a criação e a comanda. E também, em outro sentido, compreende prefigurativamente o caos em certos limites. A sua menção antecipa o que se passa com e na criação. O sopro ou Espírito de Deus é, por excelência, o que se acha hoje, outorgado sobre o povo santo, povo separado dentre as nações que é a Igreja. Assim, o versículo 2 indica que este Espírito justamente perpassa toda a criação. Mas ele se manifestará plenamente em termos escatológicos. O Espírito de Deus precede a obra dos sete dias, e antecipa o depois, sustentando a estrutura da criação com sua força oculta.[122] Sua referência no relato indica, prolepticamente, que se a criação foi construída de separações, é esta uma via de um reencontro possível, de uma aliança, de um diálogo, de uma história. Considerando que a criação tem sua origem da força da palavra de Deus, há entre ela e o Criador uma relação, existindo fundamentalmente, ruptura, distância e exterioridade recíproca.[123]
Em continuidade, no que concerne à obra criadora de Deus, é importante verificar o significado da expressão: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gênesis 1.3).[124] O que enfatiza esta expressão? Ao silêncio que é precedido, sobressai o milagre da palavra de Deus. Enfatiza o poder criador da palavra divina. É uma ordem que se realiza de forma imediata no tempo. Comanda o surgimento do primeiro dia de uma semana que se concluirá com o sábado. Nessa semana há uma alternância regulada pelo dia e pela noite. Significa um espaço estruturado. Essa alternância demonstra uma evolução em regime de ordenamento, em termos de limite e posição. A luz sobressai da ordem da criatura, nascida da palavra. Não é uma manifestação divina de assegurar qualquer passagem do tempo à eternidade. Mas, acentua uma base de uma criação do tempo.[125] O primeiro dia é constituído como uma célula-mãe, que formará uma base de unidade temporal estruturada, por um ato central de separação. Assim, o que governa a criação não tem nada a ver com os astros, mas com a palavra de Deus. Os astros estão inseridos dentro do contexto dos elementos criados. Para não haver equívocos, o autor do texto bíblico indica que no quarto dia foram criados os astros e outros luminares (Gênesis 1.14ss).
Diante dessa disposição, estruturada sob forma de separação, ou seja, um espaço estruturado e ordenado, constituído como ato da palavra de Deus, verifica-se que nada há na criação que não seja divino ou sagrado. Nada há que não seja manifestação direta de Deus. Mas, é necessário entender que, o que foi criado não contém partes de Deus. Como sendo uma criação boa, é estruturada em forma de submissão, de resposta a uma injunção. Assim, a criação advinda de Deus, está diante de Deus por ser boa.[126]
Qual o motivo do Criador ter estabelecido a criação em forma de separação?[127] É que a obra de Deus não ficou sem as suas intervenções após a criação do primeiro dia. Foi estabelecida uma dinâmica: após o primeiro dia, vem o segundo, e assim sucessivamente, com todas as suas marcas fundamentais. O firmamento é obra do segundo dia (Gênesis 1.6-8), assumindo, essencialmente, uma função de demarcação entre as águas superiores e as águas inferiores. Quanto a terra, ela emerge das águas inferiores no grau de uma nova separação (v. 9-10). Perseguindo essa dinâmica, a noção de uma criação como separação terá suas repercussões no nível da vegetação (v. 11-12, no terceiro dia). Os animais foram criados no início do sexto dia, cada um conforme a sua espécie (v. 24-25). É uma separação no nível horizontal, instituída diferencialmente. Quanto à criação da humanidade, esta é percebida na condição de homem e mulher (v. 26ss) que tem sua postura contrária ao mito andrógeno.[128]
Essa estrutura que apresenta Gênesis 1.1-2, 3 é percebida como a melhor  que faz transparecer as características da criação.[129] A prioridade que está de acordo com a estrutura de separação, comanda uma instituição do tempo. Percebe-se que há uma totalidade, que compreende um princípio, um centro e um fim, constituindo-se um paradigma, uma exemplaridade.
A importância do Sábado
E quanto ao sábado, qual a sua importância na obra da criação estabelecida por Deus? O “sétimo dia” é o sábado e tem a sua importância,[130] pois, ele está inserido a título de acabamento, de conclusão.[131] O sábado marca o caráter de término da criação. O sábado não tem a intenção de dirigir qualquer tempo de pausa, de parada, que parará de soprar e de retomar. Ao contrário, tem a conotação de celebrar os atos criadores de Deus, que por assim dizer, fecha-se sobre ele mesmo nesta finalidade. É o momento em que se celebra a obra de Deus e a sua bondade, desde o primeiro dia. Neste sentido, o sábado é, supremamente, marca de separação. Não que ele prefigure um tempo sagrado diferente dos outros, mas de concluir a obra dos sete dias, manifestando-se antes que o tempo e globalmente a promessa de santificação.
O sábado é figura de separação, indicando uma cesura entre a primeira semana, que é considerada uma recapitulação arquetípica do tempo e promessa escatológica, e a história da humanidade.[132] Essa cesura que é indicada percebe que a obra de Deus se abre ao homem sob sua forma concluída. Que o repouso de Deus vem na história indicar que a criação tem de responder ao Criador. Assim, Deus se regozija por sua obra, enquanto o homem se regozija por Deus ser o criador.
Diante do exposto, reconhece-se que é preciso perceber um ponto muito importante para a Teologia: que essa primeira semana não é unicamente um começo e um fim, mas é provida de um centro.[133] O quarto dia apresenta uma visão particular, no sentido de reaparecer o tema da luz, sendo o dia da criação dos astros. A luz está presente desde o primeiro dia; ela acompanha a criação do firmamento, da separação da terra e das águas, da criação dos vegetais. Mas, a criação dos astros se percebe diferente. É um canto que não se deixa de entoar.[134] O redator de Gênesis 1 sublinha, de forma polêmica, seu caráter radical sob a condição de criados:[135] os astros não foram criados para dar origem à luz, sendo intermediários possíveis entre Deus e o mundo. Eles ocupam uma posição central e não inicial na criação. Eles foram investidos de uma missão particular: presidir o desenvolvimento do tempo. O dia e a noite se desenvolvem sob seus auspícios, e sobre tudo, no que concerne aos anos e as diferenciações que os constituem, servindo como sinais para festas, dias e anos.
