terça-feira, 4 de novembro de 2025

BELEZA NATURAL E VIOLÊNCIA URBANA
Prof. Nelson Célio de Mesquita Rocha

O contraste do mundo que vemos é percebido todos os dias, através dos meios de comunicação, bem como visto com os próprios olhos. Não somente percebido tal contraste pela visão, mas também pelos outros sentidos naturais.
Ao amanhecer, quando o sol toca as montanhas e o vento balança as árvores, somos lembrados de que a terra ainda carrega marcas do Criador. O canto dos pássaros, o azul do céu, o perfume das flores e mesmo a chuva que cai, falam silenciosamente de um Deus que ama a beleza e a vida.
Mas, durante o dia ou ao cair da tarde, muitos desses sons são substituídos por ruídos de sirenes, disparos, gritos e medo. Nas cidades — onde o ser humano deveria manifestar sabedoria e comunhão — a violência tomou conta.
Os que exercem os governos viajam e conversam uns com os outros sobre economia, por exemplo, bem como sobre quem deve prevalecer e dar as cartas em tom político. Usam as melhores roupas e promovem grandes festas. Enquanto isso ocorre, a violência toma conta e nada se faz em favor de quem sofre.
A beleza natural e a violência urbana convivem lado a lado; duas realidades distintas competem pela vida do ser humano.
O mesmo Deus que fez as flores nascerem nos campos vê o sangue escorrer nas ruas e nas residências.
E a pergunta que ecoa é: como o mundo criado em beleza se tornou um cenário de tanta dor?
Vejamos alguns pontos desse contraste.
1. A BELEZA NATURAL QUE REVELA A GLÓRIA DE DEUS
O Salmo 19:1 declara: *“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.”
A criação é uma Bíblia aberta diante dos nossos olhos. Cada detalhe natural — o mar, o vento, o pôr do sol — nos ensina sobre o caráter de Deus. A natureza revela ordem, onde cada criatura tem seu lugar. Revela bondade, pois tudo o que Deus fez “era muito bom”. Revela cuidado, porque Deus provê sustento até aos lírios do campo (Mateus 6:28-30).
Contemplar a criação é experimentar um reflexo do próprio Criador. Sendo assim, quando a pessoa olha a natureza com gratidão, ela aprende humildade e reverência. Mas quando ele olha com ganância, ele a destroi — e destroi também sua própria alma.
2. A FEIURA QUE TEM SUA ORIGEM DO NA TRANSGRESSÃO DA LEI DO CRIADOR
O Éden era o espaço perfeito da comunhão. Mas o pecado rompeu essa harmonia — e o que era jardim se transformou em lugar de miséria. Desde então, o ser humano tenta reconstruir um paraíso sem Deus, e o resultado são as cidades cheias de ruído, poluição, violência, injustiça e medo.
A violência urbana é o grito da alma ferida. Ela nasce da desigualdade social. Cresce no terreno da indiferença e floresce na ausência de amor.
Os muros altos, as câmeras de vigilância e os portões eletrônicos mostram uma sociedade que perdeu a confiança. Vivemos cercados, mas não seguros. Habitamos juntos, mas não convivemos.
E enquanto a natureza proclama beleza, as ruas denunciam a dor. A cidade moderna reflete a desfiguração moral do ser humano, que trocou o Criador por suas próprias obras. Desta maneira, quando o ser humano se afasta de Deus, ele destroi a beleza que o cerca e se torna parte da feiura que criou.
3. A CIDADE QUE DEUS DESEJA
Deus, no entanto, não desistiu da cidade. Em Apocalipse 21, João vê a Nova Jerusalém, a cidade santa, descendo do céu, adornada como uma noiva. Ali, não haverá lágrimas, nem morte, nem violência. Deus sonha com uma cidade restaurada — e Ele convida a Igreja a ser sinal desse Reino no presente.
Não adianta relembrar ano após ano a história de uma Reforma Religiosa do Século 16, se não observamos que somos chamados a plantar beleza onde há lixo moral. A semear paz onde há ódio. A reconstruir relacionamentos destruídos pela violência.
A Igreja deve ser um jardim no meio do concreto, um refúgio no meio do caos urbano, e um anúncio da beleza divina no coração da cidade. Mas, com tantas denominações em suas atividades individualistas, como proporcionar um contexto de refúgio?
4. O CHAMADO À RESTAURAÇÃO
Jesus é o maior exemplo dessa restauração. Ele caminhou nas ruas empoeiradas, tocou os feridos, acolheu os excluídos e trouxe paz onde havia guerra interior. Na cruz — o maior símbolo de violência — Jesus revelou o maior ato de amor. O madeiro ensanguentado se transformou em ponte para a beleza eterna.
Hoje, Ele continua chamando: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9). Ser pacificador é mais do que não fazer guerra — é construir a paz onde há destruição. É olhar para a cidade e enxergar o que ela pode ser nas mãos de Deus.
Para concluir. Vivemos entre dois cenários: o jardim que Deus criou e a cidade que a humanidade corrompeu. Mas Deus quer que sejamos pontes — pessoas que levam o perfume do jardim para dentro da cidade.
Enquanto o mundo exalta a violência, o cristão proclama a esperança. Enquanto o pecado destroi a beleza, o Evangelho a restaura. As sirenes se calarão. As lágrimas cessarão. E a cidade de Deus brilhará em perfeita paz. Deus diz: “Eis que faço novas todas as coisas.” — Apocalipse 21:5

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