ELOGIO À VIOLÊNCIA
Erasmo de Roterdã, um dos principais pensadores do Renascimento publicou uma obra intitulada o "Elogio da Loucura" (em latim, "Encomium Moriae"). Essa obra foi escrita em 1509 e publicada em 1511. Erasmo de Roterdã dedicou a obra a seu amigo Thomas More. O livro é considerado uma das mais influentes obras da literatura ocidental e um catalisador para a Reforma Protestante. É uma obra satírica escrita que critica a sociedade e a Igreja da época em que viveu o o seu ator, destacando a importância da loucura na condição humana.
Sobre o título em epígrafe, sugere uma reflexão acerca da violência, que surgiu no cenário da humanidade como algo amedrontador e ao mesmo tempo banal. Foi ganhando espaço e popularidade em cada época da história humana, principalmente através dos meios da mídia, dos filmes, do teatro, das novelas, dos livros, jornais escritos e falados. Hoje, também a violência é disseminada pela Inteligência Artificial (AI - "Artifical Intelligence").
Vivemos tempos em que a violência deixou de ser apenas um fato social para se tornar um valor admirado, um espetáculo que alimenta o entretenimento e um instrumento de afirmação pessoal. A brutalidade ganhou aplausos, e o sangue, que antes escandalizava, agora é consumido com naturalidade. O elogio à violência tornou-se o retrato mais fiel de uma sociedade que perdeu a sensibilidade.
A violência, antes condenada como desordem, foi sutilmente convertida em virtude. Nos esportes, a agressividade é chamada de “garra”. Na política, a retórica violenta é vista como “autenticidade”. Nas redes sociais, a humilhação alheia se disfarça de “liberdade de expressão”. Até mesmo nas relações pessoais, o domínio sobre o outro é confundido com “força de caráter”. Assim, o ser humano contemporâneo aplaude o que deveria lamentar, visto que os registro históricos já denunciaram ações horrendas. Senso assim, com os registros negativos, as pessoas deveriam ter aprendido a combater a violência e não promoverem elogios a ela.
O mais assustador é que o elogio à violência nasce do desejo de poder e do medo da fragilidade. Quando a compaixão é vista como fraqueza e o perdão como derrota, a humanidade se desumaniza. Os instrumentos de morte são exaltados como símbolos de segurança; o discurso da intolerância substitui o diálogo; e a justiça se torna vingança disfarçada de moralidade.
A violência elogiada não está apenas nas guerras ou nos crimes. Ela habita os gestos cotidianos: na indiferença ao sofrimento do outro, na exploração silenciosa, na desigualdade aceita, na omissão diante da injustiça. A sociedade aplaude o agressor porque, de algum modo, deseja ocupar o seu lugar.
Contudo, o evangelho de Cristo caminha na contramão desse elogio. Jesus não exaltou o poder da espada, mas a força do amor. Não enalteceu o domínio, mas o serviço. O Reino de Deus não se estabelece pela imposição, mas pela compaixão.
Enquanto o mundo louva a violência como expressão de coragem, o Jesus crucificado nos mostra que a verdadeira coragem está em amar em meio ao ódio, e perdoar diante da dor.
Por fim, desfaz-se o elogio à violência através de uma boa educação, do cuidado pelo próximo, da discriminação, do respeito à dignidade humana e do cuidado em nível ecológico, de modo concomitante.
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