É uma estrutura profundamente interessante. A menção das festas não segue o sábado. O único momento do relato onde a história da humanidade é denotada não vem no termo da semana, mas no seu centro. É uma estrutura que sugere que o começo do tempo e da história não venha se inscrever na mesma linha, no prolongamento de um e de outro. Comporta uma inauguração proposta sob a forma de uma totalidade que se fecha no estado de figura exemplar, como primeira manhã da história. E se sublinha também a importância do sábado a título de conclusão. Percebe-se uma estrutura mesma do texto, afeto ao seu modo mesmo de refletir. Reflete, pois, a história e seu começo e a origem da criação se cortam de forma perpendicular. Assim, juntando-se ao redator de Gênesis 2-3, a origem deve se renovar, os começos da história não fazem nome com a origem da criação. Isto é porque em Gênesis 2-3, toma-se a forma de declaração e a segunda a forma de confissão.[136]
No sentido de se compreender essa noção de perpendicularidade, trata-se do conceito de “diacronia sobre a sincronia do espaço”.[137] Mas, como a história e seu início e a origem da criação se cortam de modo perpendicular?
A primeira semana da criação tem em si mesma uma conclusão, com o sábado. A história não vem depois com o sábado que conclui a obra da criação, porém ela é expressa em seu melhor. O redator de Gênesis 1 aposta numa abertura espontânea de partida. Ele está certo de um relato da criação, mas sabe que a totalidade das coisas não se reúne em sistema, que se lê em função de uma única perspectiva. Neste sentido, o tempo e sua originária diacronia têm a prioridade sobre a sincronia de espaço.[138] Diacronia originária, porque o tempo que é essencialmente presente, vem sempre depois um passado. O passado é a marca de que qualquer coisa que não é mais. Há uma certa distância. Esta diacronia é inerente à confissão de uma criação que tem sua origem na palavra. Portanto, evocar a criação não é, nesta perspectiva, se referir a um puro e simples preenchimento do nada pelas coisas existentes. Antes, é evocar uma instauração de uma figura específica do mundo, conquista no confronto com um caos, e este sobre o fundo de um nada que nem pode, nem deve, jamais ser totalmente e definitivamente conjurado.
A criação, biblicamente, sobrevive sempre tomada por arrombamento.[139] Ela sobrevive em meio à violência. No entanto, ela foi estabelecida por Deus em alteridade. Mas ela é necessariamente cortada sobre o fundo de ausência; ela é cunhada de precariedade, e deve sempre ser reconquistada e novamente ofertada. Assim, chama-se a atenção ao fato de que a positividade da criação não reside nas coisas, como se o nada nem as ameaçasse mais sobre o único fato que elas existem. Ela é elevada à palavra que a institui como figura particular do mundo, e esta não parte desta positividade para além, senão que a vitória sobre o nada pode ser celebrada. Assim, a narrativa mostra que é possível crer em poder extirpar toda ausência originária e toda descontinuidade presente. E, que a criação é supremamente ameaçada pelo nada, em linguagem bíblica, pela morte. Mas, também é verdade que a criação é dom que deve ser recebido.
Ao nascermos já encontramos uma criação que há muito tempo é falada, nomeada, pois é isto mesmo que a faz ser criação. Mas, ela assinala ao mesmo tempo, que a história não é pensada como seguida de desenvolvimento linear. Ela será como história descontínua das gerações (tôlédôt).[140] Isto significa o valor do tema das gerações na obra sacerdotal.[141] É a história das pessoas que retomam a palavra, cada um por sua conta e na sua plena singularidade, mesmo sendo finitas. História que deve ser reunida sob o termo de gerações, porque metaforicamente, ela não pode ser dita senão como história dos filhos. História dos que sabem quanto é necessário que o mundo tenha de ser falado, estruturado pela palavra do Criador que, de fato, é escatologicamente, figura de Pai. É necessário que a palavra tenha sido dita para poder falar e dizer ao mundo e ao seu redor.
O tempo tem prioridade sobre o espaço, entretanto, ele é instituição do espaço. Isto quer dizer a que a história da humanidade é precedida pela história dos começos. E a menção corrente de que a obra dos sete dias culmina na criação do ser humano, é demasiadamente simples. Os versículos de 26-31 explicitam bem um só ponto culminante. Atestam a declaração solene: “Façamos o homem à nossa imagem” (v. 26). Em sequência, a vocação do homem é de dominar a terra, o que vai ser reprisado no v. 28. Depois, vem a conclusão: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (v. 31).
Uma observação feita demonstra que, ao invés de um ponto culminante, sendo este a criação do homem, o correto é que existem dois pontos culminantes.[142] É comprovado que o homem é chamado a instar entre os animais e receber o alimento da mão de Deus (v. 29-30), e sobretudo, ele não tem poder para comandar os astros. O homem é erguido no coração do mundo, mas ele vive sob o céu. E se a criação da terra, dos vegetais e dos animais parece bem convergir na direção à criação do homem, a obra do quarto dia, dia central, anuncia não o sexto dia mais o sábado. Portanto, o texto apresenta um duplo ponto culminante: o homem e o sábado. Estes pontos não se inscrevem numa mesma linha, eles cortam uma estrutura mais complexa, onde, desde já visto, essas linhas se cortam no anglo direito.
A obra de Deus que é magnificada no sábado, antes de ser proposta ao homem, ela aparece como espaço. Antes do homem passar a existir a criação foi criada como espaço.[143] O homem foi inserido no espaço que é a terra, sob o céu. E longe de ser espaço vazio, a terra e o céu são estribados numa vida diferenciada e ordenada. Assim, o relato adota um ritmo de celebração, de liturgia cósmica, de louvor. O texto da criação ignora toda a natureza bruta, mas apresenta em primeira mão uma natureza construída. A perspectiva bíblica ignora originariamente a noção de elementos sagrados entre si, opostos a outros de natureza profana.
A teologia cristã reflete de modo profundo a criação como evento ou como desenvolvimento, e requer do homem uma posição central.[144] A visão de um processo proposto desde as origens, e uma atuação do homem se constitui uma segunda instância.
