A EXPERIÊNCIA INCONTORNÁVEL
NOS REINOS DA NATUREZA
Uma breve reflexão acerca da morte para uma tomada de consciência e cuidados existenciais
A natureza da morte que não pode ser ignorada pelo ser humano, porque ele é o único que tem consciência de que irá morrer. Quando se é jovem, tal natureza não tem lugar nos pensamentos que se configuram a todo vapor, uma vez que os projetos, os próprios sentimentos e certos hábitos entorpecem as mentes, impedindo-as de haver uma percepção da experiência incontornável no mundo natural. Só mais tarde, quando alguém pode atingir a idade da madureza é que passa a refletir acerca da morte. E, quem não tem essa percepção, passa a focar na morte, deixando de viver a cada instante.
O tema da morte tem sido banalizado e recalcado na esfera biossocial. Para recalcá-la, a sociedade esconde-a. Para banalizá-la, expõe-na em quantidade abundante nos meios de comunicação de massa. Os meios de comunicação bombardeiam as mentes das pessoas com doses de insensibilidade em relação à morte, que é a experiência mais radical do ser humano.
A natureza da morte física é tratada na Bíblia com indicações instrutivas. Trata deste evento escatológico futuro de várias maneiras. Em Mateus 10:28 e Lucas 12:4, fala-se dela como morte do corpo, em distinção da morte da alma (psyche). Ali o corpo é considerado como um organismo vivo, e a psyche é evidentemente o penuma do ser humano, o elemento espiritual que constitui o princípio da sua vida natural. Este conceito de morte natural também é visto em 1 Pedro 3:14-18. Já em outras passagens é descrita como o término da psyche, isto é, da vida animal, ou como a perda desta, segundo Mateus 2:20; Marcos 3:4; Lucas 6:9, 14:26; João 12:25, 13:37, 38; Atos 15:26, 20:24, e também em outros textos bíblicos. E finalmente, é descrita como a separação de corpo e alma, conforme Eclesiastes 12:7 (comparar com Gênesis 2:7); Tiago 2:26; ideia também básica conforme João 19:30; Atos 7:59; Filipenses 1:23.
De acordo com a Bíblia, a morte física é o término da vida física pela separação de corpo e alma. Jamais uma aniquilação. Deus não aniquila coisa alguma de sua criação. A morte não é uma cessação da existência, mas uma disjunção das relações naturais da vida. A vida e a morte não são antagônicas entre si como ocorre com a existência e a não-existência, mas são mutuamente opostas como diferentes modos de existência.
A morte é o rompimento das relações naturais da vida. Ela é a experiência incontornável. A morte é o atestado de impossibilidade de prolongação dessa dinâmica de vida. Revela a fragilidade, a passividade, a impotência, o fracasso do ser humano para manter a vida. Eis o decreto universal: todos devem morrer. Não é um decreto que se manifesta apenas no instante em que o médico concede o laudo metafísico da morte. Atravessa toda a vida. Revela que a vida humana é desgastável, consumível, dissolúvel, desde o primeiro instante. Portanto, a morte é o fim da festa da natureza.
O cristão crê em Jesus, que na cruz cumpriu a lei, venceu o pecado e derrotou a morte. Contudo é preciso ter a consciência de que a vida natural passa, chega ao fim. Sendo assim, é preciso tratar a si mesmo e os semelhantes com o respeito que é devido, olhando para o exemplo de Jesus e considerando a sua obra salvífica.
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