Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha
Aula nº 1
A semântica e a natureza da Diaconia
Marcos 10.35-45
E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre,queremos que nos faças o que pedirmos.
E ele lhes disse: Que quereis que vos faça?
E eles lhe disseram: Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos,
um à tua direita, e outro à tua esquerda.
que eu bebo e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
E eles lhe disseram: Podemos. Jesus, porém, disse-lhes: Em verdade vós
bebereis o cálice que eu beber e sereis batizados com o batismo com que
eu sou batizado,
mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence
a mim concedê-lo, mas isso é para aqueles a quem está reservado.
E os dez, tendo ouvido isso, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser
príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de
autoridade sobre elas;
mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser
ser grande será vosso serviçal.
E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos.
Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.
O
termo “diaconia” tem sido
tradicionalmente associado a uma atividade secundária da Igreja.[1]
Isso se dá em virtude de se ter associado a missão da Igreja à proclamação do
Evangelho, cuja tarefa tem um cunho espiritual, que se resume apenas ao
discurso. Assim, espiritualizando-se essa missão, relega-se o ministério da
Diaconia da Igreja para segundo plano.
Sobre
“diaconia” tem-se pensado também
numa associação simplesmente a assistencialismo. Uma atividade que tem o
objetivo de atender apenas aos conflitos sociais e manter um certo status quo eclesial.
Mais
uma associação, referente ao termo “diaconia”,
tem sido evocado: a sua identificação com prestação de serviços por parte de
instituições de caridade, com o envolvimento de famílias e comunidades. Nesse
caso, esses grupos sociais delegam o cuidado por seus membros necessitados a
instituições especializadas, a profissionais competentes. Isso é denominado de
“terceirização da caridade”.[2]
Sendo desta forma, no espírito neoliberal, individualizam-se os problemas e as
soluções.
Uma
vez que muitos não têm entendido o tema “diaconia” ou têm compreensões
contrárias ao que ensina a Bíblia, há, portanto, a necessidade de se aceitar e
compreender que a “diaconia” emerge
como disciplina teológica, buscando seu espaço, sua fundamentação teológica e
sua conceituação.
A
“diaconia” se apresenta com seu
caráter interdisciplinar, como espaço de uma ciência teológica, imprescindível
para a busca da fundamentação teológica e da conceituação contextualizada.
Sobre
o texto neotestamentário acima citado, como se pode compreender a “diaconia”?
Perguntas fundamentais sobre o texto (Mc 10.35-45):
1. O que não é “diaconia” segundo a ação dos discípulos?
2.
Qual
a confusão que estava em seus pensamentos?
3.
Qual
o corretivo de Jesus acerca do sentido de “diaconia”?
4.
A
quem é dirigido o ensino de Jesus?
Mateus 25.31-46
■ 31. E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos,
com ele, então, se
assentará no trono da sua glória;
■
32. e todas as nações serão reunidas diante dele, e
apartará uns dos outros,
como o pastor aparta
dos bodes as ovelhas.
■
33. E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à
esquerda.
■
34. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu
Pai, possuí por herança
o Reino que vos está preparado desde a fundação
do mundo;
■
35. porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e
destes-me de beber;
era estrangeiro, e
hospedastes-me;
■
36. estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me;
estive na prisão,
e fostes ver-me.
■
37. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos com
fome e te demos de
comer? Ou com sede e te demos de beber?
■
38. E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu
e te vestimos?
■
39. E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos
ver-te?
■
40. E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo
que, quando o
fizestes a um destes
meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
■
41. Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo
eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
■
42. porque tive fome, e não me destes de comer; tive
sede, e não me
destes de beber;
■
43. sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu,
não me vestistes;
e estando enfermo e na
prisão, não me visitastes.
■
44. Então, eles também lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos
com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou
nu, ou enfermo, ou na
prisão e não te
servimos?
■
45. Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo
que, quando a
um destes pequeninos o
não fizestes, não o fizestes a mim.
■
46. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos,
para a vida eterna.
Perguntas
fundamentais sobre o texto (Mt 25.31-46):
1. Que ligação tem este com o texto anterior sobre a “diaconia”?
2.
Qual
será o critério de julgamento do Senhor na sua vinda?
Análise da palavra “diaconia”
■ Diaconia deriva-se do grego diakonia, -as, h - Significa: distribuição de comida, socorro; serviço; ministério, administração, ministração.
■ A palavra diakonew significa: sou servo de, sirvo à mesa, ofereço comida e bebida a; sirvo, exerço o diaconato.
Na língua grega, a mesma palavra é usada para indicar os homens ou as mulheres que ocupam esse ministério da ação social.
A
Igreja é uma comunidade de serviço, pois serve a Deus.[3]
Foi instituída para servir a Deus no serviço ao ser humano. A Igreja foi
estabelecida na Pedra Fundamental que é Jesus Cristo:
Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que
ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será
desligado nos céus.[4]
■ “Tu és Pedro” – pétros: fragmento de pedra; pedra pequena.
■
“...
e sobre esta pedra” – pétra: pedra grande; grande rocha.
■
“Edificarei
a minha Igreja” – ekklesían.
■
“...
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
A Igreja é a comunidade que serve como paradigma para as demais instituições humanas; ela é a primeira a se mostrar diante do mundo. A sua importância é tão notória, que Deus a utilizou para elaborar a Escritura Sagrada e ao mesmo tempo conservá-la, bem como disseminá-la em todo o contexto da existência humana. A Igreja é responsável pelo exercício da fé, porque ninguém exerce fé solitária e nem pode viver sem prestar serviço dentro da comunidade . Há de convir que existem aspectos inevitáveis sobre a realidade da Igreja: o pessoal e o institucional. A Igreja é comunhão de pessoas; é uma organização; é uma realidade histórica.