No relato de Gênesis 1  consta a imagem do homem e da criação descritas de uma outra maneira, sendo diferente de Gênesis 2, mas em referência à focalização de uma perspectiva no que tange a relação do homem e do mundo.[145] Apresenta uma realidade com características dinâmicas, um processo que se dá através de uma visão que se instaurou de forma ativa, sob a palavra de Deus que, de um caos sem vida, faz surgir tudo o que existe. Uma criação a partir do nada (ex nihilo), que em termos da revelação, conduz à reflexão de uma polaridade caos-cosmos.[146] E no coração dessa boa criação de Deus, percebe-se que tudo quanto foi criado é bom. “E viu Deus que isso era bom”. Mas em contraste, surge a negação do homem em sua existência, também criado por Deus, e colocado pelo Criador para ser administrador da boa terra. Um homem histórico, partilhado em dois pólos sexuais, situado no coração da criação, vindo de Deus e concluído por Deus, bem como chamado à responsabilidade.[147]
O homem, segundo o relato, é imagem de Deus[148] no coração da criação, e Deus concedeu a ele o poder de dominar. Desta forma, se dá no coração da criação um processo: o jogo de uma ação dramática e de uma intriga possível, onde a criação se encontra em acabamento. Esse drama se passa através do homem. Por mais que as coisas tenham vindo de Deus, o homem não se inscreve nessa realidade de uma forma positiva, mas de modo negativo, envolvendo-se num drama que chama a um relevo. Destarte, o mundo das coisas criadas em sua positividade e seu ser, foi profundamente subvertido no interior da criação de Deus. E essa criação aguarda um gesto de oferenda, na liberdade do homem e para a glória de Deus e de seus filhos (Romanos 8.18ss).[149]
Essa dominação do homem foi permitida pelo Criador como uma dominação diferente da de Deus, uma dominação segunda, que num gesto do Espírito, sobressaísse para a glória de Deus e da ordem dos corpos. Mas, ela se transforma posteriormente. O homem teria de entender e aceitar a ordem positiva: “Vós sereis de Deus”, mas ele quis ouvir a voz de “Vós sereis como Deus”.[150] Assim, esse mau entendimento do homem perdura até hoje.
Sendo dinâmica a criação é pensada mais como evento intra-histórico. Isso quer dizer que, no coração de uma matéria, se processa a mudança do caos[151] para a vida como a primeira manhã da história, porque antes nada existia em termos de matéria. A criação tem o seu desdobramento, o seu desenvolvimento. O universo tem uma história, esta da matéria que se origina. O universo que se arrefece se dilata e se estrutura, da menor escada (o mundo das partículas) como da maior escada (as galáxias e os acerbos das galáxias). Progressivamente, se prepara o berço no qual a vida surge, à qual se faz ajustar a idéia que se impõe hoje de uma continuidade entre evolução do universo e a vida.[152] E nesse processo, há de se perceber uma diferença fundamental: o mundo criado é diferente de Deus.
A humanidade, literalmente é o centro da criação, e esta tem de ser recebida como dom de Deus. O homem é administrador e não o criador. Ele vem ocupar um espaço em que ele tem de ir além, pois é chamado a desenvolver uma obra no coração do mundo. Assim, o homem é único nessa finalidade, nesse espaço diferenciado. Ele mesmo é diferenciado, homem e mulher, porém único, na administração da criação. Sua unicidade se sustenta através da unidade de uma obra finita, por sua vez. Isso tem a ver com a natureza da própria criação, que foi estabelecida mediante alteridade. O significado disso, é que foi instituído em seu centro um sujeito que responde.
A Teologia tem por toque mostrar que o mundo é sempre referido a uma Palavra, e que, portanto, deve ser em função de uma obediência responsável, mas que essa Palavra pode ser aceita ou recusada. Deste modo, o teólogo tem por obrigação mostrar que o mundo tem de ser convocado ao tribunal de alteridade como questão decisiva. A intenção é de revelar o mundo em sua singularidade inscrita numa estrutura de vocação e de resposta, mediante a graça de Deus que polariza toda a vida e toda a história.

CONCLUSÃO

          Através deste trabalho se pode observar a importância do estudo da ciência teológica, ainda que de maneira sintética. Essa importante ciência que é a Teologia, ensina acerca de Deus e de suas relações com a obra da criação. O seu objetivo é preparar a pessoa para reconhecer que o ser humano e toda a criação é obra de um Deus sábio e amoroso. Sendo assim, Deus deixou-nos a sua Palavra escrita, a fim de que possamos observá-la, pois nela está contido tudo o que precisamos saber para vivermos uma existência saudável.
          Deus, o Senhor, se revelou de modo sublime e maravilhoso, ao vir ao encontro de sua criação para lhe dar vida em todos os sentidos. A começar pelo ser humano, na pessoa e obra de Jesus Cristo, na força e no poder do Espírito Santo, fez-se perceptível. Assim, nada pode escapar da ação soberana de Deus, que é amor em sua plenitude.
          A Teologia é ciência; é conhecimento certo e seguro. Há um pressuposto fundamental que marca a vida de quem estuda essa Ciência: a fé. A fé tem a ver com todos os ramos da Ciência, principalmente a Teologia. E, para se aceitar a Revelação Inspirada de Deus faz-se necessário perceber a Iluminação do Espírito Santo, aplicando no mais íntimo do ser humano a mensagem da Revelação. A Revelação escriturada encontra-se tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.         
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[1] Para uma melhor compreensão faz-se necessário ter um contato com a obra de ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1997. Cf. páginas 15-20. O autor ao tratar da natureza da Teologia aborda a questão da Teologia como estudo doutrinário.
[2] BOFF, C. Conselhos a um jovem teólogo. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1999. Artigo, p. 1-14. In: Teoria do Método Teológico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, 754pp.
[3] Cf. as obras teológicas utilizadas no estudo sobre Deus: A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, Primeira edição especial, CEP, 1991; A CONFISSÃO BELGA; A CONFISSÃO DE FÉ DOS MÁRTIRES DA GUANABARA; SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA; BERKHOF, L. Teologia Sistematica, Cuarta edición espanhola (revisada), 1979; BRAATEN, C. E. (Ed.), Dogmática Cristã, Vol. 1. Sinodal, 1990; KELLY, J. N. D., Doutrinas Centrais da Fé Cristã, Vida Nova, 1994; SCHNEIDER, T. Manual de Dogmática, Vol. 1. Vozes, 2002; STRONG, A. H. Teologia Sistemática, Vol. 1. Teológica, 2002; TILLICH, P., Teologia Sistemática, Sinodal e Est, 2005.
[4] PANNENBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática, Vol. 1, p 100.
[5] Ibidem, p 101, 102.
[6] BERKHOF, L. Teologia Sistematica, p. 19 ss.
[7] SCHNEIDER, T. (Org.) Manual de Dogmática, Vol. 1, p. 55 ss.
[8] Cf. STRONG, A. H. Teologia Sistemática, pp. 98-106.
[9] Cf. STRONG, A. H. Teologia Sistemática, p. 452 ss.
[10] KELLY, J. N. D. Doutrinas Centrais da Fé Cristã, Vida Nova, p. 64 ss.
[11] JUNGMANN, J. A. The Place of Christ in Christian Liturgical Prayer, New York, Alba, 1965. In: BRAATEN, C. E. Dogmática Cristã, p. 108.
[12] BRAATEN, C. E. Dogmática Cristã, p. 109.
[13] ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática, Vida Nova, 1999, p. 100 ss.
[14] BERKHOF, L. Teologia Sistematica, pp. 46-52.
[15] PINK, A. W. Os Atributos de Deus, PES, 1990.
[16] Cf. ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática, p. 104 ss.
[17] Ibid.
[18] BERKHOF, L. Teologia Sistematica, p. 59, não compartilha dessa idéia, pois assume o uso do termo “propriedades”.
[19] Cf. com mais profundidade: BERKHOF, L. Teologia Sistematica, pp. 59-95; ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática, pp. 105-126.
[20] Cf. CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985, Volume 1. Páginas 53-111.
[21] Sobre este assunto tão importante da Teologia Sistemática, verificar a obra de BERKHOF, L. Teologia Sistemática. Em espanhol, páginas: 19-95. O autor trata da existência de Deus e de seus atributos para uma melhor compreensão acerca da doutrina.
[22] “Hamartia” é o substantivo mais comum no Novo Testamento traduzido por “pecado”. Ocorre 60 vezes nas cartas de Paulo. “Hamartanein” é o verbo usual traduzido por “pecar”. No grego clássico tem a idéia de “fracasso”. É traduzido mais profundamente por “errar o alvo”. Pode-se usar também no sentido de perder o rumo certo, para o fracasso nos planos, esperanças ou  propósitos (ROCHA, N. C. M. Estudo sobre o Pecado, RJ, 02.01.1992).
[23] A Grande Enciclopédia Delta Larousse, 1998, assim define orgulho: “Do germ. urgoli, pelo cat. orgull.” 1. Elevado conceito que alguém faz de si próprio. - 2. Amor-próprio exagerado. - 3. Brio. - 4. Altivez, soberba. - 5. Ufania. Ser orgulhoso é apresentar-se com um olhar altivo, arrogante. Está ligada profundamente à vaidade, altivez. “É o senso de superioridade perante os outros.”
[24] Cf. ROCHA, Nelson Célio de M. A cristologia de João Calvino. In: Revista Teológica - Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, Vol. 1. Rio de Janeiro: 2001, pp. 52-62.
[25] “Depravação Total” é o primeiro ponto dos denominados “Cinco Pontos do Calvinismo”, que são estudados no Curso de Teologia, na parte de Cristologia e Soteriologia.
[26] Aqui já é uma análise de GISEL, P. La création. Essair sur la liberté et la nécessité, l’histoire et la loi, l’homme, le mal et Dieu. Genève: 1987, p. 19.
[27] Ibidem, p. 21,22.
[28] Segue o pensamento de João Calvino sobre o “Conhecimento de Deus”, contido no Volume I das As Institutas ou Tratado da Religião Cristã.
[29] Fundamentados nesse pensamento podemos refletir que não há ateus neste mundo.
[30] ALVES, R. O que é religião. São Paulo: Abril Cultural, Brasiliense, 1984.
[31] Uma pergunta que se faz nesses últimos tempos é a seguinte: QUE CULTO A DEUS PRESTA-SE HOJE? Os cultos nas igrejas têm sido cristocêntrico ou antropocêntrico, ou seja, são feitos a Deus ou aos homens?
[32] A Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998 assim define SUPERSTIÇÃO: (Do lat. superstitio, superstitionis.) 1. Desvio do sentimento religioso, fundado no temor ou na ignorância, que empresta o caráter sagrado a certas práticas destituídas de transcendência; crendice. -2. Presságio infundado e vão, tirado dos acontecimentos meramente fortuitos (como uma  vasilha emborcada, número treze, etc). - 3. “Apego exagerado ou infundado a qualquer coisa.”
[33] Calvino está tratando dos gregos com suas vãs filosofias; pelas suas especulações ficavam mais distantes de Deus.
[34] Calvino está falando do senso da divindade (sensu divinitatis) que está dentro do ser humano.
[35] Calvino está se referindo à Igreja Antiga, que se desviou da verdadeira adoração, em sua época.
[36] GISEL, Pierre, La création, p. 29.
[37] Sandice deriva-se de sandeu, que quer dizer idiotice.
[38] STRONG, Teologia Sistemática, Vol. I, p. 614.
[39] Calvino não trata daqueles que elaboram obras para a salvação, mas daqueles que foram justificados por graça e que têm o conhecimento da Divindade.
[40] Calvino afirma que, por mais que refulja a glória de Deus, dificilmente um em cem lhe é verdadeiro espectador.
[41] Pertencentes à Escola fundada por Zenão. Diz-se de um indivíduo firme, senhor de si mesmo. A virtude consiste em viver segundo a Natureza, aproveitar a vida como ela é. Negavam a ressurreição do corpo. Eram rígidos em Moral.
[42] Eram discípulos de Epicuro (Sec. II a.C.). Moral que se propõe à busca exclusiva do prazer.
[43] Cf. STRONG, Teologia Sistemática, Vol. I, p. 175-360.
[44] Os elementos da criação.
[45] No Salmo 19 apresenta-se a divisão bem nítida sobre e Revelação Natural e a Revelação Especial. Do verso 1 ao 6 o salmista trata dos elementos da natureza criados por Deus. Do verso 7 ao 14, trata da Revelação Especial que é perfeita e restaura a alma. É interessante observar que não existe uma suplantação de uma revelação sobre a outra, mas a segunda, faz que a primeira tenha sentido a partir da certeza de que a criação é obra de Deus e não do acaso.