Virtudes e práticas da Igreja como Comunidade Diaconal, segundo Romanos 12.9-21[5]
A Igreja é o Corpo de Cristo. É composta de todos os remidos pelo sangue do Cordeiro. Logo, deve a Igreja agir condignamente, através da sua própria razão e natureza, de ser e de existir no mundo, com suas virtudes e práticas, fundamentadas na Palavra de Deus.
A Igreja forma o povo de Deus na terra e
tem por objetivo edificar a vida das pessoas de todos os lugares e de todos os
tempos, sendo instrumento de Deus.
O texto bíblico da Epístola de Paulo aos
Romanos, apresenta o quadro de uma Igreja que deve desenvolver as virtudes e
práticas ensinadas por Deus em sua Palavra.
Há qualidades que o povo de Deus deve
trazer em seu bojo, obedecendo aos parâmetros da única regra de fé e prática
que é a sacrossanta Palavra de Deus, e portanto, causará, sem dúvidas, impacto
profundo na sociedade.
O apóstolo Paulo ao registrar a
Sabedoria do Espírito Santo, veementemente expõe com precisão “Qualidades do
caráter da Igreja”, para que a mesma possa crescer em graça diante de Deus e
dos homens.
Vejamos o que é necessário, segundo o ensino bíblico, para que a Igreja cresça e se torne uma bênção para o Reino de Deus:
1. A PRÁTICA DO AMOR SEM HIPOCRISIA (9, 10). Deus não quer um amor falso e hipócrita. O amor deve ser praticado em favor do próximo, do contrário Deus não pode aceitar qualquer ato, mesmo que seja em nome do amor.
2. O APEGO AO BEM REPUDIANDO O MAL (9). É preciso detestar o mal sob quaisquer pretextos. O contrário da prática cotidiana é o apego ao bem, que é Deus e sua Palavra.
3. O FERVOR ESPIRITUAL NO SERVIÇO DO SENHOR (11). Nós não devemos ser remissos (relaxados) no serviço do Senhor, pois ele fez tudo para tivéssemos o melhor: a salvação, “Fervor espiritual” é o zelo que temos para como o serviço de Deus.
4. A PRÁTICA DA ESPERANÇA COM ALEGRIA (12). “Regozijai-vos na esperança” é a ordem da Palavra de Deus. Deus não quer que tenhamos uma esperança em reclamação, duvidando do seu poder.
5. O EXERCÍCIO DA PACIÊNCIA NA TRIBULAÇÃO (12). Às vezes é difícil suportar as tribulações, mas é preciso confiar na graça divina. O Senhor é quem nos dá o escape. As tribulações não são maiores que o Senhor Deus.
6. A PRÁTICA DA ORAÇÃO PERSEVERANTE (12). É preciso orar sempre e nunca esmorecer. Muito pode a oração do justo.
7. A ASSISTÊNCIA SOCIAL E A HOSPITALIDADE (13). “Compartilhar a necessidade dos santos” é poder ajudar as pessoas que precisam. A hospitalidade é o acolhimento que os santos dão às pessoas que passam por dificuldades.
8. A PRÁTICA DE ABENÇOAR E NÃO AMALDIÇOAR (14). É muito fácil dizer palavras ruins quando alguém nos perturba. Logo, procuramos xingar ao invés de entrega nas mãos de Deus as nossas palavras.
9. A INTERAÇÃO E A SIMPATIA COM OS QUE SOFREM (15). “Alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram”, faz parte da missão do Filho de Deus, quando esteve entre as pessoas.
10. O EXERCÍCIO DA HUMILDADE (16). Ser humilde é viver como Jesus viveu. É preciso considerar o valor que os outros têm, reconhecendo as suas virtudes, pois todos são importantes.
11. O VIVER EM PAZ COM TODAS AS PESSOAS (18). A Paz é um dos grandes temas do Reino de Deus. Faz parte do projeto de Jesus Cristo. “Se possível, quanto depender de vós...” Todo o esforço para a paz.
12. A AUSÊNCIA DE VINGANÇA (19, 20). Deus é Deus de justiça, por isso nada de vingança. A vingança é a paga do mal pelo mal.
13. TRIUNFAR SOBRE O MAL ATRAVÉS DO BEM (21).
O mal não tem mais
força que o Sumo Bem que é Deus, o nosso amigo. Onde abundou o pecado,
superabundou a graça de Deus.
________________________________________
[1] Cf. NETO, Rodolfo Gaede. A Diaconia de Jesus: uma contribuição para a fundamentação teológica da
diaconia na América Latina. São Leopoldo: Sinodal: Centro de Estudos
Bíblicos; São Paulo: Paulus Editora, pp. 9-12.
[2]
Cf. Ibid.
[3]
ROCHA, Nelson Célio de M. Igreja: Comunidade de Serviço. Monografia do Curso de Bacharel em Teologia.
Rio de Janeiro, pp. 55 ss.
[4]
Mateus 16.18-19, SBB, ERC.
[5]
ROCHA, Nelson Célio de Mesquita. Virtudes
e práticas da Igreja de Cristo. Cordeiro, RJ, 27 de novembro de 1994.
Adaptações feitas em Rio de Janeiro, 05.02.2003. O Título inicial era
“Qualidades do Caráter da Igreja”.
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