[46] KRAUS, Hans-Joaquim. Calvin’s Exegetical Principles. Published by them in vol. 79 (1968), 329-41. Tradução particular: Rev. Nelson Célio de Mesquita Rocha, RJ, setembro de 1998. Para Calvino a autoridade da Bíblia provém do seu autor que é Deus. O Senhor fala através da Escritura. Aí está a base de sua autoridade: é a Bíblia a Palavra de Deus. Aqueles que escutam ou lêem a Escritura, encontram o poder da majestade divina, que é superior aos desejos e conhecimentos humanos. Todos somos incapazes de compreender os mistérios de Deus sem termos sido iluminados pela divina graça. Essa iluminação se dá através do “Testemunho interior do Espírito Santo”. Deus é suficiente no testemunho do seu ser revelado na sua Palavra, que opera no coração dos homens, confirmado pelo testemunho interno do Espírito Santo.
[47] Cf. BERKHOF, L. Teologia Sistematica, pp. 53 ss; CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e seus atributos. São Paulo: Cultura Cristã,  1999, pp 80-98.
[48] Ibid., p. 53.
[49] Cf. BORGES, Daniel, http://www.dannybia.com/danny/jesus/nom_deus.htm
[50] MOLTMANN, J. Trindade e Reino de Deus. Uma contribuição para a teologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. Páginas 199-122. Esse teólogo trata mais profundamente deste tema, o que vale à pena conferir, no sentido de um melhor aprofundamento.
[51] Ibidem. Página 119.
[52] Ibidem. Página 119.
[53] Ibidem. Página 122.
[54] HUBBARD, D. A. Joel e Amós. Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1996. Para um melhor aprofundamento, verificar as páginas 78-81.
[55] BRUCE, F. F. João. Introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão. Páginas 259-260.
[56] Ibidem. Página 259. Aqui se entende a permanência do Espírito Santo, polarizando toda a vida da Igreja. É a assistência completa e definitiva do Parácleto.
[57] CALVINO, J. 1 Coríntios. São Paulo: Parácletos. Páginas 117-118.
[58] Ibidem. Página 117.
[59] Ibidem. Página 118.
[60] BOFF, L. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 19996. Páginas 13-16. Não consta na obra a enumeração. A numeração constante foi elaborada pelo autor do presente estudo.
[61] Ibidem. Páginas: 25-46.
[62] Ibidem. Página 27. É uma frase literal da obra de L. Boff.
[63] BOFF, L. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 19996. Páginas 29. O pensamento desse teólogo tem sua base no pensamento de J. Moltmann.
[64] Texto de João 17.21, citado por L. Boff. Ibidem. Página 29.
[65] BOFF, L. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 19996. Página 31. Esta profunda obra de Leonardo Boff concentra uma profunda reflexão acerca da Trindade. O texto é claro e conciso, ao mostrar o interesse com o intuito de que haja uma compreensão, não somente da parte de estudantes de teologia, mas também de todos os membros da Igreja de Cristo
[66] Ibidem. Páginas: 36-37.
[67] Ibidem. Página 37.
[68] Ibidem. Página 68.
[69] Ibidem. Páginas: 96-97.
[70] BOFF, L. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 19996. Página 96. Estas são palavras literais da obra, o que não houve mudança, a fim de que o estudante de teologia possa verificar o conteúdo com precisão.
[71] Podemos verificar que em Gênesis 3.5 a síndrome do homem que quer se igualar ao Criador é perpassada em todos os ângulos da humanidade. O texto é bem claro: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” Depois disto, o fato do pecado foi consumado.
[72] BOFF, L. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 19996. Página 109.
[73] Sobre esse assunto, verificar o trabalho elaborado por ROCHA, Nelson C. M. sob o título “A Cristologia de João Calvino”, publicado pela Revista Teológica do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, Vol. 1, de dezembro de 2001. Páginas 52-62.
[74] Cf. HEFNER, Philip J. “A Igreja”, constante na obra Dogmática Cristã, cujos editores são os teólogos Carl E. Braaten e Robert W. Jenson. Uma publicação: Sinodal e IEPG, Vol. 2, 1995. Páginas 193-260. 
[75] Ibidem. Página 195.
[76] Ibidem. Página 195.
[77] HEFNER, Philip J. “A Igreja”. Página 197.
[78] Ibidem. Página 200.
[79] Cf. JENSON, Robert W. “O Espírito Santo” constante na obra Dogmática Cristã, cujos editores são os teólogos Carl E. Braaten e Robert W. Jenson. Uma publicação: Sinodal e IEPG, Vol. 2, 1995. Páginas 115-189. 
[80] Ibidem. Página 122.
[81] Cf. GISEL, P., La création, pp. 17ss.; Création et Eschatologie, pp. 621ss; La thélogie face aux changements des représentations du cosmos. Quelle odyssée e pour quitter héritages? pp, 22ss.
[82] Cf. GISEL, P. La création, Genève: Labor et Fides, 19872, pp. 5-171; Le Christ de Calvin, Paris: Desclée, 1990. 205p. Artigos: Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, pp. 121-162. Publications des Facultés universitaires Saint-Louis, Bruxelles, 1989; Création et Eschatologie. In: Initiation à la pratique de la théologie. Dogmatique II; Direction de Bernard LOURET et François REFOULÉ, 3a, 1993, pp. 613-722; Verité et tradition historique. In: Initiation à la pratique de la théologie. Introduction, Direction: Bernard LAURET et François REFOULÉ, Paris, Cerf, 1994, pp. 143-159 (Este artigo encontra-se traduzido em língua portuguesa sob o título: “Verdade e tradição histórica”, In: Iniciação e prática da Teologia: Introdução; São Paulo: Loyola, 1992, pp. 111-124. Obs: a tradução é de difícil entendimento.); La thélogie face aux changements des représentations du cosmos. Quelle odyssée e pour quitter héritages?. In: Théologiques 9/1, Lousanne, 2001, pp. 17-48.
[83] Cf. MIRANDA, M. F. Para uma teologia do imperativo ecológico. In: Atualidade Teológica; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Ano VIII – 2004 – fasc. 16, p. 48-49, chama atenção para a “atual crise ecológica sentida por todos, que teve seu peso na formação de uma consciência histórica que busca respeitar, valorizar e refletir teologicamente a natureza”. Continua: “... O problema é grave e urgente, exigindo a implementação imediata de políticas concretas, que injetem sensatez a uma produtividade desenfreada e ofereçam fontes energéticas alternativas”.
[84] A observação crítica aparece nas seguintes obras de GISEL, P. Verité et Histoire, Paris: Beauchesne; Genève: Labor et Fides, 1977, pp. 55-57; La création, p. 6; Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, p.140, publications des Facultés universitaires Saint-Louis, Bruxelles, 1989.
[85] MIRANDA, M. F. Para uma teologia do imperativo ecológico. In: Atualidade Teológica; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Ano VIII – 2004 – fasc. 16, p. 48-60, aponta para a necessidade da teologia refletir sobre a criação, revendo e explicitando os textos bíblicos mais pertinentes ao tema. Neste sentido, contém uma exigência acerca de uma compreensão cristã da criação que deixe suas raízes no próprio ser de Deus, na própria Santíssima Trindade. E, somente à luz do mistério de Deus, pode haver uma reflexão que arranque da profundidade indizível da vida trinitária divina, a fundamentação para um imperativo ecológico.
[86] GISEL, P. La mémoire comme structure théologique fondamentale. In: Revue de Théologie et de Philosophie, 125, Genève: Lausanne-Neuchâtel. 1993/I, pp. 65-76.
[87] GISEL, P. Le Christ de Calvin. Paris: Desclée, 1990. 205p. O autor apresenta de maneira sistemática a Cristologia de Calvino, reformador do Séc. XVI. O tema da mediação cristológica é de fundamental importância para se compreender a mediação entre Deus e o homem, manifestado por Cristo, implicando também nas mediações inter-humanas, eclesiais, culturais ou sociais.
[88] GISEL, P. La mémoire comme structure théologique fondamentale, pp. 68-76. Conferir também a obra de pneumatologia desse autor, La subversion de l’Esprit. Réflexion théologique sur l’accomplissement de l’homme. Genève: Labor et Fides, 1993. 217p. A subversão do Espírito implica, justamente, no desenvolvimento da realidade humana no coração do mundo. O mundo criado por Deus é lugar de prova e de bênção. E, a vida segundo o Espírito, é estar voltada para a realidade mundana.
[89] GISEL, P. La mémoire comme structure théologique fondamentale, pp. 65-76. Neste artigo o autor toma como base a sua obra L’Excès du croire, Paris: DDB, 1990.
[90] GISEL, P. Verité et tradition historique. In: Initiation à la pratique de la théologie. Introduction, Direction: Bernard LAURET et Fraçois REFOULÉ, Paris: Cerf, 1994, pp. 145-147.
[91] GISEL, P. Verité et tradition historique, p. 146.
[92] GISEL, P., La création, pp. 17ss.; Création et Eschatologie, pp. 621ss; La théologie face aux changements des représentations du cosmos. Quelle odyssée e pour quitter héritages? pp, 616-620.
[93] Uma reflexão atualizada e concisa sobre a escatologia está em BOFF, Lina. Da Protologia à Escatologia. In: MÜLLER, I. (Org.), Perspectivas para uma nova Teologia da Criação. Petrópolis-RJ: Vozes, 2003, pp. 111-129.
[94] GISEL, P., La création, pp. 17ss.; Création et Eschatologie, pp. 621ss; La théologie face aux changements des représentations du cosmos, pp, 22ss.
[95] GISEL, P., La création, pp. 19. Esta mesma afirmação encontra-se no bojo das demais obras: Création et Eschatologie, pp. 621ss; La théologie face aux changements des représentations du cosmos. pp, 616-620.
[96] Cf. GISEL, P., no artigo Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, p.140, publications des Facultés universitaires Saint-Louis, Bruxelles, 1989, com base na sua grande obra La création.
[97] O teólogo MIRANDA, M. F., em sua obra Libertados para a práxis da justiça, São Paulo: Loyola, 1991, levanta a questão de que na cultura cristã ocidental a criação recebeu um enfoque mais cosmológico, deixando em segundo plano o aspecto antropológico, uma herdade da sistematização aristotélica, que dominou por muito tempo a teologia da Igreja e marcou profundamente a consciência cristã (p. 31). Mas, a verdade é que não há dissociação entre criação e salvação.
[98] GISEL, P., La création, pp. 29ss.; Création et Eschatologie, pp. 624ss.
[99] Esta reflexão aparece de maneira mais concisa no artigo Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, p.123-128, publications des Facultés universitaires Saint-Louis, Bruxelles, 1989, com base na sua grande obra La création; cf. Também La création. Thèses théologiques, In: Cahiers protestants, Le Mont-sur-Lausanne, 1988/5, p. 30-36.
[100] Cf. BOUZON, E., Gn 2,4b-24 e os relatos mitológicos do Antigo Oriente, In: MÜLLER, I. (Org.), Perspectivas para uma nova Teologia da Criação, Petrópolis-RJ: Vozes, 2003, pp. 133-151, sobre Gn 2,21-22, nas páginas 139-140, apresenta uma profundidade acerca da criação da mulher, em que estes dois versículos são, literalmente, construídos por uma série de cinco frases em estilo narrativo, cujo sujeito é Deus. A série é, apenas, entrecortada pela breve notícia wayyîsan  “e ele adormeceu”. O relato da criação da mulher começa com a menção de um sono misterioso: wayyappêl YHWH’ e lohim tardemah ‘al-há-‘adam: “E YHWH Deus fez cair um tardemah sobre o homem”. O termo hebraico tardemah indica um sono profundo, geralmente enviado pelo próprio Deus. Em Gn 2,21 e Gn 15,12 a Septuaginta traduziu o termo hebraico por ekstasis. H. Gunkel apela neste contexto para o motivo do sono mágico bem conhecido nas lendas. O motivo da introdução deste sono profundo no relato da criação da mulher é claro para o leitor hodierno. Trata-se de algo misterioso a que o homem não deve assistir (compare Gn 15,12). O texto afirma que Deus tirou um sela` do homem e wayyisgor basas tahtennah: “e fechou com carne o seu lugar”. O termo hebraico sela` indica, aqui, “lado”, “costa”, “costado”. O próximo passo no processo criativo é descrito no v. 22a por meio do verbo banah (“construir”). Deus construiu a costela que tirara do homem em mulher. O verbo correspondente acádico banú é o termo técnico para descrever o ato criativo dos deuses babilônicos. No AT o verbo banah descreve o ato criativo somente neste lugar e em Am 9,6. Como dos animais criados como o homem min-há’adamah o homem não encontrou um ‘ezer kenegdô: “um auxílio correspondente”, Deus cria essa complementação da própria carne do homem. Essa formulação explicita em linguagem mítica alguém da mesma natureza do homem. Essa nova criatura é, então, conduzida ao homem que finalmente encontra sua complementação. Esta experiência do homem é expressa no v. 23 pela assim chamada “fórmula de parentesco”: “Esta é finalmente osso de meu osso e carne de minha carne”. No v. 23b o autor apresenta uma etimologia baseada em um jogo de palavras: “A esta chamar-se-á `issah “mulher” porque do `is “homem” foi tirada”. A narrativa atinge, aqui, o seu clímax. A criação do homem está, agora, completa. O à Adam não está mais solitário. Ele é, agora, `is e em ao seu lado a sua companheira `issah. Pela comunidade de vida com a mulher torna-se, finalmente, `iss: o homem no sentido pleno do termo.
[101] Cf. WRIGHT,G. E. Doutrina Bíblica do Homem na Sociedade, São Paulo: Aste, 1966. 190p.
[102] Cf. TEPEDINO, A. M., “Macho e fêmea”: criação e gênero, In: MÜLLER, I. (Org.), Perspectivas para uma nova Teologia da Criação, Petrópolis-RJ: Vozes, 2003, pp. 152-166, essa teóloga em “Contextualizando o texto” (p. 154), traz a lume que a versão hebraica da criação, datada no século VI a.C., foi produzida no exílio entre os deportados para a Babilônia. Gn 1,1-27 é um texto poético com frases solenes, onde as palavras correm em determinado ritmo. Seu uso deve ter sido litúrgico, uma vez que aparecem estrofes e refrões: “Houve tarde e manhã...” Considerando a situação existencial de sofrimento no exílio, o redator sacerdotal deve ter elaborado o texto com a finalidade de “animar a comunidade reunida”. A estruturação é minuciosa, sempre com uma frase introdutória e outra conclusiva, que serve de delimitação.
[103] GISEL, P., La création, p. 31.
[104] Ibid., p. 31. Indica-se que o momento da tipologia deverá preservar o leitor de um supranaturalismo ou positivismo da revelação. In: RICOEUR, P., Symbolique du mal.
[105] GISEL, P. La création, 31-32.
[106] Ibid., pp. 23-28. Os textos bíblicos relativos à criação foram redigidos segundo a proposta do mito. O que se entende? É que o mito em relação ao homem tem a ver com suas origens que se situam no mundo, diante da morte e do enigma do mal, em face de seus deuses. Por mito, se entende um gênero literário. Israel partilha a sorte de toda a civilização, e faz uso do mito como seus vizinhos fizeram, como por exemplo, os babilônios. Isto não quer dizer que Israel seja desprovido de originalidade. Seus mitos são particulares e específicos. Como todo discurso, tudo se torna palavra, com suas configurações próprias. Levanta-se uma crítica ao “Aufklärung”, período da crítica, em nome da razão, que diz ser o mito alegoria. A crítica bem direta é ao programa de R. Bultmann, de proceder a uma demitologização radical do texto bíblico, em proveito de uma interpretação estritamente existencial. Bultmann entende não demitizar, mas demitologizar. In: MALET, A. Mythos et Logos. La pensée de R. Bultmann, p. 45, n. 1.
[107] GISEL, P. La création, pp. 65-75; Création et Eschatologie, pp. 646-652.
[108] GISEL, P. La création, pp. 65-75; Création et Eschatologie, pp. 646-652.
[109] EISENBERG, J., ABECASSIS, A., Gênesis 1, op. Cit., p. 200, In: GISEL, P. La création, p. 65.
[110] GISEL, P. La création, pp. 65-75; Création et Eschatologie, pp. 646-652.
[111] Para situar sobre o assunto, cf. P. Gisel, em nota bibliográfica, In: La création, p. 66, faz constar em sua pesquisa: Rachi, Aben Esdras, Gersonide, etc. (cf. TOUATI, C., La lumière de I’Intellect, création du Premier Jour. L’exegese de Genèse 1, 1-3 segundo Gersonide; VAJDA, G., Notice sommaire sur I’interprétation de Genèse 1, 1-3 no judaísmo pós-bíblico). Cf. também: P. Humbert (TRESMONTANT, C., op. cit. p. 36).
[112] GISEL, P., La création, p. 66.
[113] VON RAD, La Genèse p. 45ss, as traduções de Jerusalém, sinodal. Posição inversa: T. O. B., aprovada por MARTIN-ACHARD, R., Et Dieu crée le ciel et la terre, p. 66. In: GISEL, P., La création, p. 66.
[114] CAQUOT, A., Brèves remarques exégétiques sur Gen. 1, 1-2, In: principio, p. 13-15. Uma análise sobre os diferentes pontos, In: GISEL, P., La création, p. 66.
[115] Cf. BEAUCHAMP, Création et séparation, p. 152; DUMAS, A., D. Bonhöffer, p. 158ss. In: GISEL, P., La création, p. 67.
[116] GISEL, P. La création, p. 67; Création et Eschatologie, p. 647.
[117] BARTH, K., op. cit., Vol. 10, p. 108ss. In: GISEL, P., La création, p. 67.
[118] GISEL, P., La création, p. 67.
[119] Em sua obra La création, p. 67, P. Gisel alude ao tema da vitória: BEAUCHAMP, P., op. cit. pp. 16, 85, 205, 215, 228, 230 (transparece sempre o motivo da passagem pelo Mar Vermelho – tradicionalmente, cf. por ex. LUTHER, op. cit. p. 48 ou as liturgias pascais – cf. p. 195, 202, 206s, 224ss.).
[120] La Genèse, p. 47. Acordado por BLOCHER, H., op. cit. p. 58. Por uma perspectiva judaica, cf. EINSENBERG, J., ABECASSIS, A., op. cit., p. 68 (o motivo de querer ser redescoberto por GUNKEL, H., Schöpfung und Chaos in Urzeit und Endzeit.).
[121] GISEL, P. La création, p. 68; Création et Eschatologie, pp. 647-648.
[122] BEAUCAHMP, P., op. cit., p. 183s. In: GISEL, P. La création, p. 68.
[123] GISEL, P., La création, p. 69, toma por base o argumento de VON RAD, G., referindo-se a BONHOEFFER, D., que sobre esta continuidade entre Deus e sua obra é sua Palavra, op. cit. p. 48.
[124] GISEL, P. La création, pp. 68-69; Création et Eschatologie, pp. 647-649.
[125] BARTH, K., op. cit. P. 70; BEAUCHAMP, P., op. cit., p. 51s; VON RAD, G., op. cit. In: GISEL, P. La création, p. 69.
[126] GISEL, P. La création, p. 69
[127] Ibid., pp. 69-70.
[128] GISEL, P. La création, p. 70.
[129] Ibid., p. 70.
[130] Pierre Gisel tomando por base CAQUOT, A., afirma que é admitido que o momento do shabbat constitui a “ponte” do relato, op. cit. p. 9; sobre este tema, cf. BARTH, K., op. cit. p. 105s.; BEUACHAMP, P., op. cit. p. 60ss; WESTERMANN, C., op. cit. p. 93s; VON RAD, G., op. cit. p. 58ss; BLOCHER, H., op. cit. p. 48. In: GISEL, P., La création, p. 70.
[131] EISENBERG, J., ABECASSIS, A., op. cit. P. 163ss, 169ss. In: GISEL, P., La création, p. 70.
[132] GISEL, P., La création, p. 70.
[133] GISEL, P., La création, p. 71.
[134] GISEL, P., La création, p. 70.
[135] VON RAD, G., op. cit. P. 52s. In: Gisel, P., La création, p. 71
[136] GISEL, P., La création, p. 72.
[137] Ibid., pp. 72-74.
[138] LEVINAS, E., Totalité et infini; Autrement qu’être..., p. 66s., 107, 179, 203. Exegeticamente, cf. BEUCHAMP, P., op. cit. p. 118; WESTERMANN, C., op. cit. P. 62.: << l’être dans le temps (Seis in der Zeit) a priorité sur l’être comme étant-à-disposition (Seis als Vorhandensein)>>. In: GISEL, P. La création, p. 72.
[139] La création, p. 72. A oração em francês “Bibliquement, la création survient par effraction...” A palavra “effraction” é traduzida em português por “arrombamento”. A idéia é a de roubo por arrombamento; a criação é sempre tratada com violência.
[140] Tôlédôt – Palavra hebraica, fem. Plural que significa: “descendentes”; “genealogia, geração, contemporâneos”; “história, gênese, origem, ordem de nascimento”. Cf. a análise de KIRST, Nelson et alli. Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 1988. O termo aparece dez vezes, introduzido as distintas partes em que se divide o livro de Gênesis. Ver. 5.1; 6.9; 37.2; 10.1; 11.10, 27; 25.12, 19; 36.1; 36.9. Cf. A Bíblia de Estudo Almeida, Barueri-SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. Ver comentário de Gn 2.4.
[141] GISEL, P., La création, p. 73.
[142] GISEL, P., La création, p. 73.
[143] Inid., p. 74.
[144] GISEL, P. Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, pp. 129-131.
[145] VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Aste, Volume I, 1973, p. 148. Esse autor afirma que as duas representações, embora por caminhos diversos, chegam à criação do homem, isto é, do ser humano, homem e mulher. O mundo inteiro se submete ao homem, considerando o ponto culminante de toda a criação, pois Gn 2.4ss atinge também o apogeu na criação da humanidade representada pela dualidade do casal. O homem é o centro em torno do qual Deus distribui as suas ações e, para Gn 1.1ss, é o vértice de uma pirâmide cosmológica. O interesse cosmológico é bem maior em P, que por isso mesmo traça uma história da criação  que tende para o fim, através de determinadas etapas, e que se dirige à criação do homem.
[146] GISEL, P. La création, p. 113.
[147] VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento, p. 152, afirma: No entanto, o homem, no degrau mais alto desta pirâmide, está colocado imediatamente junto de Deus e é nele que o mundo, na sua dependência, encontra perfeita intimidade com o mesmo Deus. Aliás, ele não é criado pela palavra como o resto das criaturas. Deus resolveu criá-lo após uma decisão particular e solene, que emanou do mais profundo do seu coração.
[148] Ibid., p. 152. Segundo Von Rad o motivo do homem, imagem de Deus, não implica em explicação alguma direta da natureza desta semelhança divina; seu centro de gravidade se acha antes na definição do fim para o qual ela foi comunicada ao homem. A dificuldade para nós está no fato de que o texto considera a simples declaração desta semelhança com Deus como suficiente e explícita. Podemos dizer a tal respeito duas coisas: as palavras tzélém, “imagem, estátua, objeto esculpido” e demût, “semelhança, equivalência”- sendo que a segunda interpreta a primeira, salientando a noção de correspondência e de semelhança – referem-se ao homem todo, não exclusivamente à sua natureza espiritual, mas também, e principalmente, à glória de seu aspecto corporal, ao hâdâr (“ornamento”, “superioridade”, “majestade”) e ao kâvôd com que Deus o declarou (Sl 8.6). Ez 28.12 fala ainda mais claramente da “beleza perfeita” do primeiro homem. Como imagem de Deus, o homem está colocado bem acima de todas as criaturas, mas a sua própria dignidade de pessoa lhe impõe também um limite superior.
[149] GISEL, P. Un salut inscrit en création. In: Création et Salut, pp. 130-131.
[150] Ibid., p. 131.
[151] VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento, p. 151. A maior oposição, numa relação que mal se pode determinar teologicamente, é a do caos informe, aquoso, tenebroso, abissal. Por causa do versículo primeiro não é possível chamá-lo de incriado, como se Deus já o tivesse encontrado antes de começar a criar. Mas, por outro lado, a noção de caos é inaceitável, pois o criado não é caótico. No entanto, a função do v. 2 é teologicamente importante para a disposição de conjunto visto ser o caos a principal ameaça para a criação; é uma experiência fundamental do homem; todas as afirmações da fé na criação sempre se referem ao caos: Deus tirou o mundo do  que era informe e o mantém acima do seu próprio abismo.
[152] GISEL, P. La théologie face aux changements des représentations du cosmos, p. 18.

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